Gerar e difundir conhecimento de vanguarda sobre o for talecimento das micro e pequenas empresas como base para o desenvolvimento sustentável dos mercados e das exportações latino-americanas. Este foi o pano de fundo do mega Fórum Latino-Americano de Negócios Eletrônicos promovido pela Câmara E-net, em São Paulo, reunindo especialistas em negócios on-line de oito países da região (Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Peru, Venezuela e Uruguai).
Entre as principais temáticas destacaram-se as relativas a barreiras ao comércio exterior, seguros, direito eletrônico, financiamentos, meios de pagamento e perspect ivas do comércio através da internet, não apenas na América Latina, mas no mundo. No final foram apresentados a Carta São Paulo, que traz algumas considerações e princípios sobre o papel da TIC para as MPEs e ressalta sua importância para a economia regional. Além de pedir mais políticas públicas que promovam plataformas comuns de negócios eletrônicos e a aceleração da construção em cada País de uma regulamentação sobre segurança eletrônica e fomentem assim, a inclusão digital.
Mas, o alerta e consenso, é não esperar apenas as ações governamentais, alerta Cid Torquato, diretor executivo da Câmara e-net. “O governo é mais que suficiente para gerir sozinho as questões públicas. Ele precisa dos empresários e da sociedade. E o setor privado tem que se organizar, participar e tomar a liderança”, alerta. Outro relatório está sendo preparado com mais detalhes reunindo as conclusões do encontro e será apresentado em 2005, na cúpula mundial da sociedade da informação, na Tunísia.
O desafio, agora, é como colocar em prática a TIC em benefício do cliente. Um dos cases apresentado foi o da Closet, empresa paulista que começou em 1995 como fabricante de camisas para shopping centers. Em 1999, a companhia resolveu atingir o varejo de uma forma inusitada: apostou numa loja online de roupas, sem estoque. O próprio cliente decide o modelo, a cor e o tamanho da camisa, visualizando na tela do computador como será o produto final e, ao fazer o pedido, aciona diretamente os fornecedores de tecido, a central de produção e de distribuição. Com isso, o preço fica cerca de 30% mais barato do que o similar encontrado nos shoppings.
Somando todas as possibilidades de combinações de padrões, pode-se obter até 12 mil modelos de camisas diferentes. “A internet abre possibilidades para a indústria entrar no varejo. O grande diferencial é a possibilidade de oferecer uma grande variedade de produtos aos clientes”, acredita Rogério Schandert, diretor executivo da Closet. “A plataforma de gerenciamento de operações é. É através da rede que mantemos uma interação avançada com toda a cadeia produtiva”, justifica.
Em 2003, mesmo abrindo a primeira loja real no bairro paulistano Itaim Bibi, ele mantém a est ratégia de não possuir estoque. Os clientes, na loja real, vão tirar suas medidas, mas é pela internet que a compra é efetuada. De acordo com Rogério, não há desvantagem nesse tipo de negócios, apenas desafios. E o desafio inicial foi posicionar e divulgar a marca no mundo virtual e consolidar esse novo conceito de compra. O sucesso foi total, que atualmente cerca de 90% dos clientes que fazem uma compra pela primeira vez, retornam, o que rende um crescimento de 20% ao ano à marca.
Bancos alavancam o e-business
“A internet é um dos melhores negócios no qual os bancos estão investindo”. A frase é do superintendente nacional de estratégias de canais da Caixa Econômica Federal, Tarcísio Luiz Dalvi. Segundo ele, em agosto, o varejo on-line movimentou R$ 655,7 milhões. Hoje, aproximadamente 2,5 milhões de clientes fazem compras online, e 12 milhões preferem os serviços bancários na web. Os bancos não estão apenas interessados em emprestar dinheiro: “capital é fundamental, mas também estamos oferecendo serviços que agregam valores aos produtos”, confirma Tarcísio.
Esses serviços são o apoio à venda, através da criação de meios de pagamentos, com cartão de crédito e parcelado; apoio corporativo (serviços de cobrança, previdência, conectividade social), interação, integração, inclusão social de empresas e correspondentes bancários, além do apoio financeiro com a concessão de crédito para compra e investimento – capital de giro.
Edgar Powarczuk, gerente de educação e da Universidade Sebrae de Negócios, ressalta que o dinheiro não é o mais importante.”O Brasil é um País de empreendedores. A cada ano surgem 470 mil novas empresas, mas a qualidade é muito baixa”, decepciona-se. Ele diz que dessas novas companhias, metade quebra após dois anos de funcionamento, e 85 % não pagam impostos como deveriam ou têm potencial para expansão do mercado. “O problema não é só querer fazer. É poder fazer, ou seja, ter infraestrutura para abrir um negócio, e saber fazer. O problema não é dinheiro, mas sim o mau uso do dinheiro”, acredita. O conhecimento foi apontado como fator essencial, assim como investimento para se iniciar um negócio. Para Jorge Cassino, presidente da Associação Latino- Americana de Entidades de Tecnologia da Informação (Aleti) da Argentina, toda tecnologia que vem sendo incorporada às MPEs, gera “um volume muito grande de informação e mudanças diárias de fontes. Essa velocidade de difusão do conhecimento, se por um lado facilita o acesso e encurta os ciclos de obtenção de informação, por outro causa a dispersão. Saber algo não é ter conhecimento”, ensina.
Jorge diz que a rapidez com que uma empresa reconhece e corrige o erro e tem disponibilidade para se adaptar rapidamente às mudanças, são essenciais para que um negócio continue funcionando. Além disso, não adianta centralizar o conhecimento em apenas uma pessoa, mas é necessário que todos os funcionários saibam exatamente o que estão vendendo e como funciona a cadeia de produção. “Vivemos na era digital e do conhecimento. Apropriar-se do conhecimento é conquistar o futuro”, arremata.
Mais da metade das MPEs acessam a web
Os participantes do fórum também comemoraram o fato de que a maioria das MPEs tem algum setor informatizado, 47%, em um universo de 5 milhões de MPEs registradas. Além disso, 53% têm acesso à internet, quer dizer, mesmo não possuindo equipamento, as empresas reconhecem a importância da TIC. Mas entre as nãoinformatizadas, 64% acreditam que não precisam de aparatos tecnológicos. Algumas conclusões apontaram para um abismo digital e que não existe uma cultura para instalação de mecanismos eletrônicos nas MPES, que permitam a interligação das cadeias produtivas, disseminação e compartilhamento de informações.
Porém o mais importante, na opinião dos especialistas, é a visão coletiva dos países em relação as MPEs. “Durante muito tempo, os países deram apoio às empresas isoladamente. Somente há cerca de cinco anos é que houve uma mudança significativa da abordagem e foi reconhecida a importância de formar grupos, o que passa necessariamente pelo conceito de sociedade em rede”, atesta Wolney Martins, gerente da unidade de TI do Sebrae.
O processo de capacitação de empreendedores para aplicar soluções tecnológicas às empresas, é um dos principais pontos defendidos por instituições voltadas para dar suporte às MPEs. Por exemplo, o Sebrae e o International Trade Center, em suas exposições, ressaltaram a importância da educação para formação de gestores alinhados com a era digital, além de oferecerem serviços de apoio à gestão, pesquisa de mercado e consultorias em geral. Mas o representante do Sebrae, lembra que tecnologia não é tudo. “É preciso haver um processo de fabricação antes de se automatizar o processo. Não dá para pensar que a tecnologia vai fazer tudo; ela vai apenas encurtar tempo e distância”.