A revolução dos pagamentos está apenas começando e a América Latina pode se destacar nessa transformação
Autora: Rose Del Col
Estamos vivendo uma revolução no mercado global, impulsionada pelo crescimento do comércio cross-border, que se tornou mais acessível graças à ascensão de fintechs, que facilitam as transações de pagamento e asseguram o cumprimento das regulamentações internacionais. Ao mesmo tempo, os consumidores contam com um número crescente de meios de pagamento alternativos ao cartão, como os Real Time Payments (pagamentos instantâneos ou “RTP”), que vêm impulsionando ainda mais o comércio transfronteiriço. Segundo um relatório da consultoria britânica GlobalData, a previsão é que, até 2027, as transações em tempo real representem 27,8% de todos os pagamentos globais, ultrapassando a marca de 510 bilhões de operações.
O Pix é um exemplo de pagamento instantâneo que já está disponível em diversas lojas online e marketplaces estrangeiros, ao mesmo tempo que vemos mais RTPs estrangeiros em e-commerces mundo afora. O meio de pagamento UPI, da Índia, por exemplo, é o que mais se assemelha ao Pix em termos de infraestrutura, usabilidade aberta e ampla adesão. Mas outros exemplos populares incluem o Bizum, da Espanha, que já é utilizado por 36% da população para pagamentos eletrônicos, segundo o Banco da Espanha; e o PromptPay, da Tailândia, que registrou aproximadamente 2,136 bilhões de transações em novembro de 2024, com mais de 70% da população tailandesa utilizando esse meio de pagamento, conforme dados do Banco da Tailândia.
A Tailândia, inclusive, integra a plataforma Nexus, do BIS (Banco de Compensações Internacionais), que visa impulsionar ainda mais o mercado cross border ao conectar métodos de pagamentos instantâneos de diferentes países e permitir transações financeiras entre eles. Além da Tailândia, participam do projeto Cingapura, Índia, Malásia e Filipinas. Caso a iniciativa se consolide, a plataforma poderá ser expandida para mais países de outras regiões. O Banco Central do Brasil já dialoga com países vizinhos da América Latina para fomentar esse tipo de integração na região e, quem sabe, no futuro, fazer parte da plataforma.
A região latino-americana, aliás, já conta com soluções de pagamentos instantâneos que antecedem o Pix, como o SPEI, do México, lançado em 2004. Apesar de ser um irmão mais velho do Pix, a adoção para o e-commerce só ocorreu com o lançamento do CoDi que possibilitou pagamentos via QR Code. O SPEI ainda está longe de ter a popularidade e a mesma usabilidade do Pix, mas vem ganhando usuários. Para se ter uma ideia, em todo o ano de 2023, foram realizadas 3,63 bilhões de operações via SPEI — um crescimento de 39% em relação a 2022, segundo a Condusef (agência de regulação financeira do México). Já na Colômbia, o Banco de la República está desenvolvendo o Bre-B, sistema que permitirá transferências em menos de 20 segundos, também disponíveis 24/7, com lançamento previsto ainda para este ano de 2025.
Com a ascensão dos pagamentos em tempo real e uma possível integração financeira mais ampla entre países, o comércio cross-border tende a se tornar cada vez mais eficiente, acessível e seguro para os consumidores finais. Quando pensamos na América Latina, há boas oportunidades, devido a proximidade geográfica, que estimulam indústrias, como a do turismo, por exemplo, semelhanças culturais e até de idioma. A revolução dos pagamentos está apenas começando — e a América Latina pode se destacar nessa transformação.
Rose Del Col é diretora conselheira da Unlimit Brasil.