Daniel Campos Neto, especialista em Recursos Humanos e presidente da EDC Group

Além de liderar: como preparar quem vai guiar o futuro

É preciso desenvolver habilidades humanas, especialmente em um cenário altamente digitalizado

Autor: Daniel M. Campos Neto

Vivemos uma era de transformações profundas, impulsionadas por avanços tecnológicos, alta digitalização, mudanças sociais e desafios ambientais sem precedentes. Nesse cenário, a liderança tradicional, baseada em hierarquias rígidas e controle centralizado, mostra-se insuficiente para lidar com a complexidade e a velocidade dessas alterações.

Surge, portanto, a necessidade de desenvolver líderes capazes de navegar por essas águas turbulentas, guiando suas equipes com visão, empatia e adaptabilidade. Entretanto, essa formação não é apenas uma questão de capacitação técnica, mas envolve uma transformação pessoal e organizacional, conforme exploraremos.

O que faz um bom líder?

No século XXI, a liderança eficaz combina habilidades interpessoais, visão estratégica e conduta ética. A inteligência emocional, por exemplo, é uma das competências mais valorizadas hoje, segundo pesquisa realizada pela TOTVS, já que ela permite ao líder compreender motivações, gerenciar conflitos e engajar pessoas.

Porém, mais do que comandar, o líder moderno precisa inspirar. Isso significa ter uma visão definida do futuro e saber compartilhá-la com clareza, de forma que todos entendam não apenas o que deve ser feito, mas porque isso importa. Essa capacidade de alinhar propósito e ação é o que transforma metas em movimentos coletivos. 

Um ponto fundamental, no entanto, é que não basta liderar bem. O verdadeiro papel de um líder é também preparar outros para realizar a gestão. Cultivar sucessores com pensamento crítico, valores sólidos e vontade de aprender é um dos maiores legados que alguém pode deixar dentro de uma organização.

Liderança na era da tecnologia

Com a aceleração da transformação digital, a liderança passa por um processo de reinvenção. A incorporação de tecnologias como inteligência artificial, big data, automação e ferramentas de colaboração remota está mudando a forma como equipes trabalham, tomam decisões e se relacionam. Nesse contexto, espera-se que os líderes não apenas acompanhem essas mudanças, mas que sejam protagonistas na integração estratégica dessas tecnologias ao negócio.

Segundo um estudo da Microsoft, 75% das micro, pequenas e médias empresas brasileiras estão otimistas quanto ao impacto da inteligência artificial em seus negócios. Esse otimismo revela que a mentalidade aberta à inovação não é exclusiva das gigantes corporações e deixa claro que o mercado já espera líderes preparados para incorporar a IA em suas estratégias.

As gerações futuras e a nova face da liderança

De acordo com um levantamento do Instituto da Oportunidade Social (IOS), 64% dos jovens da Geração Z querem ser líderes. Desses, 71% pretendem conduzir equipes inspiradas em um modelo de chefe mais próximo e acessível, que conversa sobre temas além do trabalho.

Por crescerem em uma transição para o mundo digital, dinâmico e altamente conectado, membros dessa geração foram impactados diretamente na forma como enxergam o trabalho, o poder e a liderança. Se antes, valorizava-se a estabilidade e ascensão linear, atualmente, os jovens buscam propósito, autenticidade e impacto real em suas ações.

Outra característica marcante desses futuros líderes é a abertura ao aprendizado contínuo. Cientes da velocidade das mudanças e da obsolescência acelerada das competências, eles se mostram mais dispostos a experimentar, errar, corrigir e recomeçar. Essa mentalidade ágil e flexível será um dos diferenciais mais importantes na liderança do amanhã, onde a capacidade de adaptação será tão ou mais valiosa do que a experiência acumulada.

Então, como preparar?

Como pudemos perceber, preparar os líderes do futuro vai além de cursos e treinamentos técnicos. É preciso desenvolver habilidades humanas, especialmente em um cenário altamente digitalizado. Para isso, vale investir em experiências práticas, mentorias e metodologias que estimulem a reflexão e a adaptação constante.

As empresas também têm um papel ativo nesse processo. Preparar alguém para liderar não é apenas ensinar como delegar, mas abrir espaço para protagonismo. Jovens talentos devem ser incentivados a conduzir projetos, participar de decisões e experimentar diferentes contextos. Formar líderes é um ato contínuo, que começa muito antes de um cargo formal.

O papel do liderado

No entanto, preparar líderes é apenas metade da equação. Para que a relação funcione, também é preciso letrar os liderados (especialmente as novas gerações) sobre como receber orientação, lidar com pressão e evoluir a partir de devolutivas. Não basta apenas acreditar que eles são reclamões, fracos ou dramáticos.

Os jovens não rejeitam críticas, como muitos acreditam. Eles rejeitam processos pouco claros, demorados ou agressivos. Portanto, cabe aos líderes construírem diálogos mais objetivos, frequentes e focados nas possibilidades de melhoria e não na análise de falhas passadas. Por outro lado, o líder deve explicar que o trabalho exige seriedade, comprometimento e responsabilidade.

Crescer profissionalmente envolve saber lidar com expectativas, prazos e retornos construtivos, incluindo aqueles mais desafiadores. Se é papel da liderança adaptar sua forma de comunicação e criar ambientes mais seguros e acolhedores, também é importante que os profissionais em início de carreira compreendam as dinâmicas do mundo corporativo e estejam abertos a aprender, se desenvolver e amadurecer dentro dele.

A liderança do futuro será cada vez mais transversal, conectada e colaborativa, exigindo uma mudança de mentalidade dos líderes e das organizações. Ao cultivar essas qualidades, e educar quem será liderado, estaremos não apenas formando chefes mais eficazes, mas também construindo organizações mais resilientes, inovadoras e alinhadas com os valores da sociedade contemporânea.

Daniel Campos Neto é especialista em Recursos Humanos e presidente da EDC Group.

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