Os consumidores não reagem da mesma forma perante a crise. Na realidade, diferentes segmentos de consumidores, independente da classe social, reagem de maneiras distintas em momentos de retração da economia, sinalizando o que o sociólogo Zygmund Bauman descreve como conceito de sociedade individualizada. O que parece contraditório revela, na verdade, que a crise é vivenciada de maneira distinta dentro dessa sociedade individualizada. Com essa premissa, o executivo Paulo Secches, presidente da Officina Sophia, conduziu a pesquisa “Oportunidades de Mercado em Momentos de Crise”, para identificar drives e atitudes de consumo no Brasil.
As informações coletadas e analisadas pela equipe da Officina Sophia sinalizam que as empresas em momentos de crise muitas vezes direcionam escassos recursos de marketing e comunicação de forma equivocada, com uma abordagem centrada em oferta promocional a consumidores com perfis diferentes dos que se quer atingir. Na prática, os investimentos não apresentam resultado positivo, pois elegem como alvo aqueles que não estão dispostos a comprar.
Já os indivíduos/consumidores estão formando pequenos grupos por afinidade e usando a web para achar seus pares – o que provoca um intenso e rápido processo de transformação da sociedade atual. Essa reação à crise caracteriza-se por não ser massificada, já que esses indivíduos manifestam desejos particulares por produtos e serviços específicos, alinhados a perfis de consumo particulares.
Com isso, a pesquisa revela que o grande desafio é compreender os diferentes perfis na sociedade individualizada, para repensar a estratégia de ação mercadológica, identificando quais são as pessoas com quem queremos falar, qual a comunicação mais adequada aos diferentes perfis de consumidores, como atendê-los de forma cada vez mais customizada e individualizada e que estímulo tático utilizar para conquistá-los até em momentos de crise.
A pesquisa foi realizada com 500 pessoas (homens e mulheres), das classes A, B, C e D, idade entre 18 e 65 anos, moradores da Grande São Paulo. Nela foram identificados os perfis:
A vida é bela… hoje (26%)
– Disposto a pagar mais por produtos de marcas ou modelos exclusivos;
– compra mesmo se não tiver planejado;
– prefere qualidade à quantidade;
– é propenso a fazer dívidas;
– quando está sem dinheiro não muda sua rotina de consumo, prefere solicitar empréstimos;
– acredita que com dinheiro passa a ser mais amado e querido por todos;
– vive o hoje sem se preocupar com o amanhã.
A vida sob controle (14%)
– Dinheiro vem com muito trabalho e disciplina;
– dinheiro é a condição básica para se sentir seguro;
– prefere comprar produtos em ofertas e promoções;
– é uma pessoa cautelosa ao comprar;
– entre a segurança financeira hoje ou no futuro, prefere o hoje;
– só faz dívidas se tiver certeza de que vai poder pagá-las.
Ops! Cuidado (22%)
– Pessoa sempre muito otimista em relação à vida;
– acredita que nos próximos anos a vida estará melhor do que hoje;
– dinheiro é a condição básica para se sentir seguro e melhor lidar com a vida;
– quando investe ou poupa prefere investimentos mais seguros;
– prefere comprar produtos em ofertas e promoções com descontos especiais;
– troca marcas conhecidas e mais famosas por marcas mais baratas.
Oh céus, oh vida (28%)
– Não é uma pessoa otimista;
– não é uma pessoa muito preocupada com o futuro;
– não acha que o dinheiro traz felicidade;
– faz dívidas mesmo sem ter certeza de que pode pagar;
– o fato de estar em uma situação mais “apertada” de dinheiro não significa que vou economizar em tudo.
Utilitarista (10%)
– Só contrai dívidas se tiver certeza;
– não consegue conviver com dívidas e só compra se puder pagar a vista;
– quando está com menos dinheiro começa a economizar: corta supérfluos e passa a comprar apenas o essencial;
– é sempre otimista em relação à vida e acredita que nos próximos cinco anos a vida estará melhor;
– é muito preocupado com o futuro;
– é uma pessoa cautelosa ao comprar.