Antonio Alberto Aguiar (Tombé), diretor executivo de estabelecimentos da Pluxee no Brasil

O poder do bolso: como os benefícios moldam o varejo brasileiro 

O trabalhador agora transita entre necessidades básicas e escolhas mais conscientes, equilibrando orçamento e qualidade de vida

Autor: Antonio Alberto Aguiar (Tombé)

Muito se fala sobre o papel dos benefícios na atração e retenção de talentos, mas pouco se explora   o impacto profundo que esses incentivos têm no mercado varejista. Cada real concedido em vale-refeição, vale-alimentação ou vale-combustível não apenas reforça o orçamento familiar, mas também impulsiona decisões de compra, volume de vendas e, em muitos casos, garante a sobrevivência de milhares de pequenos e médios negócios. 

Os benefícios vão além de simples vantagens corporativas; eles atuam como motores silenciosos de transformação econômica. Ao receber um benefício, o trabalhador não está apenas ampliando sua remuneração — ele está moldando escolhas diárias: onde almoçar, onde abastecer, ou em qual supermercado fazer as compras do mês. É nesse fluxo cotidiano que o varejo sente, de forma direta e palpável, os efeitos desses recursos com destinação específica. 

Setores que respiram benefícios 

Restaurantes, supermercados, padarias, farmácias, postos de combustível e até hortifrutis são os principais termômetros desse ecossistema. Mas o efeito também se estende a negócios digitais e de conveniência, como aplicativos de entrega, estabelecimentos em estações de metrô ou terminais de ônibus, pequenos empórios e até serviços de mobilidade. Quando há aumento na concessão de benefícios, esses estabelecimentos prosperam. Quando há cortes, o impacto é imediato — e cruel. É nesses setores que os benefícios se convertem mais rapidamente em consumo, influenciando desde o volume de compras até a escolha de marcas e produtos. 

Essa sensibilidade se intensifica em contextos econômicos desafiadores. Com a inflação acumulada em 12 meses voltando a subir e chegando a 5,26% em março de 2025, segundo o IBGE, o poder de compra do brasileiro segue pressionado — e o papel dos benefícios torna-se ainda mais estratégico para manter o giro da economia real. 

Uma pesquisa recente realizada pela Pluxee, revelou que três em cada quatro consumidores estão priorizando produtos de preço reduzido, como marcas próprias ou menos conhecidas. O recado é claro: os hábitos de consumo estão mudando, guiados não só pela necessidade, mas também pelas novas possibilidades de escolha. O varejo que quiser permanecer relevante terá que ler esses sinais e reagir rapidamente. 

Reagir faz parte do jogo 

Para o varejo, adaptar-se a esse novo comportamento de consumo deixou de ser uma   vantagem competitiva e tornou-se uma questão de sobrevivência em um cenário de mudanças constantes. Aceitar meios de pagamento vinculados a benefícios, ajustar mix de produtos ao perfil de quem compra com eles, entender os ciclos de consumo ao longo do mês — tudo isso já faz parte da lógica operacional de quem está atento ao movimento do mercado. 

Com a popularização dos benefícios flexíveis e digitais, esse cenário se torna ainda mais dinâmico. A decisão de compra deixou de ser previsível. O trabalhador agora transita entre necessidades básicas e escolhas mais conscientes, equilibrando orçamento e qualidade de vida. E o varejo que não acompanhar esse raciocínio corre o risco de perder espaço para quem o fizer. 

Entender é mais estratégico que vender 

A transformação digital dos benefícios — com apps, carteiras digitais e programas de fidelidade — está tornando o comportamento de compra mais fluido, mas também mais monitorável. O desafio agora é decifrar esse fluxo, e não apenas surfar nele. Estabelecimentos que compreendem o seu consumidor-beneficiário conseguem antecipar tendências, criar experiências mais assertivas e oferecer exatamente o que ele precisa, no momento certo. 

No fim, o que está em jogo é o protagonismo do varejo dentro de um ecossistema maior, que conecta trabalho, consumo e qualidade de vida. Entender o trabalhador como consumidor estratégico, e os benefícios como parte desse elo, é o primeiro passo para quem quer não apenas vender mais — mas fazer parte de algo maior.

Antonio Alberto Aguiar (Tombé) é diretor executivo de estabelecimentos da Pluxee no Brasil.

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