Paolo Fidanza, fundador e CEO da Keo World

Crédito inteligente como motor de crescimento para PMEs no Brasil

O crédito precisa deixar de ser um produto engessado e se transformar em uma solução integrada, flexível e contextual

Autor: Paolo Fidanza

Observar o ecossistema financeiro brasileiro é, ao mesmo tempo, admirável e desconcertante. Poucos países combinaram tão bem a sofisticação bancária com inovação regulatória — vide o sucesso do Pix, o avanço do open finance e a proliferação de fintechs. Ainda assim, para milhões de pequenos e médios empresários, o acesso ao crédito continua sendo um dos grandes pontos cegos do sistema.

Apesar de representarem mais de 90% dos negócios ativos no país e sustentarem uma parcela essencial dos empregos formais, segundo dados do Sebrae/IBGE e Sebrae/DIEESE, as PMEs brasileiras enfrentam uma contradição persistente: crédito existe, mas não chega. Ou quando chega, vem com exigências incompatíveis com a realidade do pequeno empreendedor — garantias que ele não tem, prazos que não atendem ao seu giro de caixa e processos que exigem tempo e conhecimento técnico que faltam no dia a dia da operação.

Levantamentos recentes reforçam essa percepção. Segundo dados do Sebrae e do Banco Central, menos de 20% das PMEs acessam crédito bancário com regularidade. Em outras palavras, a imensa maioria navega à margem do sistema financeiro tradicional, mesmo operando de forma formalizada e com potencial de crescimento.

É nesse contexto que o conceito de crédito inteligente se torna não apenas relevante, mas necessário. Trata-se de uma abordagem que considera o presente e o futuro da empresa — seu comportamento transacional, sua posição na cadeia de valor, seu fluxo real de caixa — em vez de se apoiar apenas em histórico ou garantias colaterais.

A mais recente pesquisa da McKinsey com PMEs brasileiras mostra que esse movimento já começou. O segmento de varejo PJ passou de 10% para 15% da receita bancária total nos últimos cinco anos e deve atingir 20% até 2027. Ao mesmo tempo, a relação das empresas com as instituições financeiras se tornou mais fragmentada: hoje, uma PME média mantém relações com pelo menos quatro instituições diferentes, buscando agilidade, melhores condições e serviços mais aderentes à sua realidade.

O que esses dados apontam é algo que o pequeno empreendedor já sabe na prática: o crédito precisa deixar de ser um produto engessado e se transformar em uma solução integrada, flexível e contextual. Aquele que é liberado na hora certa, com base em dados vivos, sem fricção e com clareza de uso, faz toda a diferença entre travar ou acelerar o negócio.

Nesse cenário, a experiência de crédito se torna quase tão importante quanto o capital em si. O estudo da McKinsey mostra que 45% das PMEs priorizam a facilidade no processo de contratação ao buscar um empréstimo de longo prazo — um número superior àqueles que se preocupam, em primeiro lugar, com a taxa de juros. Isso revela algo profundo: confiança, agilidade e simplicidade viraram critérios estratégicos.

O Brasil tem todas as condições para liderar essa transformação. Já tem infraestrutura, inovação e um setor bancário atento à digitalização. O que falta é avançar em soluções que realmente entendam o cotidiano das PMEs — suas dores, seus ciclos e suas oportunidades.

Crédito, quando inteligente, não é apenas uma linha no balanço — é uma ponte entre potencial e realização. E são justamente as pequenas e médias empresas que mais precisam atravessar essa ponte. Permitir que elas façam isso com segurança, velocidade e visão de futuro não é só uma questão de eficiência econômica. É um passo essencial para o crescimento sustentável do país.

Paolo Fidanza é fundador e CEO da Keo World.

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