Marlon Tseng, CEO & cofounder da Pagsmile

Saturação dos meios de pagamento: um ponto de virada para a inovação

Mais do que oferecer múltiplas opções, trata-se de garantir uma experiência simples, confiável e integrada ao dia a dia do consumidor

Autor: Marlon Tseng

O Brasil vive um momento singular em relação aos meios de pagamento. A adoção em massa de soluções digitais, com destaque absoluto para o Pix, transformou a forma como consumidores e empresas realizam transações. O fenômeno é tão profundo que instala uma questão inevitável: estaremos diante de uma saturação desse ecossistema? E, se estivermos, qual deve ser o próximo passo para garantir inovação, competitividade e inclusão financeira?

Não há dúvida de que o setor se aproxima de um ponto de inflexão. O espaço para crescer por meio da simples expansão de métodos tradicionais parece limitado. O Pix, em pouco mais de quatro anos, alcançou mais de 150 milhões de usuários e já acumula dezenas de bilhões de transações, consolidando-se como um dos instrumentos mais revolucionários da história financeira recente. Seu avanço no comércio eletrônico é igualmente expressivo: em algumas plataformas, já representa quase metade das vendas. Porém, esse sucesso não pode ser interpretado como a linha de chegada, e sim como um convite a repensar o futuro. A saturação, nesse caso, não significa estagnação, mas a necessidade de reinventar o próprio conceito de meios de pagamento.

Quando olhamos para a América Latina como um todo, percebemos que a tendência é semelhante, ainda que marcada por especificidades locais. Os cartões de crédito seguem líderes no comércio eletrônico, mas já dividem espaço para métodos alternativos, como carteiras digitais e transferências diretas entre contas. Em 2024, esses meios alternativos somaram 46% do volume total e devem ultrapassar a metade em poucos anos. 

Na Colômbia, o sistema PSE domina as transferências e ganhou tração de 0,87% no primeiro semestre de 2025; na Argentina, as carteiras digitais já respondem por quase metade das vendas online; no México, observa-se uma ascensão acelerada das soluções alcançando 8,61%, apontando para uma possível penetração mais forte no mercado latino; e no Brasil, o Pix não apenas reinventou os pagamentos, como começa a servir de inspiração para modelos regionais.

Esse mosaico revela que a América Latina está em plena transição, migrando de um sistema dependente do plástico para uma lógica digital e instantânea, que promete ampliar a inclusão financeira e abrir novas fronteiras de inovação. Ainda assim, esse processo precisa ser encarado de forma estratégica. É preciso reconhecer que a abundância de soluções pode gerar confusão e dispersão, reduzindo a eficiência do ecossistema e tornando mais difícil a adoção em escala.

O caminho, portanto, passa por inovar não apenas em quantidade, mas sobretudo em qualidade. Pagamentos embutidos em plataformas digitais, experiências móveis que dispensam maquininhas tradicionais, soluções de iniciação de pagamento via Open Finance, tecnologias de blockchain aplicadas à segurança e à inclusão, tudo isso compõe a próxima onda de transformação que a região precisa abraçar. Mais do que oferecer múltiplas opções, trata-se de garantir uma experiência simples, confiável e integrada ao dia a dia do consumidor.

Na minha visão empresarial entendemos esse momento como uma oportunidade única. Acreditamos que a saturação não deve ser encarada como um limite, mas como um gatilho para a reinvenção. Nosso papel é ajudar a construir soluções que unam tecnologia e proximidade humana, capazes de atender às demandas locais, mas também de dialogar com um cenário global em rápida mutação. O futuro dos meios de pagamento no Brasil e na América Latina não será definido apenas pela velocidade das transações, mas pela capacidade de criar sistemas mais inteligentes, inclusivos e sustentáveis, preparados para as necessidades da era digital que está apenas começando.

Marlon Tseng é CEO & cofounder da Pagsmile.

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