Autor: Edilson Menezes
A última cortina que a treva da noite estendera é subitamente retirada. O relógio aponta 5h50m. As últimas horas tinham testemunhado uma chuva torrencial, acompanhada pelo trio que sempre deixa a tempestade mais assustadora: rajadas uivantes de vento, trovões ruidosos e raios que iluminam o espetáculo natural.
Você já teve a oportunidade de reparar no movimento do mar após uma tempestade? Os especialistas classificam esse aumento da atividade marítima costeira como ressaca. Quando a tempestade se foi, fui até a orla apreciar o mar. Há uma beleza agressiva e ímpar no mar revolto e aqui começa a analogia que pretendo dividir.
O movimento do mar em revolta é irregular e imprevisível. A relativa ordem no caos de tanta água acumulada se altera.
Já reparou como agem as pessoas que chegam ao trabalho revoltadas? Acaso não se comportam com a mesma irregularidade e imprevisibilidade?
O mar tem motivos justos para a revolta. Foi remexido, sacudido, teve sua estrutura alterada pela autoridade do elemento ar, com seu poderoso vento. Já em nosso caso, ninguém tem autoridade para nos deixar em fúria. Se ficamos, a autorização foi íntima. Algum tempo depois, o mar estará novamente sereno. Já o ser humano precisará de muito tempo, às vezes, da vida inteira, para dar um novo significado à raiva que sentiu aqui e acolá.
Voltando ao momento no qual eu contemplava a agitação do mar, olhei para o céu, ainda nublado. Um agitado grupo de gaivotas voava.
Quem é amante da contemplação já deve ter reparado que as gaivotas reduzem esforço físico durante o voo. Procuram sempre uma corrente de ar para plainarem e, quando conseguem, o espetáculo de quem as observa é garantido.
Neste caso, entretanto, o grupo voava com dificuldade. A gaivota líder, evidentemente destacada, procurava ao mesmo tempo encontrar a corrente de ar certa e manter o agrupamento das companheiras. Após muito esforço, acabaram todas pousando na areia, exaustas, mas aproximadamente três minutos depois, estavam de volta ao ar. Afinal, é lá de cima que se enxerga o sucesso; no caso delas, o alimento, e desta vez subiram mais alto, até finalmente encontrarem o ponto certo. Conseguiram plainar e olhar para o mar. Foi nesse instante que outra análoga inspiração com a vida humana se fez valer.
Você conhece alguém que costuma dizer algo parecido com isso?
– O meu maior sonho é fracassar na carreira!
Sim, eu já sei a sua resposta. Portanto, se o desejo de decolar na carreira é unânime, porque a maioria insiste em ficar no solo, observando a minoria quem tem sucesso?
As gaivotas voam em formação “V” para reduzir o atrito e aumentar sua resistência. Muitos de nós queremos voar e vencer sozinhos.
Por cultura, a minoria de nós vai buscar informações em pesquisas, treinamentos e afins. Quando voltamos, munidos de novidades, evoluímos um degrau e queremos dividir o aprendizado, mas a maioria não quer escutar.
Entre as gaivotas, quando saem da formação “V” e sentem a pancada do atrito, aprendem que não devem ser egoístas. Voltam rapidamente à formação porque percebem que juntas podem ir mais longe. Em sociedade, muitos usam algum jeitinho para tirar vantagem e deixar os semelhantes ao sabor do vento. Para amainar o peso da consciência, ainda dizem:
– Paciência, o mundo é dos espertos!
As gaivotas que voam na parte de trás da formação “V” grasnam alto para motivar aquelas que estão na frente. Nas empresas, o grupo conduzido pela liderança se reúne para fofocar sobre quão erradas têm sido as decisões.
A culpa é desse grupo? Não existem culpados, mas com treinamento e educação empresarial, aumenta-se a chance de tê-los tão comprometidos quanto as gaivotas.
Em geral, um dia depois da demonstração de fúria que o mar e o vento apresentaram, após o teste de força e resistência aos quais foram submetidos todos os seres que dependem do mar, inclusive nossas protagonistas gaivotas, novamente o esplendor do sol radiante vem marcar um novo ciclo. Como Darwin previu, os mais fortes de cada espécie sobreviverão.
Força não é apenas uma questão física. Para nós, seres humanos, tudo é força: resiliência, coragem, fé em algo maior ou em si, disposição, empenho, paciência e a principal força motriz: o amor, que tudo transforma.
A vida pessoal, em plenitude e equilíbrio, transforma o amor que se sentirá pelo trabalho.
O trabalho, feito com qualidade total, devoção e arte, inspira e aumenta o amor pela vida pessoal.
Já a fúria que você sente, em qualquer dos ambientes, pode mostrar uma faceta moderna e comportamental do que defendeu o Darwinismo: o mais fraco sucumbirá, não por falta de força, mas por ausência de amor.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])