Autor: Alcides Leite
A melhora da renda disponível da população em 2007 é uma ótima notícia. Tal resultado positivo tem alguns fatores determinantes, como a queda do índice de desemprego, o crescimento real do rendimento médio do trabalhador, a queda das taxas de juros para empréstimos e financiamento e a extensão do prazo médio de financiamento. Essa melhora permitiu a expansão do volume de crédito e do consumo sem grandes impactos no nível de inadimplência do consumidor. Mesmo que o nível de inadimplência não tenha crescido significativamente, a sua composição vem mudando bastante nos últimos anos.
O aumento do uso de meios eletrônicos de pagamento e dos empréstimos pessoais nos bancos vem reduzindo a participação das emissões e da inadimplência dos cheques no mercado. Atualmente, os atrasos nos empréstimos bancários respondem por cerca de 40% do volume geral de inadimplência, os atrasos nas operações com meios eletrônicos como os cartões contribuem com algo em torno de 30%, os cheques sem fundos são responsáveis por 27% e os títulos protestados respondem por cerca de 3%.
Para o mês de dezembro, a tendência é que a inadimplência total apresente queda. O ingresso de cerca de R$ 64 bilhões provenientes do 13º salário e a disposição da maioria dos consumidores a destinar uma parcela significante desse abono para a quitação de dívidas em atraso responderá por grande parte da queda da inadimplência. Porém, após as compras de Natal, as despesas com as festas de fim de ano, IPVA, IPTU, uniforme e material escolar, além de despesas de lazer nas férias de janeiro são fatores que contribuem para que a inadimplência volte a crescer.
O histórico do comportamento do índice de inadimplência registrou um aumento significativo nos meses de março, abril e maio dos últimos anos. Embora esse incremento seja reincidente, espera-se para 2008 os índices sejam menores do que em anos anteriores. Setorialmente, a inadimplência nos empréstimos, financiamentos bancários e com cartão de crédito/débito continuará crescendo proporcionalmente àquela registrada com cheques emitidos.
O crescimento do nível de endividamento da população sem o correspondente aumento do índice de inadimplência foi uma tendência ocorrida nos países desenvolvidos ao longo da última década. Isto foi possível graças ao desenvolvimento de mecanismos mais apurados de controle na concessão de crédito. No Brasil, essa tendência está apenas começando. O volume de crédito em relação ao PIB nacional ainda é muito menor do que em outros países com renda média igual ou superior à nossa.
A internacionalização do mercado de crédito brasileiro também contribuirá para o barateamento do custo do endividamento familiar. Nosso sistema de concessão de crédito é ainda muito restrito às fronteiras internas. Outro fator que impulsionará a queda do valor do crédito é a entrada em vigor do Cadastro Positivo, que permitirá saber quem são os bons e os maus pagadores. Para os bons pagadores, que são maioria, os custos financeiros deverão cair significativamente.
Apesar da crise de crédito nos Estados Unidos e dos impactos que ela trará para o crescimento da economia americana e mundial, os principais analistas acreditam que a economia brasileira será pouco afetada. O preço das commodities agrícolas e minerais e os investimentos estrangeiros diretos no Brasil continuarão em alta, permitindo que a economia doméstica consiga passar pela crise americana sem grandes impactos negativos. Com a projeção do PIB brasileiro na casa dos 5% nos próximos anos e a inflação sob controle será possível continuar a trajetória moderada de queda nas taxas de juros e, conseqüentemente, continuar com a expansão do mercado de crédito no Brasil.
Com base nesses dados, 2008 apresenta-se com grandes oportunidades para o crédito no País. Para que esse crescimento seja sustentado, é fundamental ter cautela, porém, sem perder o otimismo.
Alcides Leite é especialista em políticas públicas e gestão governamental, além de professor do Centro de Conhecimento Equifax.