Autora: Cláudia Rossi
Qual empresário não gostaria de ter uma equipe motivada, saudável, feliz, apresentando níveis crescentes de produtividade? A resposta é óbvia. Porém, um longo caminho precisa ser percorrido para se chegar neste estágio. O primeiro passo é encarar os custos na melhoria das condições de trabalho como investimento e não como gasto.
Neste sentido, uma indústria que ofereça um ambiente adequado e incentive a ginástica laboral como forma de prevenir Ler/Dort (Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), estará contribuindo para reduzir as doenças ocupacionais tais como condilite, síndrome do túnel do carpo, tendinite e bursite, que atingem milhares de trabalhadores. São doenças que se desenvolvem lentamente, com sintomas difíceis de serem identificados, mas que podem afastar definitivamente um trabalhador de seu ambiente de trabalho. E, neste caso, o custo para a empresa é bem maior e pode dar muita dor de cabeça.
Segundo dados do Programa Nacional de Prevenção às Ler/Dort, esta é a segunda causa de afastamento do trabalho no Brasil. Além do afastamento, soma-se os trabalhadores que entram na Justiça para solicitar o reconhecimento do nexo causal, ou seja, do vínculo entre a conduta do agente e o resultado por ela produzido. Somente no primeiro ano de afastamento do funcionário, as empresas gastam cerca de R$ 90 mil.
Para evitar as lesões, prevenir é melhor que medicar. Até porque, em alguns casos, os tratamentos são demorados e causam sofrimento, incapacidades e longos períodos de afastamento. Estima-se que a cada 100 trabalhadores na região Sudeste um é portador de Ler/Dort.
A cultura organizacional brasileira ainda insiste em acreditar que os investimentos em ergonomia são gastos que devem ficar em segundo plano. Ou então, que os dez minutos reservados para a ginástica laboral atrapalharão o tempo precioso do trabalhador, causando dispersão no seu retorno às atividades profissionais. Grande engano. Projetos de design dos postos de trabalho voltados à ergonomia estão diretamente associados à produtividade e criatividade da equipe. E mais: ginástica laboral, pausas ao longo do dia, rotatividade das tarefas, entre outras ações, são necessárias para minimizar os problemas causados quando a empresa não dispensa atenção à arquitetura dos postos de trabalho e aos cuidados com a saúde de seus funcionários.
A ergonomia, nos tempos de hoje, precisa ser pensada como ferramenta e estratégia empresarial para garantir o bem estar dos colaboradores e para o andamento da empresa como um todo. Um trabalho adequado pode e deve ser executado ao longo de toda a vida, sem que a saúde do trabalhador precise sofrer danos por causa disso.
A primeira falha ergonômica comum em muitos locais de trabalho diz respeito às mesas e cadeiras. O correto é que sejam ajustáveis à altura do usuário, garantindo que sua coluna permaneça ereta (formando um ângulo de 90º) enquanto trabalha – evitando que flexione o corpo. As mesas devem ter, ainda, espaço livre para permitir o movimento das pernas. O ideal é que as bordas sejam arredondadas, para evitar a compressão mecânica sobre os antebraços. As cadeiras precisam ter apoio de antebraço para os cotovelos, o encosto deve ser ajustável e o assento da cadeira deve ter regulagem de altura e rodinhas. Completam essa lista os cuidados com a iluminação e a acústica.
Tão importante quanto o mobiliário adequado é a conscientização postural dos funcionários, que não devem sentar sobre o sacro (de forma escorregada na cadeira) e sim sobre os ísquios (ossinhos do bumbum). Todos devem participar dos programas de ginástica laboral bem como exercitar-se fora da empresa com regularidade. A cultura da atividade física precisa ser encampada por todos os trabalhadores, para seu bem-estar físico e mental.
O conceito do trabalho saudável já vem sendo incorporado por muitas empresas, que seguem cuidados básicos e mantêm fisioterapeutas, ergonomistas, professores de educação física e consultores para cuidar de seus funcionários. Os benefícios são claros: diminuição da incidência de doenças – e conseqüente redução de absenteísmo -, mais motivação e disposição ao trabalho e menos atritos sindicais causados pelas doenças ocupacionais. Empresários que seguirem esta receita estarão trilhando o caminho certo para promover a qualidade de vida de seus funcionários.
Cláudia Rossi é fisioterapeuta e ergonomista da CNRossi Ergonomia.