O que estão falando sobre o Metaverso?

Orbit Data Science divulgou um retrato das particularidades e diferenças das discussões em cada país sobre o fenômeno

No período de julho de 2021 a julho de 2022, grande parte do debate sobre o metaverso, no Reino Unido, se concentrou na discussão sobre assédio sexual, com 32,2% do total dos pesquisados. Enquanto nos EUA, a prioridade das conversas se dividiu entre ‘Entendimento’ (com 31,5% das opiniões), que compreende opiniões sobre o que é Metaverso e suas funcionalidades, e também ‘Facebook’ (13,9%), com opiniões sobre a empresa de Mark Zuckerberg. Já no Brasil, a categoria ‘Assédio’ teve somente 1,42% das opiniões, e as demais foram distribuídas principalmente entre ‘Entendimento’ do Metaverso (37,8% do total) e ‘Expectativa’ com relação a nova tecnologia (17%).

Os dados fazem parte de relatório divulgado pela startup Orbit Data Science, que analisou o que usuários do Twitter, Facebook e Instagram falaram sobre Metaverso no período. Foram analisados 3.157 comentários ou em postagens sobre Metaverso, sendo 1.053 menções de brasileiros, 1.066 menções de usuários dos Estados Unidos e 1.056 de usuários do Reino Unido. Foram descobertas 239 tipos de opiniões, divididas em 17 categorias.

Ao justificar o estudo, nota da empresa afirma que “no fim de outubro de 2021, o Facebook anunciou que sua empresa controladora teria um novo nome: Meta. A mudança veio em consonância com a tendência de crescimento do Metaverso, um ambiente virtual, hiper-realista e imersivo que é uma das grandes apostas do mercado de tecnologia no mundo. No Brasil, o anúncio estimulou as conversas sobre Metaverso, principalmente nas redes sociais. E nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que se falou sobre Metaverso? Quais as diferenças de percepção sobre o mesmo fenômeno? As conversas nos diferentes países sobre o mesmo assunto têm sim suas particularidades e levam em conta o contexto de cada país. Pode-se dizer que há um mesmo assunto conectando os diálogos, mas em diferentes debates”.

Algumas conclusões

A partir de todas as análises desenvolvidas, considera a nota da startup, fica claro que o tema Metaverso está em alta. Seja no Brasil, Estados Unidos ou Reino Unido, existe uma discussão sobre o Metaverso, suas possibilidades, impactos, desafios e expectativas. “É possível concluir também que, apesar de compartilharem muitas opiniões, as diferentes conjunturas nacionais levam a diferentes reflexões. No Brasil ainda discute-se problemas estruturais que podem impedir o acesso ao Metaverso, enquanto no Reino Unido já se discute pertinência de crimes cometidos em um ambiente virtual”.

Contudo, registra a sondagem, é comum a todos os países a atenção a alguns pontos-chave: Negócios, Sociedade e Assédio. Se por um lado o ambiente virtual é visto como possível impulsionador e gerador de novos negócios, por outro já se discute a possibilidade dele ser usado como recurso para lavagem de dinheiro. Da mesma maneira, se já se fala sobre os benefícios que podem ser gerados pelo avanço da tecnologia, também já há temor sobre seus possíveis impactos negativos.

‘Infraestrutura’, ‘Entendimento’ e ‘Contato real’

De acordo com o relatório, usuários questionaram a viabilidade de infraestrutura e equipamentos para se implementar o Metaverso. Alguns lembraram dos valores altos dos óculos de realidade virtual e também da necessidade de uma boa conectividade de internet. Entre brasileiros, a ocorrência de opiniões da categoria ‘Acesso ao Metaverso’ foi mais que o dobro das ocorrências somadas dos EUA e do Reino Unido (30 opiniões de brasileiros contra 13 de americanos e britânicos). Alguns exemplos de comentários do Brasil: “a grande maioria não tem PC. Essa realidade no Brasil é utópica, já que falta comida na mesa” e também “a internet em São Luís está horrível, não dá nem para navegar o básico. Uma das principais capitais do Brasil. Aí vem falar de metaverso, mermão eu não tô lendo e-mail em pleno 2022”.

“É possível que a conversa sobre infraestrutura para promoção do Metaverso já esteja ultrapassada em países desenvolvidos como Estados Unidos e Inglaterra, os quais estão entre as principais economias do planeta. Enquanto no Brasil, país em desenvolvimento, ainda se discute implementação da internet 5G e neutralidade da rede em dimensões continentais de acordo com sua geografia”, aponta o levantamento..

Por sua vez, na categoria Entendimento foram encontradas percepções dos usuários sobre o Metaverso, além de experiências e familiaridade com o assunto. As opiniões mais recorrentes foram de usuários que afirmaram não gostar da ideia de Metaverso, nem de um mundo virtual ou ainda de não quererem participar desse ambiente. De todas as opiniões sobre ‘Entendimento’ coletadas no estudo, 46% foram de pessoas que de alguma forma reprovaram a ideia de Metaverso.

Os americanos foram os que mais demonstraram aversão ao Metaverso, com 17% de todas as opiniões contrárias. Entre as opiniões mais contundentes estão ‘Não vou participar do Metaverso’ e ‘Não gosto da ideia de um mundo virtual’. Já os brasileiros demonstraram em 13% das ocorrências um desacordo à plataforma e os britânicos apenas 8% de opiniões contrária à ideia do Metaverso. Exemplos de comentários dos EUA: “the world must about to turn into complete crap if people would rather live life in the metaverse” e “I don´t trust this (Metaverse)”.

