Brasileiro passa de espectador a protagonista da vida financeira

Pesquisa do Itaú em parceria com o Grupo Consumoteca junto a 5 mil brasileiros mostra que o desejo por estabilidade deu lugar à busca por prosperidade, autonomia e bem-estar financeiro

O brasileiro deixou de ser espectador para se tornar protagonista de sua vida financeira. Essa transformação é revelada pela pesquisa “Consciência e prosperidade: a nova relação do brasileiro com o dinheiro”, realizada pelo Itaú Unibanco em parceria com o Grupo Consumoteca, que mapeou as mudanças comportamentais dos últimos 45 anos na relação do brasileiro com o dinheiro. Realizado com 5 mil pessoas, em 15 estados brasileiros, o estudo revelou que o desejo por estabilidade deu lugar para uma busca por prosperidade, apoiada em múltiplas estratégias de renda, investimento e educação com o objetivo de alcançar o bem-estar financeiro.

Com a estabilização da economia após o Plano Real e com a evolução da tecnologia aplicada aos serviços financeiros, as gerações seguintes passaram a associar prosperidade também à capacidade de investir, consumir de forma planejada e construir patrimônio. Essa mudança é especialmente visível entre os jovens: oito em cada dez brasileiros da geração Z acreditam que terão um padrão de vida superior ao de seus pais, em contraste com gerações anteriores, que priorizavam apenas estabilidade em meio a cenários mais instáveis.

A pesquisa mostra ainda que 83% dos brasileiros buscam novas formas de lidar com as finanças, priorizando diversificação, autonomia e estratégias inteligentes de investimento. Entre os principais interesses estão investir para gerar renda passiva (49%), empreender e criar o próprio negócio (45%) e investir em educação, capacitação e cursos (41%).

O estudo revelou que as mudanças de comportamento financeiro não são meramente geracionais, e sim uma transformação que acomete todas as pessoas, independentemente de idade, faixa de renda ou região. Esse novo ideal cultural se reflete também no papel do crédito como um aliado para prosperar: 71% dos participantes da pesquisa enxergam o crédito como algo positivo quando bem utilizado. Além disso, 60% afirmam que considerariam financiar compras se tivessem mais conhecimento sobre o tema, em contraponto a uma ideia histórica de parte da população que enxergava o financiamento apenas como uma dívida. Cada vez mais, contudo, as pessoas passaram a enxergá-lo como uma alavanca para prosperar.

A postura reflete um comportamento mais racional, que busca equilíbrio entre cautela e oportunidade. Essa mudança aparece também na relação com os bancos: enquanto no passado as instituições financeiras eram vistas majoritariamente como local transacional e para guardar dinheiro, hoje apenas 22% mantêm essa visão, em contraste com 41% que já consideram que o banco possui um papel mais consultivo, como um aliado estratégico para organizar finanças, orientar decisões e apoiar projetos de prosperidade.

A quebra do tabu financeiro

O desejo por autonomia também é acompanhado por uma mudança cultural, com 78% afirmando não sentir mais desconforto em falar de dinheiro, rompendo um tabu histórico. Para o antropólogo Michel Alcoforado, sócio-fundador do Grupo Consumoteca, esse movimento traduz transformações sociais mais amplas: “O dinheiro deixou de ser apenas um instrumento de sobrevivência para se tornar um marcador de identidade, valores e aspirações. Nos anos 80, estabilidade significava não passar necessidade. Nos anos 90 e 2000, consumo era sinônimo de inclusão social. Hoje, na era da inteligência assistiva, o brasileiro busca prosperar com autonomia, segurança e controle sobre suas escolhas. A relação com o dinheiro é, ao mesmo tempo, econômica, cultural e emocional”.

A busca por prosperidade

A pesquisa mostrou que 83% dos brasileiros acreditam que investir é essencial para garantir o futuro. Essa visão se conecta com o conceito de bem-estar financeiro, que se apoia em quatro pilares fundamentais: controle, resiliência, liberdade de escolha e planejamento.

“Bem-estar financeiro não é apenas sobre acúmulo, é sobre tomar as melhores decisões financeiras em cada momento: ações que colocam a pessoa no comando do seu dia a dia, preparada para imprevistos e com autonomia para fazer escolhas que tragam qualidade de vida. No contexto brasileiro, isso significa reduzir o estresse de lidar com dinheiro e construir, de forma consciente, um caminho para atingir objetivos de curto, médio e longo prazo. Hoje, o tema deixou de ser individual e passou a fazer parte das conversas — entre famílias, casais e amigos — como parte de um debate sobre escolhas inteligentes e planos de vida”, analisou João Araújo, diretor de estratégia e ciclo de vida do cliente do Itaú Unibanco.

Inteligência artificial como copiloto

O avanço da tecnologia acrescenta uma nova camada a essa trajetória cultural. Dois em cada três brasileiros afirmam que gostariam de contar com a inteligência artificial como apoio para tomar decisões financeiras mais conscientes e informadas. Esse desejo de ter a tecnologia como “copiloto”, e não como “piloto automático”, revela um comportamento marcado pela busca de autonomia acompanhada de orientação.

Entre os recursos mais valorizados estão relatórios detalhados sobre gastos (37%), assistentes virtuais que ofereçam aconselhamento financeiro (34%) e relatórios automatizados nos aplicativos, demanda ainda mais forte entre a Geração Z (43%). “Nessa nova era da inteligência assistiva, as pessoas esperam proximidade, personalização e suporte ativo no dia a dia. A tecnologia aparece como resposta a uma demanda por equilíbrio: manter a autonomia das escolhas, mas com suporte consultivo que ajude a reduzir o peso emocional das decisões financeiras”, complementou Alcoforado.

Metodologia

A pesquisa “Consciência e prosperidade: a nova relação do brasileiro com o dinheiro”, realizada pelo Grupo Consumoteca e encomendada pelo Itaú Unibanco, ouviu cerca de 5 mil pessoas, em 15 estados brasileiros, durante os meses de abril e maio de 2025. A amostra é representativa da população brasileira com 18 anos ou mais. O levantamento buscou mapear percepções, hábitos e comportamentos financeiros de diferentes gerações, com margem de erro de aproximadamente 2,8 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.

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