Autor: Marcos Ablas
O setor de utilities, em especial o de energia, passa por um momento crucial, em que há uma vasta possibilidade de transformação causada pela tecnologia e por inúmeras demandas da sociedade. Com isso, parece inevitável que as geradoras, transmissoras e, principalmente, as distribuidoras de energia busquem entregar serviços com qualidade cada vez melhor.
Criadas para fornecer serviços básicos e de primeira necessidade aos cidadãos, as empresas do setor possuem modelos regulatórios, geografias e políticas de concessão específicas. No entanto, o estímulo criado pelo consumidor do século XXI – conectado, exigente, eletro-dependente e com enormes expectativas por um atendimento ágil e eficiente – impulsiona critérios mais rigorosos de controle no fornecimento. Economistas diriam que é a mão-invisível do mercado demandando suprimento de energia, água e gás com maior confiabilidade, a um valor adequado e com mais responsabilidade ambiental.
Diante desse cenário, as companhias precisam buscar formas de oferecer um serviço melhor, que atenda a essas expectativas. Algumas indústrias e grandes cidades já se movimentam para gerar a própria energia por meio de turbinas a gás ou a óleo – a chamada Geração Distribuída.
Na Alemanha, por exemplo, existem atualmente 140 vilas de bioenergia em operação – geração por biomassa e metano -, além de 888 cooperativas de energia (43% solar), que atendem a 160 mil famílias. É a economia compartilhada chegando ao setor elétrico. Claro que essa transformação ocorre a passos lentos, pois não temos no Brasil um conjunto de reformas ambiciosas para transição energética, como ocorreu na Alemanha. Mesmo assim, essas ações já estão em curso e levam um desafio enorme para as distribuidoras, que terão que gerenciar a rede elétrica futura – com maior flutuação de demanda, incertezas e injeções esporádicas de energia.
Para superar esse desafio, existem diversas questões que precisam ser resolvidas e praticamente todas passam por planejamento e investimento em redes mais inteligentes. A junção de sistemas de energia (água ou gás), com a comunicação de dados em tempo real e a captação e análise de informações estratégicas formam a equação perfeita para a transição tecnológica do setor.
A Internet das Coisas (IOT), por exemplo, pode ajudar na coordenação entre os diversos players do setor – agregadores, geradores, pequenas unidades consumidoras e armazenadores de energia. Essa tecnologia garantirá a captação de informações úteis, o processamento delas em tempo real e a aplicação de inteligência na geração de energia, viabilizando negócios em menor escala.
No entanto, mais do que permitir a criação de pequenos negócios no setor, a digitalização impactará também modelos de comercialização de energia. Recentemente, surgiram modalidades de negócio que desafiam os reguladores, como a utilização do blockchain em comunidades de compartilhamento de energia solar em Nova Iorque, para garantir o pagamento da quantidade usada por cada residência sem que seja necessário um intermediário para controlar.
Todos esses movimentos do mercado comprovam que a economia compartilhada veio para ficar e, mais do que nunca, os clientes terão força para desafiar setores tradicionais, como o de utilities. Independentemente de qual for o principal motivador da mudança, o importante é que essa transformação está chegando ao Brasil.
Marcos Ablas é gerente de consultoria da PromonLogicalis