Em uma era digitalizada, os consumidores brasileiros 50+ são altamente conectados e digitalmente competentes
Autora: Tamara Lorenzoni
No Brasil, a população com 50 anos ou mais é hoje expressiva e cresce rápido: estima-se que alcance 60,6 milhões em 2025, ante 59,1 milhões em 2024 (cerca de 27,7% da população) e chegando a 42,3% em 2050 (Veja, 2025). Esse segmento concentra elevado poder aquisitivo: segundo pesquisa, 78% dos brasileiros mais ricos têm mais de 50 anos, e a renda média pessoal dos 60+ é 57% maior que a média nacional de acordo com a Kantar. Além disso, 70% dos 50+ mantêm-se financeiramente pelos próprios rendimentos, gerando grande autonomia econômica. Essa massa demográfica sólida sustenta a chamada economia prateada, hoje movimentando cerca de R$ 1,6 trilhão/ano no Brasil, e reflete uma transição estrutural: o Brasil terá em breve mais idosos que jovens, o que amplia o mercado consumidor maduro.
No segmento de alto padrão global, os 50+ são protagonistas. O mercado de luxo brasileiro atingiu cerca de R$ 98 bilhões em 2024 e deve chegar a R$ 150 bilhões até 2030. Segundo levantamento Data8, o motor desse crescimento é a geração prateada: os brasileiros 50+ de classe A (cerca de 500 mil pessoas) concentram grande parte da riqueza nacional e mantêm padrão elevado de consumo, com gasto médio mensal de R$ 4.911 – muito acima da média. De fato, 24% de todo o consumo privado das famílias brasileiras em 2024 foi feito por 50+ (cerca de R$ 7,3 trilhões), e espera-se que essa fatia suba a 35% (R$ 3,8 tri) em 2044. Globalmente não é diferente: a população acima de 50 anos dirige 48% do crescimento incremental do consumo mundial de acordo com o Business of Fashion, e detém enormes fortunas (por exemplo, pessoas 55+ concentram 72% da riqueza nos EUA). Na China, a economia prateada já vale cerca de US$ 966 bilhões. Em síntese, o público 50+ é hoje premium e lucrativo – o próprio Data8 afirma que “o mercado de luxo está nas mãos deles, que querem exclusividade, personalização e prezam, e muito, por qualidade”.
O consumidor 50+ de alto padrão valoriza aquisições com durabilidade e excelência tangível, priorizando marcas que expressem tradição, artesanato refinado e exclusividade discreta (muitas vezes já praticando o “quiet luxury” antes que o termo se popularizasse). Sua experiência de vida, marcada por instabilidades econômicas, moldou uma preferência por produtos que resistem ao tempo e por peças clássicas com ergonomia e sofisticação funcional. Serviços voltados à longevidade são percebidos como investimentos conscientes, e valorizam profundamente a personalização no atendimento, rejeitando generalizações e buscando marcas que reconheçam sua autonomia, seus repertórios e seus desejos genuínos, afinal não consomem para impressionar, mas para honrar aquilo que conquistaram e que os representa.
Em uma era digitalizada, os consumidores brasileiros 50+ são altamente conectados e digitalmente competentes, com 87% utilizando redes sociais e 70% realizando compras online mensalmente, embora exijam experiências digitais adaptadas às suas preferências. Valorizam plataformas intuitivas, com navegação clara, textos legíveis e informações objetivas, e tendem a priorizar marcas que investem em design digital acessível e comunicação eficiente. Apesar da fluência tecnológica, não abrem mão do contato humano e preferem uma jornada de compra híbrida, que combine praticidade digital com atendimento personalizado, como o acompanhamento de um concierge ou personal shopper via WhatsApp. Esse público responde de forma especialmente positiva a experiências digitais com toque pessoal, como videochamadas exclusivas ou convites para eventos reservados. No setor de luxo, esperam ser tratados como clientes de alta relevância, com atendimento consultivo, acolhimento sensível e reconhecimento de seu valor, exigência amplamente atendida por marcas que compreendem seu perfil como o de um público estratégico, exigente e fiel.
A trajetória de vida dos consumidores 50+ foi marcada por experiências como a hiperinflação nas décadas de 1980 e 90, e moldou um perfil de consumo cauteloso, que valoriza a durabilidade, pesquisa de valor e decisões conscientes. Essa geração construiu seu patrimônio com disciplina, priorizando investimentos, educação dos filhos e aquisição de bens estáveis, o que hoje lhes garante autonomia financeira: 70% sustentam suas próprias despesas e muitos ainda contribuem com as gerações seguintes, demonstrando solidez patrimonial. Já livre de grandes obrigações, este público direciona sua renda para conforto, cultura e experiências significativas. Sua relação com o status é mais madura: não buscam validação social por meio de logomarcas, mas preferem bens e serviços que comuniquem sofisticação com discrição: um relógio de manufatura, uma viagem cultural, uma peça feita sob medida, privilegiando o valor simbólico da experiência à ostentação. O prestígio, para essa geração, está mais na história que carregam do que no que expõem.
As tendências brasileiras no consumo de luxo entre os 50+ refletem um movimento global de envelhecimento com poder aquisitivo crescente. Nos Estados Unidos, os Baby Boomers concentram mais de 50% da riqueza nacional, sendo que, em 2024, os consumidores com 55 anos ou mais detinham 72% do patrimônio do país; estima-se ainda que esse grupo conduzirá cerca de 48% do crescimento do consumo mundial nos próximos anos. Na China, a chamada “economia prateada” já movimenta quase US$ 1 trilhão e deve triplicar até 2035, impulsionada por um público sênior cada vez mais ativo no turismo de luxo e nas redes sociais, influenciando o desejo por marcas premium. Na Europa e no Japão, a realidade é semelhante: em 2024, os consumidores 50+ foram responsáveis por 79% do crescimento de vendas de luxo na União Europeia, e responderam por mais da metade do consumo no Japão desde 2020. Esses dados indicam que, tanto nos países ocidentais quanto no mercado asiático, a maturidade se consolida como eixo estratégico central para o futuro do luxo.
Ao longo da minha trajetória como consultora de marcas com experiência no Brasil e no exterior, observo que o consumidor 50+ exige mais que sofisticação: exige coerência, escuta e profundidade. Esse público valoriza marcas com legado autêntico, que saibam comunicar tradição com inteligência contemporânea. Estratégias eficazes incluem investir em narrativas sobre origem, excelência e valores duradouros, oferecendo experiências de compra que aliam exclusividade a serviço impecável. Eles respondem bem a jornadas integradas entre o digital e o físico, desde que sejam intuitivas e respeitem sua autonomia. Inovações devem ser aplicadas com propósito, enriquecendo o cotidiano e promovendo bem-estar real. A comunicação precisa ser sensível, livre de estereótipos, conectada à ideia de longevidade ativa e significado pessoal.
Portanto, falar com a Silver Generation brasileira não é questão de adaptar campanhas existentes, mas de reconhecer sua complexidade cultural e emocional. Não são jovens envelhecidos, e sim protagonistas de uma nova etapa da vida, com padrões próprios de status, consumo e pertencimento. Ignorá-los é desperdiçar um dos públicos mais potentes e fiéis da economia contemporânea.
Tamara Lorenzoni é mestre em gestão de marcas de luxo pela Domus Academy Milano.





















