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Síndrome da falsa modéstia

Autor: Paulo Pandjiarjian

Eu já fiz coisas extraordinárias e me orgulho delas. Uma das mais recentes é ter sido selecionado – entre outros – como Pesquisador da Cátedra Otavio Frias Filho em Estudos de Comunicação, Democracia e Diversidade do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) da Universidade de São Paulo. A cátedra, uma parceria do IEA-USP com o jornal Folha de S. Paulo, lançada em fevereiro deste ano, quando o jornal completou 100 anos de existência, é uma espécie de centro de pesquisa, com autonomia de gestão e definição de ações, além de estrutura e funcionamento próprios.

Sob a liderança do Titular, o jornalista, sociólogo e tradutor Muniz Sodré, a pesquisa versará sobre o tema “Ser Brasileiro Hoje: Diversidade e Democracia”.

O coordenador será o responsável pela organização de um livro com artigos dos pesquisadores sobre os temas da cátedra.

Tenho certeza de que você, leitor deste artigo, também as fez e, espero, se orgulhe da mesma forma. Então, por que não nos ufanamos, pelo menos um pouco, pelos objetivos que atingimos? Uma graduação ou pós-graduação concluída, um projeto importante terminado, um prêmio recebido são fatos que, por si só, mereceriam esse destaque. 

Só que a vida corrida que levamos, como dizem, matando um leão por dia, mal nos permite abrir um champagne, pendurar um quadro na parede do escritório – não vale pendurar tantos quadros que mal se veja o papel de parede – ou respirar um pouco e simplesmente experimentar o sabor da vitória em paz e plena calma.

Fomos transformados em seres instagramáveis, ambiente em que somos desafiados a postar um sucesso ainda maior que o do dia anterior. Vida de aparências, diriam uns. Fake news, acusariam outros. O compartilhamento de algo verdadeiramente positivo, de forma adequada, é a expressão do contentamento interior por um sucesso ou objetivo alcançado e não deveria ser tão duramente criticado.

Outras culturas, como a americana, entendem que o sucesso é divulgar quantos zeros depois da vírgula se ganha anualmente. A cultura brasileira se ressente disso e sente até um pouco de vergonha em demonstrar o sucesso pessoal, haja vista o sofrimento e dificuldades de tantos num país tão desigual quanto o nosso.

Shirzad Chamine, autor do livro Inteligência Positiva, um dos livros mais vendidos do New York Times, afirmaria que um dos maiores responsáveis seria o sabotador crítico, um dos dez existentes em nossas mentes e que sabota nossas atitudes e pensamentos a caminho do sucesso perene. E que o sábio seria a parte mais profunda e inteligente de você mesmo, que deveria aflorar sempre que um desses sabotadores tentasse atrapalhar o seu caminho.

Advogo que tudo isso poderia ser resumido no conceito da Síndrome da Falsa Modéstia, que deveria ser banido de nosso pensamento. Já disse Caetano Veloso, em sua música Dom de Iludir que “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E só quem atingiu um grande feito sabe saborear a delícia da vitória, mas sabe que todas as dores de seus sacrifícios é que construíram aquele caminho. Então, me pergunto, por que não comemorar? 

Paulo Pandjiarjian é diretor-geral da Pan Brasil Comunicação Empresarial.

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