A sensação é de que vivemos em um “mundo invertido” – e não somente na questão do saneamento
Autora: Daniela Pinho
Você saberia me dizer o que a série Stranger Things, a empresa Dengo Chocolates e a área de saneamento têm em comum? Aparentemente nada. No entanto, vejo semelhanças e ensinamentos. Começo aqui esclarecendo que essa correlação veio de uma inspiração do coração. O que me deixa muito orgulhosa, pois mostra que já estou conseguindo viver em um outro estágio de consciência — super necessário para voltarmos ao nosso “mundo original”, como irei explicar a seguir.
Stranger Things
Não quero dar spoiler sobre a série ou me aventurar a tecer comentários mais profundos. Minha reflexão começa sobre o “mundo invertido” (upside down): uma dimensão alternativa existente em paralelo ao mundo humano, onde há um lado negro da realidade habitada por vários monstros. Ao longo dos episódios, a heroína vai descobrindo seus poderes e aprendendo a controlar suas emoções para conseguir ajudar seus amigos a combater os monstros e fechar o portal para o “mundo invertido”.
Dengo Chocolates
Na semana passada, tive a oportunidade de conhecer e viver de perto o case da Dengo. Visitei a empresa e alguns de seus produtores e fornecedores de cacau em Ilhéus. Foi fascinante aprender que a companhia, na verdade, é um lindo projeto de impacto de revitalização econômica, social e ambiental do sul da Bahia. A produção de chocolate é uma ferramenta para isso. Com esse direcionamento, abrange uma iniciativa de todo o ecossistema, envolvendo e reconhecendo a interdependência das várias partes interessadas.
Essa vivência me tocou e inspirou. Foi aí que a ideia do upside down começou a martelar a minha cabeça. Isso porque pude sentir a energia transformadora de um negócio quando seu propósito é, de fato, o motivo de sua existência. Por outro lado, também percebi que somente isso não é suficiente se não houver lideranças inspiradoras e corajosas para romper o status quo do “business as usual”.
Mas e o saneamento, o que tem a ver com tudo isso?
Minha sensação é de que vivemos no “mundo invertido” (aliás, não somente no saneamento). Estamos na dimensão escura, onde a maioria somente pensa em seus próprios interesses, sem colocar o real propósito no centro das transformações de que precisamos: contribuir para o desenvolvimento humano e conservar a natureza para as gerações futuras.
Há uma total falta de cooperação entre todos os envolvidos relevantes. Não há uma busca de construção de parcerias corajosas que quebre a dinâmica usual de se fazer negócios. E isso faz com que não consigamos mudar a triste realidade que assola nosso país.
O saneamento precisa de mais humanidade. Precisa seguir o exemplo de empresas inspiradoras como a Dengo — que saiu do “mundo invertido” e voltou ao “mundo original”, onde existe a consciência profunda de que nós somos parte da natureza, tudo está relacionado e interligado. E mais: depende de nós lutarmos pela nossa sobrevivência.
Termino com a esperança de que surgirão líderes e protagonistas que irão descobrir seus superpoderes e aprender a controlar suas emoções (seus egos e interesses próprios). E, assim, nos tirar do “mundo invertido” do saneamento e nos levar ao “mundo original”. Para isso, com certeza, a cooperação será um passo decisivo.
Daniela Pinho é sócia-fundadora da Cristalina Saneamento.