Autor: Edilson Menezes
Insira uma vogal aqui. Retire uma consoante ali. Está pronta a receita para reprogramar o cérebro e refletir ao invés de entristecer-se.
Espere, não é assim tão simples. Deixe-me aprofundar a reflexão:
O lado esquerdo de nosso cérebro é um quantificador competente, capaz de cruzar informações, calcular sua influência e aprovar o uso desta informação, seja qual for e tenha o efeito que for, negativo ou positivo.
Em outras palavras, além de excelente negociador, o cérebro aguarda comandos e se não recebe, atende à programação padronizada. Logo, se a pessoa está deprimida, tudo que o cérebro tem a fazer é municiá-la de lembranças pesarosas para mantê-la no mesmo estado padronizado e letárgico de tristeza, afinal a depressão é parte de um processo que não se instala do dia para a noite e sim como fruto da padronização demandada há algum tempo.
Sem dúvida, não estou fazendo uma proposta ilusória baseada em sopa de letrinhas e tampouco tenciono subestimar o inquestionável poder que a depressão tem. Minha proposta é alterar a programação da informação.
A expressão depreender encontra (ou deveria encontrar) abrangente eco filosófico em nosso sistema, já que sugere deduzir, perceber um sentido metafórico, subjetivo. A expressão deprimir, entretanto, gera só uma compreensão: entristecer.
Imagine uma pessoa que começa a entristecer-se e assim que percebe o assédio da depressão, dá o seguinte comando para o cérebro:
– Não se deprima. Depreenda o que esta tristeza tem a ensinar e reaja!
Dar um comando direto para o cérebro pode parecer loucura para você? Para muitos, haveria de parecer loucura permitir que a mente adoeça o corpo, pois a depressão se estabelece sozinha, mas é eficiente para recrutar malefícios físicos e manter a pessoa algemada enquanto a chave da algema vai ficando cada vez mais bem escondida.
O esgotamento físico decorrente do excesso e do estresse profissional não escolhe perfis. A pessoa tímida não é exatamente a mais propensa a deprimir-se diante da pressão. O mercado soma incontáveis casos de pessoas descoladas que tombaram emocionalmente.
Enquanto isso, no recôndito do lar, a tristeza vivenciada pode acometer solteiros, casados, jovens e experientes.
Ninguém, em nenhuma etapa da vida, estará incólume diante do assédio da depressão e como não existe vacina química, é preciso gerar uma vacina neurológica.
Não é uma questão de ceticismo ou esperança. Eu não posso convencer você a acreditar num poder subliminar que reina em seu cérebro se você ao menos pensa que tenha algum poder sobre a máquina que norteia sua vida. De outra forma, não posso pedir que deposite em si a esperança de que conseguirá dar comandos diretos ao cérebro, pois não se trata apenas de fé. É também uma questão de lógica. Afinal, se a fé fosse suficiente para aplacar a poderosa depressão, não testemunharíamos tantos religiosos sucumbirem ao nocivo processo.
A fé é bem-vinda como parte do fator de blindagem. Porém, é preciso reforçar a espessura do escudo e o ato de depreender sobre o que “está rolando” conosco é uma opção muito válida.
Há outro segredo e podemos nos inspirar nos militares: o sonho de todo general é ter seus batalhões equilibrados aos do inimigo nos quesitos força, resistência e motivação.
Encarando o processo do positivismo como exercício diário, depreender funciona como excelente vacina contra a depressão, mas é um processo que deve ter a mesma força, resistência e motivação.
O exercício de depreender não pode ser corretivo. Depois que a pessoa já foi envolvida e comprometida, depreender será uma palavra bonita de pouca ou nenhuma utilidade.
Depreenda diariamente sobre tudo aquilo que lhe cerca. Aprenda com a tristeza e se fortaleça com a felicidade. Não ouse fazer ao contrário, pois o mundo está repleto de pessoas que aprendem com a felicidade, mas se fortalecem com a tristeza.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])