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Nova fase à SCPC



Ela foi fundada em 1894, acompanhou a trajetória histórica do País, a ponto de ter um presidente exilado, na década de 30, do século passado. Ficou conhecida em meados da década de 50 por reuniões magistrais no centro da capital paulista, unindo empresários que se transformaram nos maiores banqueiros e empresários nacionais. Na época, criaram o Serviço de CPC dentro da Associação Comercial de São Paulo, por lhe darem o crédito para gerir as informações  de seus devedores, sem revelar a fonte. E assim nasceu um dos serviços mais tradicionais do País, até começarem a aparecer os concorrentes como a Serasa e a Equifax, hoje dominada por dois dos maiores grupos internacionais em gestão de crédito para pessoas físicas e jurídicas, depois que Experian adquiriu a primeira. Hoje, nesta Entrevista Exclusiva, o diretor superintendente da ACSP, Márcio Aranha, há 18 anos na entidade, faz uma avaliação dos serviços prestados pela entidade ao longo destes anos e fala em futuro, avaliando a possibilidade de transformar o SCPC em uma empresa pública, recebendo capital e apontado em modernização para atender uma ramificação de clientes e um mercado cada vez mais competitivo.

Qual é o perfil do seu cliente?
Temos centenas e centenas de clientes. Na verdade, os usuários do SCPC são nossos associados e clientes. E são nossos patrões. Eles que ditam o que devemos fazer. Temos aqui uma reunião na terceira quarta-feira de cada mês, com os maiores clientes para discutir problemas comuns, avaliar os nossos serviços, não apenas em relação à rapidez como à qualidade. Temos críticas, elogios, como qualquer cliente faz e procuramos atendê-los porque o cliente é o rei. É quem manda. Mesmo que seja apenas um associado, ele é o dono da Associação Comercial, uma entidade centenária, que não objetiva lucro mas o serviço para a sustentação das suas atividades institucionais, incluindo um jornal diário. Estes são os nossos clientes. Os outros clientes são muito bem tratados também, Há uma tendência, uma cultura, no sentido de que esses clientes participam no sucesso do trabalho. Incluo ainda nesta relação os fornecedores, pois temos um clima muito amistoso.

Como foi a evolução da Associação?
Na verdade não foi no Estado de São Paulo que nasceu o primeiro serviço. Fomos antecedidos pelo Rio Grande do Sul, Paraná e Pará. Mas tivemos um presidente aqui, nos anos 20 que, com uma visão extraordinária, comentou em uma reunião que a associação ou qualquer entidade que quisesse se manter deveria prestar algum tipo de serviço, o associativismo não conseguiria mantê-la. E nasceu o primeiro serviço com a fundação do jornal Diário do Comércio, em 1924, em plena semana da arte moderna. Diria que hoje é um dos grandes jornais que temos na capital. Atualmente, não é distribuído em banca, porque não podemos prestar este serviço fora da nossa comunidade. Em 1955, um grupo de empresários, banqueiros, grandes varejistas da cidade, se reuniam aqui no último andar para um almoço tradicional. Eles vinham almoçavam, conversavam e perguntavam sobre movimento, dívidas de carnês e faziam previsões de futuro. E discutiram porque não podiam saber quem eram os seus inadimplentes, o que evitaria prejuízos. Foram meses em discussão, mas havia a resistência de cessão da informação para o concorrente. Até que elegeram a Associação como o elemento isento para gerenciar a informação. Com a descarga de seus negativos em nosso banco de dados.

E como foi o processo de evolução?
Naquela época (década de 50) não tínhamos esse progresso. Trabalhávamos com muita dificuldade, com fichinhas que guardamos de lembrança. Imagina atender o telefone, procurar a informação naquele cadastro e dar a resposta ao cliente.

Quantos clientes eram neste começo?
Eram uns 70 ou 80. Passou das grandes empresas a médias. Como São Paulo era um centro industrial muito importante, fomos evoluindo,passando de uma cidade de comércio para uma cidade de serviço. As indústrias foram a busca de lugares para melhorar desempenho, o comércio se fortaleceu e pode ser suplantado pelo setor de serviço. A Associação foi seguindo este rumo, atravessando os percalços da economia brasileira e os políticos. Hoje distinguimos os problemas políticos dos econômicos. Ela foi se adaptando, ajudando os clientes, para progredir, melhorar sua performance. Com os primeiros equipamentos…

