Com aumento no nível de renda, queda na taxa de desemprego, expansão de crédito, o Brasil se encontra em uma nova fase econômica e social. Porém, junto a este cenário, observa-se que os brasileiros ainda se endividam muito, fato que elevou a taxa de inadimplência este ano. Como as empresas devem lidar com os calotes? Como os inadimplentes podem sair do vermelho e começar o próximo ano com um planejamento mais sólido? Na série de reportagens sobre Inadimplência, o Portal Crédito e Cobrança reuniu um time de especialistas para explicar questões fundamentais do tema.
Nos meses de janeiro a novembro deste ano, a inadimplência do consumidor cresceu 15,1%, frente ao mesmo período de 2011, segundo o indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor. Apesar de muitas empresas cobrarem altas taxas de juros aos devedores, se houver aumento expressivo destes, saem no prejuízo também. Por esta razão, em que todos podem perder, é imprescindível dar a relevância necessária aos que estão no vermelho.
Uma das medidas que deve ser adotada é melhorar a educação financeira – afirmação unanime de todos os especialistas. Com os avanços da economia brasileira, fato que aumentou o poder de consumo das classes emergentes, o país lucrou por um lado, mas perdeu com a falta de planejamento econômico dos inadimplentes. Ana Paula Bastos, economista do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), acredita que falta conhecimento de mercado aos endividados, “O brasileiro está tendo acesso a bens que antes não poderiam comprar, principalmente os pertencentes às classes C, D e E. No entanto, ao realizar sua compra, principalmente a prazo, não prestam atenção se tem juros embutidos no preço, mas se a prestação cabe no bolso. Com as facilidades de pagamentos, aliado a grande oferta de cartões e a falta de educação financeira o consumidor vem se envidando se calcular o impacto de suas compras no seu orçamento”, avalia a economista.
Um ponto importante também é entender quem é esse inadimplente e, as pesquisas de opinião, podem ser eficazes nisso. De acordo com a Min7, plataforma de pesquisa online, 87 % de 4.882 pessoas entrevistadas em todo o país, se dizem preocupadas com a inadimplência, porém não veem relação de causa e efeito entre expansão do crédito e aumento de dívida. O cartão de crédito é responsável pelas dívidas de 62% dos inadimplentes, seguidas dos gastos básicos. No fator idade, os mais inadimplentes encontram-se entre 30 e 39 anos, 52%, e entre 40 e 49 anos, 47%. Nas regiões mais pobres do Brasil, concentradas no norte e nordeste onde o nível educacional é muitas vezes precário, aumentam os índices de devedores, 50% e 48% dos entrevistados, respectivamente, ao passo que no sul Centro-Oeste encontram-se os menos inadimplentes, 39% e 41%, respectivamente.
Já Roberto Vertamatti, presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, Anefac, esclarece que os empresários devem ficar espertos com a maneira de administrar os negócios e, isto deve ser reforçado em períodos de altas taxas de inadimplência. “A administração do faturamento/contas a receber é um dos pilares mais importantes da administração de uma empresa. Falhas no processo de crédito de uma empresa pode causar sérios problemas com relação à própria condição financeira futura do negócio. Portanto, lidar com a inadimplência começa com estrutura adequada e bem treinada, mas antes de tudo com um bom sistema de crédito, bem estruturado, com informações consistentes e sólidas a respeito da empresa para a qual daremos o crédito. Dado o crédito, o acompanhamento da situação do cliente, com histórico bem detalhado é fundamental”, explica.
E como os empresários devem lidar com os inadimplentes? Segundo Vertamatti, é imprescindível que a empresa tenha todos os procedimentos escritos e bem discutidos internamente de como proceder, caso a caso, em função da inadimplência dos clientes. “Lembro que o cliente é essencial para a empresa, sem eles a empresa não existirá. Desta forma o atendimento aos clientes deve sempre ser transparente, cordial, baseado em procedimentos claros. Nunca se deve deixar de considerar que sem os clientes a empresa morrerá. Tratar cordialmente, mesmo os inadimplentes é um dever de todas as empresas”, conclui o presidente.
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