Autor: Sílvio Celestino
Afinal, o que aconteceu com os planos de carreira? Como alguém pode decidir trabalhar em uma empresa que não apresente uma organização mínima das carreiras de seus funcionários, para que estes possam prever o futuro profissional? Teriam as empresas negligenciado esses planos?
Pelo contrário, algumas apresentam estruturas de cargos e salários muito bem montadas. Ao longo do tempo, têm se aprimorado em definir de forma cada vez mais objetiva o que esperam de seus funcionários para que assumam determinadas posições. Em alguns setores beneficiados pela recente fase de alívio tributário, como o automobilístico, encontramos empresas com essas definições estabelecidas em sua intranet, com acesso a todos os funcionários, incluindo os cursos que devem fazer para se candidatar a cargos mais elevados. Os departamentos de recursos humanos, em alguns casos, utilizam teses reconhecidas internacionalmente na estruturação dos cargos nas empresas. A questão não é essa.
O que aconteceu com o plano de carreira dos 83 mil demitidos na indústria brasileira em março? O que aconteceu com o plano de carreira de quem trabalhava na Kodak? E na fábrica da GM em São José dos Campos, São Paulo?
E a situação das 11.200 pessoas que serão demitidas da Peugeot na França nos próximos dois anos? Sim, a situação está difícil também para os trabalhadores em outros países.
A conclusão é que as empresas não têm condições de oferecer um plano de carreira, porque estão em uma luta de vida ou morte pela própria sobrevivência. Querer que elas se salvem e também resguardem alguns empregos é pedir muito. Querer que elas se salvem, defendam alguns empregos e ainda ofereçam um plano de carreira estruturado é pedir o impossível.
O plano, neste momento, é: permanecer vivo.
E a situação não está muito boa para os funcionários públicos no mundo: a Grécia deverá demitir 15 mil, e Portugal, 30 mil. Em algum momento, o peso dos servidores nos países em crise fará seus governos tomar medidas idênticas.
É hora de inverter os papéis: você é quem deve pensar em seu propósito profissional, planejar sua carreira e escolher as empresas que estão aptas a fazer parte do plano. Procurar se informar em quais áreas essas companhias estão investindo, e se os propósitos delas estão alinhados ao seu. Tornar-se um profissional com excelência e classe internacional, preparado para trabalhar onde estiver a oportunidade e criar maiores áreas geográficas para atuar (se você fala inglês, o mundo é o limite).
Lembre-se também de que nenhum plano de carreira está acima dos aspectos políticos da empresa. Saiba desenvolver suas habilidades de relacionamento e montar uma rede de contatos relevantes para sua promoção.
Também nunca perca de vista que você está em uma competição: afinal, o que você imagina que as pessoas com a mesma formação e carreira que a sua estão querendo neste exato momento? O mesmo que você! Portanto, não basta possuir as competências de sua profissão, você precisa aprender a apresentá-las, ter a imagem, a comunicação e a postura de alguém de credibilidade. A propósito, um plano de carreira pensado somente sobre competências técnicas é ilusório, não caia nessa armadilha. Tenha interesse pelas competências de liderança. Afinal, ao se aproximar dos 40 anos, suas habilidades em formar pessoas, selecionar, desenvolver e avaliar profissionais serão consideradas as mais relevantes.
Por último, fique atento a que, nas empresas, há sutilezas, entrelinhas e paradoxos que jamais figurarão em um texto, mas isso não impede que você aprenda essas questões.
Criar um plano de carreira é complexo, mas é a melhor forma de você desenvolver-se, assegurar um futuro profissional e começar a viver conectado à realidade. Vamos em frente!
Sílvio Celestino é sócio-fundador da Alliance Coaching.