Wallace Massola, head de soluções de prevenção a fraudes da TransUnion Brasil

Segurança financeira na era digital: equilíbrio entre prevenção a fraudes e experiência do cliente

Para enfrentar fraudes em constante transformação, a segurança digital precisa atuar de forma integrada e antecipada ao longo de toda a jornada do cliente

Autor: Wallace Massola

A preferência dos consumidores por canais digitais tem impulsionado uma nova era nas transações financeiras no Brasil. Em 2024, 82% das transações bancárias foram realizadas por meios digitais, incluindo mobile banking, internet banking e aplicativos de mensagens. E o crescimento nas transações via smartphone é ainda mais notável: no ano passado, 75% delas foram a partir de um aparelho de celular. Esses dados, da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2025, ressaltam a importância de uma experiência digital completa, acessível e, acima de tudo, segura.

Apesar do avanço, surge uma questão pertinente: a segurança digital acompanhou essa mesma velocidade de digitalização da sociedade? As tentativas de fraude digital permanecem em níveis elevados, tanto no Brasil quanto globalmente. Isso indica que os fraudadores continuam mobilizados e elaborando métodos cada vez mais sofisticados para capturar suas vítimas. Segundo o Relatório Global de Tendências de Fraude Omnichannel da TransUnion, o Brasil está entre os sete mercados que registraram índices de fraude digital acima da média global – que foi de 5,4% em 2024 -, ao lado de Canadá, Colômbia, República Dominicana, Hong Kong, Índia e Filipinas. A taxa média de tentativas suspeitas de fraude em transações realizadas por consumidores dentro do Brasil foi de 6,1% em 2024, a sexta mais alta entre os quase 20 mercados analisados.

Em 2022, 83% das empresas brasileiras já previam um aumento nos gastos com segurança digital, superando a média global de 69%. Instituições financeiras, por exemplo, elevaram seus gastos em 14% entre 2022 e 2024 devido ao crescimento de ataques de fraude e roubo de identidade. Similarmente, empresas de e-commerce ampliaram seus recursos em 18% em 2023 para oferecer um ambiente online mais seguro, impulsionadas pelo crescimento das tentativas de fraude. No entanto, mesmo com esses investimentos, os índices de fraude não têm diminuído. A razão para isso é que os fraudadores estão mudando suas estratégias.

O foco das fraudes evoluiu. Se antes os ataques estavam concentrados nas transações em si, hoje o maior risco está na proliferação de golpes sofisticados, invasões de contas e na diversificação dos alvos entre diferentes setores. Os fraudadores utilizam um arsenal tecnológico avançado para burlar sistemas de segurança com agilidade e precisão. Entre os recursos mais comuns estão emuladores de dispositivos, que simulam smartphones reais; proxies e VPNs, que mascaram a origem do acesso; e bots, usados para automatizar ataques em larga escala. Ferramentas baseadas em Inteligência Artificial também entram em cena, permitindo simular comportamentos legítimos e dificultar a detecção de fraudes.

E, embora consumidores estejam cada vez mais atentos à segurança digital e em fazer negócios com empresas que protejam seus dados pessoais, o mais recente Relatório Global de Tendências de Fraudes Omnichannel da TransUnion também revelou que 67% das pessoas querem processos de pagamento fácil e 62% buscam facilidade de login e autenticação. Ou seja, a relação entre segurança e experiência do usuário anda de mãos dadas e deve ser considerada, especialmente entre diferentes gerações, para manter a competitividade. Os mais jovens tendem a refutar métodos de autenticação tradicionais, enquanto as gerações mais velhas frequentemente enfrentam dificuldades ao interagir com esses métodos. Em outro estudo, os problemas comuns reportados pelos consumidores em processos de autenticação incluem o aplicativo fechar sozinho (26,70%), erros ao enviar fotos de documentos (23,30%) e erros de biometria (16,70%).

Para enfrentar fraudes em constante transformação, a segurança digital precisa atuar de forma integrada e antecipada ao longo de toda a jornada do cliente. As soluções mais eficazes utilizam análises de risco invisíveis de ponta a ponta, que avaliam em tempo real variáveis como reputação do dispositivo, comportamento de navegação, localização e histórico de transações. A autenticação visível é aplicada apenas em cenários de alto risco, o que ajuda a evitar impactos desnecessários na experiência do cliente. Essa inteligência é possível graças a modelos avançados de IA e machine learning, que cruzam dados de múltiplas fontes — internas e externas — e operam em plataformas escaláveis, capazes de adaptar decisões com agilidade a novos padrões de fraude.

Essas estratégias combinam várias camadas de inteligência analítica, incluindo avaliação de reputação de IPs com base em listas de risco, análise geográfica de ameaças e monitoramento contínuo do comportamento online e transacional. A reputação de dispositivos e identidades digitais — com visão multimercado e histórico de marcações de fraude — é correlacionada a uma base global de inteligência contra ameaças. Essa estrutura é sustentada por sistemas inteligentes que tomam decisões em tempo real, com base em sinais de risco e no comportamento do usuário. A partir de gatilhos automatizados e modelos preditivos, é possível identificar desvios suspeitos e agir rapidamente, garantindo proteção contínua sem comprometer a fluidez da experiência digital.

Diante do cenário de aceleração digital no Brasil e da persistência de ameaças de fraude cada vez mais sofisticadas, torna-se evidente que a segurança digital não pode ser uma barreira, mas sim um facilitador da experiência do usuário. O desafio reside em equilibrar a conveniência desejada pelos consumidores com a proteção robusta contra fraudes, especialmente considerando as diferenças geracionais na interação com a tecnologia. Para mitigar riscos e construir a confiança do consumidor, é crucial que as instituições financeiras e empresas adotem uma abordagem proativa e inteligente, investindo em soluções de segurança que operem de forma invisível, analisando riscos e comportamentos em tempo real. Somente através da combinação de tecnologia avançada, análise de dados e conscientização contínua, será possível construir um ecossistema digital para prevenção a fraudes e melhor experiência aos consumidores na medida certa.

Wallace Massola é head de soluções de prevenção a fraudes da TransUnion Brasil.

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