A inadimplência do consumidor com empresas de telecomunicações, que prestam serviços de telefonia, acesso à internet e TV por assinatura, tem apresentado crescimento superior aos demais setores da economia brasileira. De acordo com o indicador calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), enquanto a inadimplência total no país vem desacelerando – em dezembro último o crescimento do total de dívidas não pagas foi de 3,19% contra 5,43% em agosto de 2014 -, a quantidade de contas atrasadas no setor de telecom avançou 16,21%, a maior alta em 24 meses.
A abertura dos dados por tempo de atraso da dívida revela que as mais antigas, com mais de 90 dias de atraso, tiveram alta de 16,26%. Essa faixa concentra mais de 99% das dívidas de telecom. As dívidas mais recentes, com até 90 dias, tiveram avanço mais moderado e cresceram 9,12% em dezembro de 2014. A tendência também se reflete no aumento da participação do setor de telefonia, internet e TV por assinatura no total de dívidas registradas no país. Desde janeiro de 2010, quando teve início a série histórica revisada do SPC Brasil, a participação deste setor quase dobrou, passando de 8,70% para 15,82% em dezembro de 2014.
O destaque da inadimplência de pessoas físicas com empresas de telefonia, internet e TV por assinatura foi na região Norte, onde o crescimento foi mais expressivo: 37,42%. Em segundo lugar aparece a região Nordeste (21,24%), seguida pelas regiões Sudeste (14,49%), Sul (11,47%) e Centro-Oeste (9,885). Os dados apurados pelo SPC Brasil ainda mostram que a maior parte das dívidas pertence aos consumidores com idade entre 30 e 39 anos (27,79%), seguidos pelos devedores de 40 a 49 anos (19,49%), de 50 e 64 anos (16,13%), e pelos que têm idade entre 25 e 29 anos (14,43%).
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o aumento expressivo do número de dívidas no segmento de telecomunicações acompanha a presença cada vez maior de serviços como TV por assinatura, internet e telefonia na vida dos brasileiros. Uma pesquisa recente realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito revelou que dentre os consumidores que tiveram gastos com contas de celular e internet ao longo de 2014, 87% consideram o gasto como algo “necessário”. Além disso, o valor médio do brasileiro com esse tipo de despesa chega a R$ 104,00, o que é uma cifra elevada quando consideramos a renda média dos brasileiros.
“No geral, o crescimento do número de dívidas em atraso está desacelerando no Brasil, em virtude, principalmente, da queda na concessão de crédito. No entanto, os dados da inadimplência no setor de telecomunicações mostram números na contramão da tendência dos outros setores. Os chamados ´combos´, que unem internet, telefone e TV por assinatura, têm se popularizado no Brasil, mas muitos consumidores ainda não se planejam financeiramente para lidar com essas despesas e a quantidade de atrasos tem sido cada vez maior”, explica a economista.
Em pesquisa limitada aos brasileiros que têm o nome registrado em serviços de proteção ao crédito, 5% deles admitiram que o compromisso financeiro que levou a essa situação foi a conta de telefone (fixo ou celular). Na hora de apontar onde pretendem economizar para pagar dívidas, por outro lado, o telefone celular é citado por 14% dos inadimplentes entrevistados, e o telefone fixo foi apontado por 8% deles.