Quando o senhor entrou na Associação?
Há 18 anos (em 1991) e encontrei o Serviço Central de Proteção ao Crédito bem estabelecido, informatizado e em um período político conturbado, com planos políticos, Plano Collor, Plano Bresser e o plano real, em 1994. E 94 foi um período importante para nós e para o crédito no Brasil. Com a estabilização econômica, aumentaram as vendas e com facilidade de crediário. Nós nos preparamos para essa evolução, trabalhando com 50% de capacidade para atender o crescimento da demanda. A partir daí introduzimos o computador, abandonando as fichinhas, com respostas mais rápidas, outra exigência dos clientes. Até que em 98 começaram a exigir integração de dados não apenas do Estado de São Paulo mas do Brasil. Primeiro centralimos na cidade de São Paulo, depois os dados do  interior de São Paulo. Para ter uma ideia, temos cerca de 420 Associações Comerciais, no interior do Estado – algumas trabalhando com o serviço, outras não. O primeiro esforço foi convencê-los a integrar os dados, centralizando na capital. O argumento foi de podermos dar resposta mais rápida e o benefício de informação mais abrangente que do seu município. Foi difícil, pois existia um receio muito grande com relação à capital. Hoje, tenho a impressão de que estamos nos livrando desse problema, e conseguimos centralizar os dados. Hoje temos um  tempo de resposta em todo o Brasil de ½ segundo contratual. Você entra com o CPF do cidadão e instantanemante recebe o histórico dele.

Como foi a expansão da base para o Brasil?
Em 98, achamos que a missão estava cumprida, com o Estado de São Paulo. Mas fomos cutucados pelos próprios clientes para saírmos por esse Brasil para centralizar a base de dados. Em 2000, nós inauguramos a primeira rede nacional de informações comerciais com os 27 Estados da Federação. Ainda de maneira simples, uma vez que não conseguirmos vencer essas idiossincrasias de confiar os em São Paulo. Mas aos poucos fomos quebrando as barreiras e, em 2004, conseguimos finalmente centralizar aqui todos os dados dos 27 Estados, hoje alimentados online diariamente. Com isso formamos um grande banco de dados com cerca de 2.200 entidades, como Associações Comerciais, Clubes Diretores Lojistas, entidades, sindicatos e comércio varejista que em alguns lugares opera o serviço. Não foi fácil pelo receio de São Paulo querer dominar, mas sabemos que participamos de um movimento das Associações respeitáveis que tem vida normal e que não queremos interferir. Só em SP recebemos cerca de 45 milhões de contatos por mês.

E isso apenas via telefone?
Não, pelos vários canais de acesso. O contato por telefone hoje é muito pequeno. O serviço é todo eletrônico. Temos vários tipos de conexão e todas muito rápidas. O telefone, hoje, é apenas para estabelecimentos pequenos que não possuem computador. Muitas vezes doamos computadores que trocamos. Eles servem até para agilizar a substituição do papel e o risco de possíveis erros na digitação.

Vocês trabalham a tendência de passar nossas fronteiras e internacionalizar o serviço?
Sim. Já existem algumas iniciativas nessa linha. Nos relacionamos bem com os gestores de banco de dados na Argentina, Chile, Colômbia, com alguns países da America Central e temos uma consulta com alguns países, principalmente o Japão, por conta dos dekasseguis.  Também trabalhamos com a Europa e nos EUA com a câmara de comércio da Flórida. Hoje, o maior banco de dados da America Latina de informações comerciais está aqui. Com essa capilaridade, temos braço para ir nas periferias das pequenas e grandes cidades, conseguindo captar informações que nossos concorrentes não conseguem.

Começamos a entrar em um território interessante, o da concorrência. Quando começou acelerar o crescimento da ACSP?
Naquela época, este era o trabalho da Associação Comercial, mais empírica eu diria com os Clubes Diretores Lojistas também, mais recentes. Mas eles também adotaram o serviço, que chamaram Serviço de Proteção ao Crédito, o SPC, que mais comum. O nosso é o SCPC, que acabamos centralizando, com a mesma informação. Isso fez com que fosse crescendo a partir de 94, com o crescimento muito grande do crédito – e nós acompanhamos esse crescimento. Mas a partir de 2000, quando consolidamos a rede pelo Brasil, o crescimento passou a ser geométrico.

