Autor: Michel Varon
A gestão de risco é considerada um dos pontos mais importantes da área de finanças. Seja para quem quer investir ou a quem vai conceder empréstimos. Para os analistas de crédito, o risco é a questão fundamental que pode determinar o sucesso ou não da operação. Então, qual é o segredo, qual a receita para se fazer uma boa avaliação?
Para os especialistas, não há um modelo pronto que se encaixe em toda e qualquer situação. Portanto, essa avaliação deve ser feita caso a caso, considerando inúmeras variáveis e com o cruzamento do maior número de dados possíveis. Esse é o melhor caminho para se reduzir ao máximo as chances de inadimplência.
Logicamente, toda empresa de crédito no mercado dispõe de processos de análise já estabelecidos. Mas, muitas delas ainda estão na fase analógica, na qual a avaliação de uma infinidade de informações depende de um profissional, um ser humano. Mesmo com toda a experiência que possa ter acumulado, esse profissional, no mínimo, gastaria um tempo precioso na execução do trabalho. Sem contar a subjetividade e as imprecisões na análise de, por exemplo, algumas centenas de fontes, desde as oficiais até as de redes sociais.
O uso da tecnologia é o que tem feito a diferença na hora de avaliar um cliente. Pois, a empresa passa ter uma visão real do potencial de cada cliente ou fornecedor, se enfrentam algum tipo de dificuldade que comprometa sua liquidez ou, no pior dos casos, que vá tornar essa empresa insolúvel no futuro próximo. Com isso, é possível disponibilizar mais ou menos crédito, de acordo com cada perfil, reduzir os juros e tornar o dinheiro mais acessível para expansões ou aplicação em capital de giro, por exemplo, melhorando a produtividade de toda a cadeia.
Há, também, as empresas que já avançaram para processos automatizados, utilizando ferramentas como Big Data e Inteligência Artificial, que tornam possível uma análise de crédito completa de seu próprio banco de dados e o do cliente. Assim como diversas informações públicas e do mercado, cruzando as centenas de dados disponíveis em poucos minutos, com segurança, assertividade e de acordo com padrões pré-definidos pela companhia.
A pandemia e o crédito
Um dos reflexos da covid-19 no mercado foi o crescimento da inadimplência, cujos altos índices acenderam um sinal de alerta no setor. Somente de março para abril, houve alta de 5,1% no não pagamento de compromissos financeiros. Se comparado com abril de 2020, o aumento foi de 5,8%, segundo dados da Boa Vista.
A Serasa Experian estima que o total de brasileiros com contas em atraso tenha chegado a 63 milhões em abril. Neste ano, 1,6 milhão de pessoas a mais deixaram de pagar suas dívidas e acabaram sendo negativadas. Outra pesquisa mostra altas consecutivas na inadimplência das empresas, já atingindo 5,9 milhões delas em abril, com os negócios de menor porte liderando esse ranking, com 92,4%.
Por esse motivo, houve um aumento na busca por serviços e tecnologia que permitam uma análise mais apurada de riscos. O VADU, por exemplo, registrou um crescimento na demanda de 600%, nos últimos 12 meses, graças ao uso de Big Data e Inteligência Artificial.
Para Rogério Castelo Branco, especialista no setor de crédito, conceder crédito nesses tempos, independentemente da pandemia, transcende a maneira analógica de análise de dados, com base no capital social. O grande problema a ser resolvido para a análise de crédito não é mais o passado e sim, cada vez mais, o futuro da atividade do tomador de crédito. Não estamos falando se a atividade ou o setor estarão bem ou mal posicionados, mas se ainda existirão. Esta é a questão: o que existirá no futuro próximo que permita a criação e o crescimento de determinada atividade.
Com essa visão de futuro, Rogério questiona, ainda, por que a concessão de crédito não teria direito à mesma e natural evolução, com a já referida inteligência artificial, machine learning, algoritmos, Big Data, redes sociais e tantas outras ferramentas que, em fração de tempo, podem gerar um resultado muito mais efetivo ao parceiro financeiro, com mais opções e conhecimento para base de decisão de assunção de risco, em detrimento das ferramentas que ainda usamos, enferrujadas e desgastadas?
O especialista conclui que a tendência é que o abismo entre os analistas de crédito que ainda trabalham de forma analógica, e o uso da tecnologia para decisões de crédito, cada vez mais com análises preditivas, diminua cada vez mais.
Michel Varon é CEO do Vadu.