Independente do sistema político – capitalismo, socialismo – o setor empresarial de uma nação sempre teve importante papel para o desenvolvimento de uma sociedade. Até porque, antes de qualquer coisa, os empresários são cidadãos e como tal sentem também as transições e decisões do Estado.
Uma consciência que em muitos momentos da história da humanidade não se mostrou clara e aparente, e muitas corporações acabaram por assumir o lado mais obscuro da moeda, incentivando processos de destruição e lucros inequívocos. Mas afirmo, com toda convicção, que hoje sinto uma grande mudança no empresariado do Brasil, que vem se formando há algumas décadas. Reflexo da certeza de que sem democracia, que é o escopo para o exercício da cidadania, há uma insuperável falta de garantia pessoal ou civil para toda a sociedade.
A democracia está totalmente interligada às convicções humanas de possuírem direitos e não só deveres e da ampliação do espaço do indivíduo na efetivação dos direitos humanos. Em resumo, a sociedade, por meio de um regime democrático e uma atitude cidadã, é responsável pelo estabelecimento de novos conceitos, como direito a um ambiente saudável, com qualidade de vida e bem estar; ao consumo de produtos com qualidade melhor; a escolha de seus governantes e a responsabilidade por essas escolhas; a um ambiente empresarial mais coerente, com concorrência mais justa; ao acesso à saúde, educação e informação; e muito mais.
No ambiente empresarial atual, isto tudo é traduzido pela Responsabilidade Social. Por meio dela, empresas, empresários, colaboradores internos e até mesmo seus stakeholders entendem que só é possível evoluir se olharmos para as situações de risco social e buscar transformá-las, quando não eliminá-las.
Todo esse trabalho só é viável num regime democrático, no qual é possível exercer e lutar pela consciência cidadã. A Responsabilidade Social Empresarial deixou de ser ações filantrópicas e assumiu uma posição de governança participativa, com valores éticos mais “humanistas” que ao incorporá-los ao processo de decisão favorece o crescimento de uma nação como um todo, ou seja, econômica, social e politicamente.
E não temos outra saída, senão o investimento em ações socialmente responsáveis. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) o Brasil tem 53,9 milhões de pobres. O estudo Radar Social 2005 considerou pobres as pessoas que vivem com renda domiciliar per capita de até meio salário mínimo (R$ 120,00 em 2003). Nessas condições vivem 21,9 milhões de brasileiros.
Sanar questões como esta é um trabalho árduo, de longo prazo e com o envolvimento de todos, impreterivelmente. A VI Pesquisa Nacional sobre Responsabilidade Social nas Empresas, realizada em 2005 pelo IRES (Instituto ADVB de Responsabilidade Social) aponta que do total das empresas que responderam ao questionário, 89% realizam programas sociais voltados para a comunidade, sendo que as cinco áreas mais abrangidas por ordem de volume de atividades são: educação, meio ambiente, desenvolvimento comunitário e mobilização social, cultura e, por último, saúde.
Pensar na educação, no meio ambiente, na saúde, enfim, em questões sociais como ponto forte das estratégias de gestão é investir no crescimento das organizações e do país. País em evolução, economia em evolução.
Quanto mais investirmos em ações de Responsabilidade Social mais fortalecemos e trazemos subsídios para uma democracia permanente. Um processo alimenta o outro.
José Zetune é presidente da ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), da ADVP (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing de Portugal), do IRES (Instituto ADVB de Responsabilidade Social) e da FBM (Fundação Brasileira de Marketing).