A análise correta dos riscos envolvidos na concessão de crédito é um fator crucial para a saúde financeira, principalmente neste momento de instabilidade provocada pela pandemia do novo coronavírus. Atenta às necessidades dos seus associados e aos movimentos do mercado, a Acrefi, Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento, realizou, nesta semana, o webinar “Crédito e Cobrança: Eficiência, Sustentabilidade e Tecnologia como Impulsionadores da Retomada”. O evento contou com a participação de Luis Eduardo da Costa Carvalho, presidente da Acrefi; Agustin Celeiro, diretor sênior de Operações do Banco GM; Eduardo Tambellini, business consultant principal – Latin America & Caribbean da Fico/GoOn; e Breno Costa, diretor de Produtos e Sucesso do Cliente da Neurotech. A mediação do encontro foi conduzida por Cleber Martins, consultor de Operações / Comissões Técnicas da Acrefi.
A manutenção de uma política bem planejada de crédito e cobrança é essencial para garantir a saúde financeira do negócio. Com sua execução segura e permanente, o risco de inadimplência é minimizado – cuidado que se torna fundamental no atual momento que o mundo atravessa. Para o presidente da Acrefi, Luis Eduardo da Costa Carvalho, esse é um período difícil tanto do ponto de vista nacional como global. Mais do que isso, é bastante desafiador para o mercado financeiro. “Crédito e cobrança são setores que foram fortemente atingidos durante a pandemia. Entretanto, para a nossa surpresa, o efeito não foi tão intenso como se previa. Temos resultados menos prejudiciais do que foi projetado inicialmente. Essa realidade é positiva e trouxe um novo ânimo ao setor financeiro”, ressaltou.
Como fundador e presidente do conselho da Lecca Financeira, Carvalho fez uma avaliação dessa nova realidade vivida nos últimos 150 dias. “Com 53 anos de mercado financeiro já tinha visto de tudo, planos heterodoxos, plano Collor (com confisco da poupança), situações dramáticas e complexas – quando apareceu a crise provocada pela pandemia do coronavírus. Lidar com essa nova situação exigiu medidas de saúde atípicas, como o fechamento de comércios e das escolas. Isso provocou a previsão da queda do PIB em até 11%, com quadro bem ruim em termos de macroeconomia, com crédito e inadimplência. No entanto, assistimos a uma atuação brilhante do Banco Central, com adoção de medidas corajosas e assertivas. Tudo isso foi feito em sintonia com o mercado, preservando a interlocução. Até o temor de que o dinheiro não chegasse na ponta foi superado. Vejo essa evolução com bastante otimismo e acredito em uma recuperação mais rápida do que imaginávamos.”
Na sequência, Agustin Celeiro, do Banco GM e presidente da Comissão de Crédito e Cobrança da Acrefi, falou sobre a concessão de crédito no novo cenário. “Hoje temos vários instrumentos que têm favorecido a liquidez do mercado, apoiando a concessão de créditos e a cadeia produtiva, como Letra Financeira Garantida, que injetou R$ 26 bilhões na economia. Temos também o DPGE (Depósitos a Prazo com Garantia Especial), que incrementou com outros bilhões os negócios de pequenas e médias empresas. O Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) e o Fundo de Auxílio também exerceram papéis importantíssimos nessa retomada da economia.” Para o diretor sênior de Operações do Banco GM, essa curva evolutiva é um processo de aprendizagem. “Todos estão dividindo experiências, discutindo melhores práticas. Colocamos o valor do cliente no centro da decisão no que fazemos como organização. Ou seja, devemos nos posicionar, nos colocar no lugar dos clientes e ouvir suas necessidades. Isso ajuda na construção de ofertas e de melhores oportunidades.”
Em sua exposição, Eduardo Tambellini, da Fico/GoON, tratou dos principais reflexos da pandemia no mercado de cobrança. “Desde o início da quarentena, nos debruçamos em cima dos indicadores e, no primeiro momento, notamos crescimento da inadimplência, que estava relacionado inicialmente à queda da carteira. No decorrer de março e abril, percebemos um aumento na primeira rolagem, mas que essa questão também poderia ser explicada pela falta de alternativa para efetuar os pagamentos – uma vez que muitos clientes ainda usam as agências para realizar esse tipo de operação. Nos meses seguintes, a inadimplência apresentou queda e o cenário passou a se mostrar positivo. Ele lembrou ainda outro fator positivo: o Auxílio Emergencial, que beneficiou 43% dos domicílios brasileiros. Porém, deixou no ar uma dúvida: “isso vai continuar assim?”
Ao fechar a rodada dos palestrantes do evento, Breno Costa, da Neurotech, abordou a importância da tecnologia para potencializar o processo de concessão de crédito. “Primeiramente, concordo que a inadimplência surpreendeu e a retomada é algo que estamos acompanhando. Tivemos em julho o melhor número do ano, com nível de aprovação melhorando. A inteligência artificial é uma realidade no Brasil e traz inúmeros benefícios durante o processo de concessão para decisão de crédito. É uma nova fronteira no uso dos dados. Saber quem recebeu Auxílio Emergencial é uma métrica relevante na concessão de crédito. O machine learning é uma ferramenta importante para a expansão de negócios”, avaliou.
Costa ilustrou que o indicador de estabilidade de modelo, que durante a pandemia poderia ser um problema pela nova dinâmica, não sofreu fortes alterações. “Medimos o índice de aderência e isso não mudou. Quando falamos do modelo de manutenção, temos a parte comportamental do cliente. Isso é uma métrica forte. Percebemos que, mesmo para esse modelo, o uso de dados alternativos enriquece, mas precisa estar centrado em conhecimento técnico, trazendo dados alternativos e modelagem. Na cobrança, isso também é um diferencial. O modelo ajuda a perceber quem é quem para ajustar essa oferta. É um ganho”, considerou o executivo da Neurotech.
O Consultor de Operações/Comissões Técnicas da entidade, Cleber Martins, também provocou um debate sobre a prorrogação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que já é uma realidade em vários países, por isso sua importância e necessidade de implementação no Brasil. “Esse é um avanço importante que, diretamente, provocará mudanças importantes no setor”, finalizou.