O consumidor não paga apenas pela eletricidade que consome, mas também por uma série de taxas, subsídios cruzados, ineficiências do setor e impostos elevados
Autor: Raphael Ruffato
O Brasil é um dos países com maior potencial para gerar energia barata e limpa, mas, paradoxalmente, os consumidores pagam uma das contas de luz mais altas do mundo. Especialistas do setor elétrico são unânimes ao apontar que o grande vilão por trás dessa distorção é o acúmulo de subsídios e encargos, que mais do que dobraram nos últimos cinco anos e hoje representam 13,5% da fatura mensal dos brasileiros, segundo Dados compilados pela Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), divulgados em matérias recentes.
A questão central é simples: a energia no Brasil não é cara, mas a forma como ela é comercializada e tarifada faz com que a conta de luz pese cada vez mais no orçamento das famílias e empresas. O consumidor não paga apenas pela eletricidade que consome, mas também por uma série de taxas, subsídios cruzados, ineficiências do setor e impostos elevados. Na prática, ele sustenta uma cadeia burocrática e ineficiente, sem ter qualquer poder de escolha sobre o que está pagando.
Um mercado que não olha para o cliente
O modelo atual do setor elétrico brasileiro ignora a necessidade do consumidor de um serviço de qualidade a um preço justo. O cliente não é tratado como um agente ativo no mercado de energia, mas sim como um pagador passivo de uma conta que mal entende. Muitas pessoas simplesmente colocam a fatura no débito automático e seguem em frente. Para quem tem uma renda mais alta, a conta de luz pode não ser um peso significativo, mas, para quem tem menos recursos, aceitar tarifas abusivas se torna a única opção.
A tarifa social de baixa renda, apesar de importante, não resolve o problema estrutural. O consumidor precisa não apenas de uma redução no custo da energia, mas também de um valor agregado – seja na transparência das cobranças, na possibilidade de escolha entre fornecedores ou em programas que incentivem o consumo mais eficiente.
Falta de concorrência e desinformação
Diferentemente de outros mercados, no setor elétrico o consumidor não compra eletricidade. Ele paga por conforto, iluminação, ar-condicionado, lazer. No entanto, o modelo de comercialização não reflete essa lógica. Sem concorrência efetiva, as distribuidoras seguem repassando custos elevados aos consumidores sem oferecer alternativas reais.
Além disso, o mercado não é livre para grupos de baixa tensão, o que significa que milhões de consumidores – incluindo famílias e pequenas e médias empresas – não têm o direito de escolher seu fornecedor de energia. Enquanto grandes indústrias e corporações podem negociar contratos no mercado livre, buscando preços mais competitivos e melhores condições, os consumidores de menor porte permanecem obrigados a comprar eletricidade diretamente das distribuidoras, sem qualquer poder de barganha.
O Open Energy, conceito que promete dar ao consumidor maior controle sobre sua conta de luz, poderia ser um caminho para mudar esse cenário. No entanto, até agora, ninguém trouxe uma solução prática para torná-lo acessível à população em geral. A maioria das pessoas sequer compreende os detalhes da sua fatura, o que as impede de tomar decisões informadas sobre o consumo.
O setor de energia precisa mudar sua abordagem de comunicação com o consumidor. O cliente deve estar em primeiro lugar, e a mudança desse modelo não acontecerá sozinha. As empresas precisam agir como catalisadoras dessa transformação, educando o público e oferecendo soluções acessíveis e eficazes.
O papel das startups e a necessidade de disrupção
Para quebrar esse ciclo vicioso, o Brasil precisa de startups e empresas dispostas a desafiar o status quo do setor elétrico. A resistência será grande, mas paradigmas precisam ser rompidos. Não é porque a mudança começa em uma minoria que ela não pode se tornar a nova regra.
A revolução no setor elétrico não virá das grandes concessionárias ou do governo, mas de novas iniciativas que coloquem o consumidor no centro da discussão. Mais do que pagar menos pela energia, a população precisa entender pelo que está pagando e ter o direito de escolher a melhor opção para suas necessidades.
A conta de luz cara no Brasil não é uma inevitabilidade – é o resultado de um modelo ultrapassado que precisa, urgentemente, ser revisto.
Raphael Ruffato é fundador e CEO da Lead Energy.