Autor: Enio Klein
Sou baby boomer, quer dizer, da geração que veio logo após a 2ª guerra mundial. A que nasceu quase junto com a televisão? Esta mesma. A geração que começou a trabalhar com o telex e sem computador pessoal. Alguém ainda lembra o que é uma máquina de telex? Pois é, era a alternativa da carta em papel, escrita quando muito em uma máquina elétrica e enviada pelo correio. Isso, correio postal. Não muito antes de vermos o fax transmitir essas cartas eletronicamente, matando o telex, não muito antes do computador pessoal, da internet e, agora, do smartphone e da computação em nuvem que nos transformou a todos em conectados, móveis e sociais.
Passamos por diversas transformações analógicas e digitais – algumas disruptivas – ao longo de, pelo menos, seis décadas. As empresas que cresceram, mudaram suas formas de fazer negócio. Outras, mais resistentes, sucumbiram pelo caminho. Lembro de uma frase interessante que ouvi quando trabalhava em uma das empresas de TI mais importantes do mundo: “e-business ou no-business” quando se referiam à transformação trazida pela internet ao ambiente de negócios. Ou seja, a transformação digital (!?) não só era necessária, mas vital.
Os negócios passaram a ser feitos utilizando a plataforma na web. O mundo do “e -something” tomou conta do ambiente corporativo. E assim vieram o e-commerce, e-procurement, e-banking e outros. Temo dizer para aqueles que afirmam que um novo mundo de inovações está vindo por aí com o hype mais famoso da atualidade, a “digital transformation”, ou transformação digital, que ele não começou a ser construído agora, mas pelo menos há duas décadas.
A verdadeira inovação, ou, neste caso, o grande insight, não veio exatamente da revolução tecnológica dos últimos anos. Não veio das redes sociais, ou dos apps ou bots. Da nuvem, do BigData ou Block chain. Veio dos empreendedores que perceberam que os modelos de negócio precisavam mudar; que não basta entender muito do negócio que se dispõem a desenvolver. Isso agora é padrão. É preciso fazer melhor. Mais rápido, mais fácil e mais barato. Entenderam que a tecnologia precisava ser usada para isso. E assim fizeram.
A boa experiência do cliente é fundamental, assim como usar a tecnologia disponível de forma a tornar o negócio rentável, competitivo, resiliente a mudanças e atrativo para o uso. User Experience e o uso da tecnologia estão transformando os negócios mais uma vez. A transformação digital não é muito mais do que isso: tecnologia como plataforma de suporte e operação dos seus negócios, apoiando a promover uma ótima experiência do cliente.
Gosto de uma analogia para tentar desmistificar certos conceitos. O Uber é um ícone da transformação digital hoje, não é mesmo? Isto não quer dizer que o será daqui a uma década. Precisará ser resiliente o suficiente para absorver as mudanças tecnológicas e do mercado para manter a ótima experiência do cliente que possui. Nem tão digital, alguém lembra de uma transformação no transporte individual, décadas atrás, com o rádio taxi? Alguém duvida que o Uber de hoje é uma evolução do modelo do rádio taxi, transformado digitalmente? Pensem no rádio PX, a tecnologia usada na época como o aplicativo de hoje. O negócio é o mesmo. O que mudou? A tecnologia e a experiência do cliente. O rádio taxi não evoluiu no modelo e praticamente morreu, pois a experiência anterior não era mais aceita pelo cliente.
E o que é necessário para você, empresário ou executivo de empresas de qualquer tamanho repensarem seus modelos de negócio considerando esta mesma ideia? Não muito. A tecnologia está aí, e é claro que ela vai evoluir cada vez de forma mais dramática. E você terá que pensar em mudar com ciclos cada vez mais curtos, se quiser sobreviver. Você não precisa desenvolver tecnologia. Ela está disponível, basta procurar aquela ou aquelas que melhor são adequadas ao que você faz, e com maior capacidade de mudar junto com você e com o mercado. Use-a da melhor forma e aprenda a crescer com ela. Pense no seu cliente, no que ele quer, no que ele precisa e como ele gostaria de receber seus serviços e seus produtos. Desenvolva seu negócio em torno deste binômio, e você estará se transformando digitalmente. Tão simples quanto isso.
Enio Klein é CEO e General Partner da Doxa Advisers, professor nas disciplinas de vendas e marketing da Business School São Paulo e coach pessoal e profissional pela International Association of Coaching – IAC/SLAC.