Quando efetivamente começou a grande concorrência neste mercado?
A Serasa é anterior a 90. E nasceu com a centralização de cadastros dos bancos. Consequentemente, ela foi tratar o controle de cheques, ainda hoje grande meio de pagamento do comércio. Começaram com cheques de pessoas físicas e passaram depois para pessoas jurídicas, a exemplo do que estávamos fazendo. Ela passou a trabalhar com crédito a partir de 1989 ou 90. E o SCPC, em 1965. E vivemos harmonicamente até 99, quando apareceu o terceiro bureau. Existia aqui em São Paulo uma empresa chamada SCI, focada em pessoa jurídica e com intercâmbio com empresas do exterior. Ela foi adquirida pelo grupo americano Equifax,  de Atlanta. São os três bureaus que convivem em na nossa cidade. Duas multinacionais e nós aqui no meio, lutando.
Mas existem várias outras empresas prestando serviços especializados, cobrindo alguns nichos de mercado.
Existem milhares… é ser habilidoso e inteligente, se cadastrar para receber o o cadastro do banco central de cheques devolvidos e trabalhar. Elas tem um overhead muito mais baixo, preço mais baixo… se bem que a concorrência fez com que os preços hoje não possam ser mais baixos do que são. Também são compradas pelos bureaus maiores como em todos os setores da economia. Até que há dois anos o mercado foi surpreendido com a venda da Serasa para a Experian, irlandesa especializadas em credito que comprou 70% da empresa. A partir daí o mercado modou, a luta continua e estamos tomando uma série de providencias para enfrentar o  mercado.

E como se diferenciar?
O desafio é sobreviver. A Associação tem um histórico respeitável e a confiança dos clientes. Vou lhe contar um fato que não é novidade. Mas os bancos que detinham 100% da Serasa até 2007, passaram a ser, com o tempo, nossos maiores clientes. O Bradesco, o Itaú, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal enfim, esses grandes bancos, são os nossos grandes clientes, juntamente com as lojas de varejo e que são detentores desses 30% remanescente da Serasa. Com isso, crescemos também. A rede teve um papel muito importante, as empresas de São Paulo se expandiram e se formaram redes nacionais. Hoje, quase todas são lojas de rede e essas lojas centralizaram suas informações em um único servidor e fazem consultas muitas vezes não mais por uma taxação por consulta mas até por um valor fixo.

Qual o grande desafio?
O desafio está em todos os cantos. É político também, no sentido dos bureaus lutarem contra as determinações muitas vezes governamentais, que prejudicam o setor. Ele é também de concorrência. Nós lutamos na cidade de São Paulo, nossos companheiros no interior e outros no interior do Brasil, seja ela de pessoa física ou jurídica. Mas o desafio maior que temos agora é na aprovação do cadastro positivo. O cadastro positivo é, lamentavelmente, uma conquista que ainda não temos, e que facilitaria bastante o crédito no Brasil. Ele não é regulamentado mas todos já trabalhamos. A ideia do crédito positivo, já que falamos muito de história, nasceu em 2002, logo depois da eleição do presidente Lula, que veio a São Paulo na posse do presidente da Associação (então Guilherme Afif Domingos). O Afif falou para ele que se quisesse dar aquele salto para frente que o Presidente pregava na campanha política daria através do crédito, uma vez que o crédito do nosso país é muito pequeno em relação aos países em desenvolvimento. Hoje estamos lutando para chegar a quase 40%, enquanto em países como Chile tem o dobro. Nos países desenvolvidos, superam os 100%. O presidente se interessou bastante e delegou ao ministério da Fazenda do então ministro Palocci dialogar conosco. O ministro foi muito receptivo, nomeou alguns dos seus colaboradores e nos reunimos para discutir o cadastro positivo. Trouxemos para a discussão nossos companheiros da Serasa e Equifax para termos uma legislação adequada e que pudesse finalmente fazer o crédito crescer. Mas a situação política é bastante confusa e começaram a espalhar que o cadastro positivo iria invadir a privacidade das pessoas, etc e tal. E se formou uma serie de mal entendidos, resistências, contra esse movimento. E ele que deveria ser uma iniciativa do governo, passou a receber uma série de emendas dentro da Câmara Federal e ficou distorcido. O projeto está quase impossível de aplicá-lo na prática. Hoje está parado no Senado. Existe outro projeto, também no Senado que estamos aguardando e poderemos usar plenamente o cadastro positivo. Isso não significa que esquecemos o cadastro positivo. Não. Imagine que se neste histórico tivemos dificuldade para as empresas nos confiar os seus negativos, há mais de 60 anos, imagine para eles confiarem os seus positivos.

