Autor: Breno Costa
Até pouco tempo os profissionais da área tinham como pilar de sustentação para a tomada decisão a máxima de que crédito é uma ciência na qual se estuda o passado e se replica para o futuro movimentações com uma certa previsibilidade do que vai acontecer. Significa dizer que, para adotar uma linha estratégica, de uma forma simplificada, o que se fazia era observar como as pessoas se comportaram em determinada situação e adotar práticas, regras e procedimentos com um grau muito próximo da certeza sobre o que aconteceria lá na frente.
Mas a pandemia do Covid-19, que trouxe tantos novos normais para tantas áreas da sociedade, também trouxe uma profunda transformação para este setor. De fato, a partir de agora, saber o que aconteceu anteriormente será importante, mas não mais suficiente para decidir como se preparar para o futuro. O novo normal para a concessão de crédito significa abusar como nunca das soluções de Analytics, pois tudo será realmente diferente. Fora isso, heurísticas serão um diferencial importante.
Os primeiros resultados da quarentena já começaram a surgir. Ao divulgar as Estatísticas Monetárias e de Crédito referentes ao mês de abril, o Banco Central (BC) revelou que empresas e famílias conseguiram pegar emprestados R$ 295,5 bilhões dos bancos.
Esse montante significa uma queda de 16,5% em relação ao registrado em março, na comparação com ajuste sazonal. No caso das empresas, a queda foi de 21,1% e das famílias, recuo de 13,2%. Sem o ajuste para o período, a redução ficou em 31% para as empresas, em 18,2% para as famílias e em 25,5% no total.
No dia seguinte ao início do isolamento, as mesas de análise de risco de crédito começaram a ver os volumes desabarem de uma hora para a outra e isto chegou a gerar um certo pânico momentâneo. Mas nos dias seguintes, de uma forma surpreendente, foi gratificante notar que aos poucos o volume foi sendo retomado sem a mudança do status do isolamento.
Isto deixou claro que o varejo, principalmente, mas também os bancos e outros setores fundamentais na formação da carteira de concessão de crédito do país, estavam se adaptando. Cada um, individualmente, começou a buscar o seu melhor formato e ao fazerem isso, encontraram como porta de saída para a crise justamente as soluções de Analytics e Digitalização.
As soluções de Analytics sempre tiveram importância para a definição de modelagens e escolha de estratégias, mas nunca sua capacidade de processamento de informações fez tanta diferença. Ninguém sabe ao certo como o consumidor e o tomador de crédito vai se comportar. Desemprego e inadimplência, provavelmente estarão em alta. Mas, mesmo com poucos recursos financeiros à disposição, as pessoas vão continuar tendo necessidades e as empresas necessitarão reforço de capital para a retomada da produção. Estas e muitas outras situações demandarão por crédito.
Mas como conceder crédito e evitar o risco do calote? Será preciso descobrir rapidamente onde estão os nichos com maiores e menores níveis de pressão para poder balancear as políticas e os próprios modelos.
Conseguir essa agilidade não será possível baseando-se apenas no passado. Esses insights imediatos exigem a captação abundante de dados estruturados e atualizados de diferentes fontes e o cruzamento rápido entre eles. Somente desta forma será possível ter a visão mais abrangente possível e praticamente em tempo real dos riscos relacionados a cada perfil de cliente para realizar análises preditivas que sustentem a tomada de decisão com um grau satisfatório de segurança. Como o que vai ocorrer na nova realidade ainda não é sabido, aqui é que entra a necessidade do feeling, das decisões humanas não matematicamente explicadas… isso que chamamos heurística.
A intensificação do uso de ferramentas de Analytics neste contexto será mais uma faceta do que muitos estão chamando de aceleração forçada pela pandemia da transformação digital.
Há quem diga que mudanças profundas anteriormente previstas para acontecer somente daqui a cinco anos se tornarão realidade em menos de 12 meses. Outra aposta é que a participação das vendas online no varejo brasileiro vai triplicar rapidamente antecipando uma movimentação prevista para se consolidar somente em quatro ou cinco anos. A construção dos modelos de machine learning e Inteligência Artificial, que até aqui consumia semanas ou meses precisará ser acelerada para que as entregas ocorram em, no máximo, sete dias.
Essa possibilidade de realizar modelos em curto espaço de tempo será também um diferencial, pois podemos capturar rapidamente as novas realidades e compor estratégias de concessão de crédito (cobrança ou manutenção também) já “temperadas” pelo Covid-19.
A pandemia do Covid-19 modificou totalmente o cenário na economia brasileira e vai exigir rápida adaptação com soluções que não serão usadas apenas durante a crise. Elas virão para ficar.
Na concessão de crédito, isso significa uma inversão de prioridades. Se antes era possível se basear no passado e usar o Analytics como um complemento das decisões, agora o correto é dar prioridade ao Analytics. E quanto antes isto for feito melhor.
Breno Costa é diretor comercial da Neurotech.