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Os técnicos de futebol na arena dos negócios



Antes de mais nada, esse texto é tudo menos uma ode à CBF, já os tranqüilizo. Mas para aqueles que pulam o caderno de esporte, um fato muito interessante: os times que acabaram o campeonato brasileiro do ano passado nas primeiras posições são exatamente aqueles que mantiveram seus técnicos durante toda a competição – considerando a tradicional degola de treinadores quando as coisas não vão bem, isso de fato é um sinal.

 

É claro que pode parecer uma questão do ovo ou da galinha – será que os técnicos não foram trocados por que o time ia bem, ou será que o time ia bem porque os técnicos não foram trocados? Bom, informo desde já minha tese: esses técnicos sobreviveram às performances e classificações menos do que desejáveis antes de conseguir colocar suas equipes entre as melhores do país. Ou seja, eles puderam errar antes de acertar.

 

E no mundo corporativo? Não cabe aqui criticar o sistema de estabelecimento de metas, a inevitabilidade de estratégias e táticas top-down, , a pressão por resultados crescentes e contínuos. Mas a verdade é a troca de lideranças no caso de derrapadas no bottom-line da empresa, é uma constante. Vejam só esse levantamento de uma das maiores empresas de gestão de recursos humanos do mundo indica números impressionantes. Entre as 100 maiores empresas norte-americanas, nada menos do que 40 trocaram seus CMOs (Chief Marketing Officer, autoridade máxima na estrutura de marketing da organização) em apenas um ano. A média de permanência nesse cargo é de pouco mais do que 22 meses – comparado com, por exemplo, 53 meses de permanência média dos profissionais como CEO.

 

A verdade é que nos acostumamos com o entra-e-sai de executivos de marketing sem nos darmos conta do que isso significa. É muito mais do que a troca do nome da porta; é uma nova cultura, um novo projeto, novas estruturas, novos profissionais. A experiência mostra que poucos dos projetos são mantidos quando há a troca das lideranças, e essa decisão nem sempre segue os critérios objetivos que gostaríamos. Dá o que pensar, não?!

 

Outro ponto que vale a pena mencionar sobre esses mesmos times, os melhores do campeonato – de maneira geral, trocaram os nomes de sucesso que povoavam as manchetes de jornais sensacionalistas por aplicados desconhecidos. Buscavam atitude, comprometimento, integridade, dedicação.

 

Continuando com nosso paralelo: basta de semi-deuses e salvadores da pátria nas empresas; paredes forradas de diplomas e experiências dignas de aplauso. É óbvio que qualificações são importantes e ninguém seria ingênuo a ponto de afirmar o contrário. Mas mais do que nunca, o marketing das empresas precisa de atitude, gás e vontade. O que os americanos chamam de “go the extra mile”, ir mais longe do que o normal ou o esperado. Precisamos de profissionais dedicados, comprometidos e flexíveis. Parece óbvio, não?! Pois então vamos nós um pouco mais longe ver se ainda há consenso: passamos por um momento em que a atitude de um executivo conta mais do que sua capacidade técnica, em minha modesta e pontual opinião. As margens de manobra estão ficando menores, os manuais de procedimento mais específicos, os guidelines mundiais mais presentes. A capacidade de execução – mais uma para a qual estamos parcamente preparados – é a habilidade do momento.

 

Técnicos por longos períodos comandando os times brasileiros, jogadores dedicados e dispostos a cumprir seu papel com todo o comprometimento e flexibilidade. A consistência na liderança do marketing das empresas, o conforto de saber que erros podem (e irão) acontecer, e a confiança que estamos rodeados de profissionais que estão do seu lado para o que der e vier. É mais do que estamos acostumados, e mais do que sabemos fazer.

 

Marcos Calliari é diretor geral da Ipsos Insight no Brasil, economista, MBA em Insead, França e doutorando na FGV em SP. É professor do Ibmec, e viveu nos EUA e China trabalhando para multinacionais. E-mail: [email protected]

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