A percepção do cliente, na Bolsa

No início do mês, a Atento fez sua oferta inicial de ações na Bolsa de Nova Iorque (NYSE). Logo de cara, a empresa viu o valor de suas ações caírem. Começou a US$ 13,75 e fecharam cotadas a US$ 12,96, baixa de 13,60%, com volume de 7 milhões de ações negociadas. Mas ainda é cedo para dizer qualquer coisa sobre o desempenho da companhia na NYSE. O que essa notícia chama a atenção é para o fato de ser poucas as empresas do mercado de gestão de clientes que estão na Bolsa. Hoje, das companhias que atuam no Brasil, apenas seis tem o capital aberto. Contax e CSU na Bovespa, Atento e Sitel na NYSE, Teletech na Nasdaq e Teleperformance na Euronext. Um número pequeno, dada a dimensão desse mercado. Na visão do presidente Magliano Corretora, Raymundo Magliano Neto, isso acontece por uma questão cultural, não só do setor, mas também de todo o mercado brasileiro – já que são poucas também as empresas com o capital aberto no Brasil. O número gira em torno de 400.
Uma das explicações para esse comportamento é o medo das ações perderem valor e, consequentemente, sujar a imagem da empresa. Neto acrescenta também o receio que algumas empresas possuem pelo fato dos números financeiros estarem abertos aos concorrentes, ou de surgir uma oferta hostil, com um acionista comprando mais de 51%, e virando dono da empresa. “Também tem a questão dos altos custos de geração de informações, pois precisam ser auditadas, divulgadas em jornais de grande circulação, além da maior cobrança por parte da sociedade”, acrescenta Denis Forte, pesquisador no Programa de Pós Graduação em Administração de Empresas na área de Finanças Estratégicas do Mackenzie. No entanto, Renata Oliva Battiferro, diretora de relações com investidores da CSU, vê esses receios como desnecessários. “A abertura do capital em si não tem risco algum. Só passa a ter risco a partir do momento que a companhia tiver qualquer desconforto em trabalhar com transparência.”
Pelo contrário, na visão da executiva, as vantagens são muitas para quem opta por entrar na Bolsa. Além de uma ferramenta poderosa no sentido da capitalização da companhia, a abertura do capital tem um impacto muito significativo em aspectos como transparência e governança corporativa que trazem como vantagem competitiva a credibilidade junto ao mercado. Segundo Renata, quando uma empresa negocia com uma organização que tem seu capital aberto, ela sabe que sua parceira segue determinadas regras na operação que estão alinhadas com o que existe de mais moderno e exigente no que se refere às boas práticas corporativas. “Assim, o contratante sabe que o prestador do serviço tem muito a perder em termos de imagem e impacto no preço das ações no caso de não cumprimento de contrato, com isso a preferência na condução do negócio é em favor da empresa de capital aberto”, conta.
Tanto que, para companhias que tem operações no setor de contact center, Renata coloca a abertura de capital como um diferencial qualitativo indispensável. Ela explica que trata-se de um setor que, apesar de ter evoluído muito em suas práticas nos últimos anos, infelizmente ainda sofre um certo pré-conceito em função de práticas do passado quando a regulamentação era menos eficiente. “Dessa forma, saber que uma empresa do segmento se submete às normas da abertura de capital auxilia na compreensão de que o mercado tem evoluído em suas práticas, procedimentos e compromisso com a sociedade”, afirma a diretora.
Outra vantagem de ir por esse caminho é a possibilidade de precificar a empresa. “Se hoje não se sabe quanto sua empresa vale, ao abrir o capital, saberá exatamente o valor no mercado.” Outra vantagem é que dá para oferecer ações para os próprios funcionários comprarem, criando um maior engajamento. Mas o fundamental, segundo Magliano, é o poder de investimento que traz para a empresa. “Dá para captar dinheiro, sem ir ao banco lidar com juros altos, e se for a algum banco, os juros são menores. A transparência no mercado como um todo (banco e investidores) melhora.”
ANÁLISE
Hoje, apenas a Contax e a CSU estão na Bovespa. Os números não são tão animadores, na avaliação de Forte, mas mais pelo momento do mercado de ações, do que por conta das empresas. Tanto que, embora a Contax tenha crescido mais de 50% de receita operacional, entre 2010 e 2013, repercutindo em seu lucro em cerca de 41%, a relação preço/lucro caiu de 17 para 14,3. “Isso reflete mais o mau humor dos investidores locais nesses últimos anos do que seu bom desempenho”, ressalta. A CSU, por sua vez, partiu de uma receita liquida de R$ 328,8 milhões em 2006, valor de mercado de R$ 529,4 milhões e prejuízo de R$ 16,9 milhões, para uma receita de R$ 382,1 milhões em 2013, com lucro de R$ 2 milhões. “Aqui foram necessários ajustes de despesas operacionais fortes para que o ponto de equilíbrio da empresa fosse alcançado.”
Ao falar especificamente desse ano, Renata conta que o desempenho da CSU tem sido altamente positivo. Segundo a executiva, o anúncio da entrada da empresa em novas áreas de negócios que possuem sinergia absoluta com suas unidades tradicionais, assim como as informações sobre o fechamento de contratos com grandes corporações nos últimos meses melhorou a percepção do mercado quanto ao valor das ações. “A tendência é de que esse crescimento se mantenha vigoroso para os próximos meses, pois o grupo CSU, por meio dos investimentos já realizados, iniciou um ciclo de boas notícias que tem despertado o interesse de novos investidores”, conta.
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