Também houve menção à limitação do mundo virtual (Metaverso) de reproduzir a realidade. Cerca de 7% da categoria “Entendimento” afirmaram ‘Metaverso não consegue reproduzir toda a realidade’ ou ‘Contato real é necessário’. Enquanto, em relação ao desconhecimento sobre o que é Metaverso, os brasileiros foram os que mais afirmaram não saber bem o que é esse ambiente virtual, com 67% das opiniões que assumiram desconhecimento sobre Metaverso. Como neste caso: “Queria até hoje entender esse lance de Metaverso … Eu já assisti vídeo, li e não entendi muito bem. E principalmente qual o intuito”. 

O universo dos games também foi bastante associado ao Metaverso, seja comparando a outros jogos, comentando sobre a interface gráfica ou assimilando experiências entre as plataformas. As associações de Metaverso mais encontradas neste estudo foram ao jogo The Sims, com 25% de todas comparações a games e, depois, à plataforma Second Life (com 23%).

Nesse sentido também apareceram expectativas e ansiedade pela inovação. As opiniões da categoria ‘Expectativas’ se referiram ao que esperar do futuro com as aplicações do Metaverso. ‘Estou animado com as possibilidades do Metaverso’ foi a opinião mais comum com 34% das expectativas. Os brasileiros foram os que mais se mostraram entusiasmados com as possibilidades do Metaverso, com 42% das ocorrências nesse sentido, seguidos dos americanos com 38%. Um brasileiro mencionou “Já estou me preparando para garantir o beta-teste do metaverso”.

Por outro lado, também houve descrença com o Metaverso. Cerca de 13% das expectativas foram de que “Metaverso não vai ter sucesso”. Os brasileiros novamente encabeçaram as ocorrências da opinião nesse sentido, com 62% delas. Um exemplo encontrado foi esse: “Sabe aquele negócio que já nasceu fracassado? Apenas uma outra versão do naufragado Second Life?”

‘Sociedade’, ‘Assédio’ e ‘Negócios’

As três categorias acima tiveram destaques consideráveis. Em ‘Sociedade’, o estudo indica, principalmente, opiniões com viés pessimista, às vezes até apocalíptico, em que se apresentaram as implicações do Metaverso no âmbito da sociedade, como ‘Metaverso é não é bom para a humanidade’ e também no sentido de que Metaverso é uma distopia. A opinião mais recorrente foi a que afirmou que o ‘Metaverso reproduz os problemas da sociedade’. Os britânicos foram os que mais emitiram opiniões nesse sentido, com 43% delas, seguidos pelos brasileiros com 32%.

Foi observada também a opinião de que ‘deveríamos usar tecnologia para coisas mais úteis’, uma insinuação de que há problemas prioritários antes de se desenvolver esse tipo de plataforma. Metade deste tipo de opinião foi emitida por usuários brasileiros, como nesse caso: “temos tantos problemas reais, aí os caras criam algo virtual, pra gerar mais problemas”.

“Como já apontado anteriormente, há a percepção de que problemas da sociedade podem ser reproduzidos no Metaverso, como o assédio. Isso porque muitas notícias sobre esse tipo de importunação no Metaverso foram comentadas por usuários do Brasil, Estados Unidos e Reino Unido. No entanto, 86% de todas as opiniões sobre ‘Assédio’ vieram de britânicos”.

De todas as opiniões sobre assédio, 30% criticaram os casos ocorridos no Metaverso, por exemplo, esse comentário de usuário do Brasil: “‘as mulheres não têm um minuto de paz….nem no metaverso”. Entretanto, 53% de todas as opiniões sobre assédio minimizaram os casos, seja ironizando, negando ou alegando que era só a usuária se desconectar para evitar o assédio.

Foram detectadas variações nas opiniões quanto aos negócios gerados pelo Metaverso. Em tom otimista, a opinião mais frequente entre usuários é a de que o “Metaverso vai impulsionar alguns negócios”, com 18% das opiniões sobre negócios. Os brasileiros foram os que mais apostaram que o Metaverso vai impulsionar o mercado com mais da metade das ocorrências. Um exemplo: “Os streamings enfrentam dificuldades de criar novas fontes de receitas. O metaverso pode ser uma alternativa de novos negócios e novos públicos, deixando o empreendimento mais sustentável”.

Já em tom pessimista, usuários criticaram, de modo genérico, principalmente as empresas que promovem o Metaverso. Os americanos foram os que mais criticaram, com 18 ocorrências. Usuários também comentaram várias notícias relacionadas à comercialização de terrenos virtuais, o que gerou conversas variadas a respeito do assunto. Os brasileiros foram os que mais afirmaram que comprar terrenos é burrice, com 27% das opiniões nesse sentido. Comentários de brasileiros foram o seguinte: “não imaginava que existia pessoas tão inteligentes a ponto de comprar esses ‘imóveis'” e “Tem otário pra tudo”. Principalmente no Brasil, mas também no Reino Unido, a compra e venda de terrenos é apontada como especulação e lavagem de dinheiro. Isso mostra que existe a noção e o medo de que as transações virtuais, com pouco lastro concreto, sejam uma grande bolha de especulação.

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