O verdadeiro poder está na integração entre os dados on-line e off-line, criando uma visão holística da jornada do cliente
Autor: Kadu Sousa
Vivemos em um mundo dominado por dados. A cada clique, interação e movimento, geramos informações que alimentam algoritmos e moldam estratégias empresariais. No entanto, como bem pontua Ricardo Cappra, em seu artigo O Mito do Dado, publicado pelo MIT Technology Review, há uma crença equivocada de que os dados, por si só, oferecem respostas definitivas e infalíveis. Sem inteligência por trás, dados são apenas registros brutos, incapazes de gerar impacto real.
A pandemia da Covid-19 acelerou a digitalização e consolidou a dataficação, tornando as métricas digitais essenciais para entender comportamentos de consumo. Mas, em meio à corrida por números, esquecemos algo fundamental: o mundo físico. A transposição de conceitos do digital para o ambiente off-line enfrenta desafios, principalmente pela ausência de um vocabulário adequado para traduzir experiências reais em métricas tangíveis.
Dados sem contexto: o perigo das decisões cegas
A coleta massiva de dados nos faz acreditar que sabemos mais do que realmente sabemos. Números de engajamento, tempo de permanência e taxas de conversão são valiosos no digital, mas como interpretar esses mesmos conceitos no ambiente físico? Como medir o real impacto de uma experiência presencial sem cair na armadilha de tratar interações humanas como meros registros estatísticos?
O perigo dessa ilusão de conhecimento reside na ausência de inteligência interpretativa. Sem um olhar estratégico, os dados podem levar a decisões equivocadas, baseadas em correlações superficiais e não em causas reais. Uma métrica isolada pode sugerir uma tendência, mas sem a compreensão do comportamento humano e do contexto, qualquer análise se torna rasa e, muitas vezes, enganosa.
O valor do ambiente físico na era digital
Empresas que focam apenas no digital perdem a oportunidade de entender as nuances do comportamento no mundo físico. A interação humana não pode ser reduzida a números frios, pois há fatores subjetivos que influenciam uma decisão de compra ou a experiência de um consumidor em um espaço físico.
O desafio, porém, não está apenas em coletar dados do mundo físico, mas em interpretá-los corretamente. Como sugere Shoshana Zuboff em The Age of Surveillance Capitalism, vivemos na era do capitalismo de vigilância, onde dados são considerados o novo petróleo. Mas, para que esse “petróleo” gere valor real, ele precisa ser refinado com inteligência estratégica e um olhar humano.
A verdadeira transformação digital é integrativa
Acreditar que apenas dados digitais são suficientes para entender o comportamento do consumidor é um erro. O verdadeiro poder está na integração entre os dados on-line e off-line, criando uma visão holística da jornada do cliente. Em vez de enxergar o digital e o físico como opostos, devemos combiná-los para gerar insights mais profundos e estratégias mais eficazes.
Minha provocação ao mercado é: estamos prontos para olhar além dos dashboards e enxergar a realidade como ela é? Dados sem inteligência são apenas ruídos. A chave para o sucesso não está na quantidade de informações que coletamos, mas na forma como as interpretamos e utilizamos para gerar valor real.
Afinal, tecnologia só faz sentido quando colocada a serviço das pessoas, e não o contrário.
Kadu Sousa é CEO da AudienSee.ai.