Qual o grande problema do Projeto original?
Falamos em cadastro positivo há mais de 50 anos. O Marcel Solimeo foi estudar em outros países e ajudou a criar o projeto que ficou cheio de incongruências. Ele ajudou a implementar o conceito em outros países. Este projeto ganhou muitas incongruências sempre de cunho populista que atrapalham muito.

Onde ele contribuiu para implementar?
O Marcel Marcel é um estudioso no assunto. Existe um movimento chamado Alacred, que é a Associação dos bureaus de crédito da America que troca muitas informações . Em alguns países já temos o cadastro positivo implantado e funcionando muito bem. Não significa porém que sejamos proibidos de operar, já desenvolvemos score, já desenvolvemos rating de empresas com os dados que possuímos. Não possuímos todos porque o governo não cede dados, a Receita Federal também não cede. Procuramos fazer nosso trabalho, estabelecendo os ratings, estabelecendo os score. Hoje trabalhamos com todos os cartões de crédito, as bandeiras que nos mandam durante a noite os seus arquivos, nós passamos pelos filtros que temos 6 ou 7 anos desenvolvendo, e devolvemos na manhã seguinte com seu score, onde se estabelecem os limites para gastarmos no cartão de credito. O nosso gasto não é ilimitado, não é infinito, a partir de um certo momento ele trava. Isso é dado pelo score que fazemos internamente.

Quais os grandes benefícios da Associação para a sociedade?
Temos falado dos serviços que começaram lá em 1924 e prestamos  agora com o SCPC. Estamos falando de uma instituição fundada em 1894 e que vem acompanhando através dos tempos a evolução da nossa política e da nossa economia. Ela participou, se você pesquisar a historia do Brasil, de todos os grandes acontecimentos. Logo que foi fundada teve infinitos problemas, até de sobrevivência. Enfrentou logo no começo do século a política austera de Rui Barbosa, até a política de siliamento em 1910. Ela participou ativamente após a guerra de 1914 a 1918, a gripe espanhola que dizimou grande parte da população. A Associação lutou muito, fazendo hospitais de campanha, atendo os doentes. Depois, a Associação participou ativamente dos problemas políticos do país. Em 1924, houve a revolta dos tenentes, que vieram e bombardearam a cidade de São Paulo. O governador não quis dialogar, o presidente da Associação foi dialogar impedindo outros bombardeios. Eles se retiraram e o presidente da Associação foi preso e exilado com argumento de que ele teria aderido. Depois, em 1930 veio a revolução, a revolta constitucionalista de São Paulo, onde a associação teve uma parcela muito grande de responsabilidade. Depois passamos pelos conflitos em 1938/39, a segunda guerra mundial, a ditadura Vargas. A Associação sempre com sua posição liberal, enfrentando isso. Esses episódios influenciaram muito no nosso serviço. A Associação foi a primeira entidade a pedir publicamente a renúncia do Presidente e cumpre hoje esse papel, com porta voz de seus dirigentes e o próprio jornal, sem qualquer partidarismo.

E como é a participação no campo político?
Tivemos, através do tempo, uma série de dirigentes que serviram o governo do estado e federal. Daqui da Associação cedemos o ministro Delfim Neto, que teve influência grande no governo, no ministro da Fazenda. Depois tivemos o governador Laudo Natel, e o prefeito e governador Paulo Maluf. Hoje temos o Guilherme Afif, secretario do Trabalho, o João Sampaio, secretario da Agricultura, o Roberto Macedo, vice-presidente. Temos uma série de que servem ao governo – e acho que essa é a função da Associação. Acompanhar não só com aconselhamento, como acompanhamento, mas também participando do governo.

E o que vocês reservam para o futuro da Associação e do SCPC?
O que vemos é a necessidade de dar um salto que pode ser transformar o SCPC em uma empresa privada. É a maneira que identificamos para concorrer com os demais bureaus, ganhando agilidade e focando, principalmente no negócio e não disperso como pode acontecer com outras atividades, inclusive o jornal. Para isso estamos avaliando essa viabilidade e convidando outros investidores para participar desse formidável negócio. Existem muitos interessados e nós até o final do ano (de 2009) devemos ter uma resposta. Com visão empresarial, o SCPC poderá crescer bastante. Recursos não vão faltar. Mas principalmente a gestão deve melhorar, reunindo a nossa experiência e com uma força de trabalho mais jovem que possa levar nosso projeto avante.

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