Ainda existe comunicação interna?

Autor: Edilson Menezes
No ambiente corporativo, usamos expressões como “divisão comercial”. Não seria mais positivo adotar o termo “multiplicação comercial”?
Imagine a quantidade de cafezinhos que as pessoas já tomaram na empresa e prepare-se para uma constatação impressionante: a maioria deles aconteceu em companhia dos vizinhos de mesa. Se foram 500 cafés, a pessoa teve 500 chances de interagir com alguém de outra área. Entretanto, nossa cultura empresarial não é de aproximação, mas de divisão.
Uma análise sobre o passado recente nos fará entender que na década de 1990, o problema central das empresas era falta de comunicação e emprestamos a este critério a justa importância que cabia.
Funcionários eram treinados à excelência desde o processo seletivo até a execução e pós-produção de seu trabalho. Em todas as etapas, ensinávamos os profissionais que uma empresa sem comunicação interna seria incapaz de ter boa comunicação externa com clientes, fornecedores e aliados.
A partir de Henrique Meirelles, o primeiro CEO a presidir uma empresa americana no próprio território do tio Sam, o cenário executivo começou a investir na redobrada atenção ao processo de comunicação interna, pois naquela época, Meirelles trazia uma visão empresarial mais abrangente para dividir com os empresários e executivos brasileiros.
Considerando que antes da década de 90 a preocupação dos empresários era mais processual e técnica do que humana, tínhamos já um grande avanço, mas o fato é que hoje estamos devendo para os colaboradores uma retomada desta responsabilidade.
Alguns empresários me contratam para treinar, motivar e inspirar seu capital humano e sempre costumo afirmar para eles:
– Ao sair deste evento, despreocupe-se com fatores motivacionais, pois eles já serão impulsionados e inflamados à busca da melhor performance possível. Mas, não tire os olhos da comunicação interna, porque uma empresa que não se entende hoje terá as suas portas fechadas amanhã!
Ainda vivemos tempos nos quais as pessoas deixam de interagir entre os departamentos, pouco se conhecem e tampouco se respeitam. É só fazer o teste:
Qual é o nome da senhora que faz o café?

Como se chama o rapaz da portaria que trabalha no período da manhã? E o rapaz do período vespertino?

Se você é de vendas, pense no nome de cada funcionário do setor administrativo e confira se é possível fazer uma escalação mental daqueles que trabalham indiretamente contigo. Se você é da área de recursos humanos, qual é o nome das últimas 10 pessoas que você contratou?
Está fácil até aqui? Então me diga se você sabe qual é o time preferido e o bairro onde moram as pessoas que trabalham na mesma empresa, mas um pouco distantes de sua função. Obviamente, qualquer conversa simples de elevador possibilitaria estas informações.
Quase não conversamos com quem não nos interessa profissionalmente.
Se não costumamos dar atenção pessoal aos pares de outras funções, significa que existem várias empresas dentro da mesma e cada setor é quase uma autarquia privada.
Precisamos estimular o intercâmbio entre departamentos diversos. Voltando ao executivo Meirelles, com quem tive o prazer de trabalhar, aquela instituição financeira oferecia cursos interdepartamentais. Contadores ficavam uma semana aprendendo sobre liberação de crédito. Os caixas investiam uma quinzena inteira para aprender o que se chamava de contabilidade para leigos e assim por diante, Meirelles proporcionava à multidão de funcionários que se comunicassem de verdade, que tivessem uma noção básica sobre os pormenores de setores diversos. Os resultados de sua gestão nesta empresa foram tão expressivos que não tardou para a máquina pública desejá-lo. Anos depois, lá estava o executivo assumindo a cadeira mais cobiçada da economia nacional: presidente do banco central.
Voltando a este momento, devemos parar, refletir e orientar nossos funcionários para que desejem conhecer outras facetas do mesmo negócio. Quando propus algo neste sentido para determinado empresário, escutei com todas as letras:
– Mas meus funcionários não querem conhecer as coisas dos outros setores!
Vou deixar para os meus amigos leitores a mesma lição que coloquei nas mãos deste patrão:
– O verbo querer tem conotação pessoal. Eu tenho o direito de querer mais qualidade de vida, por exemplo. Quando o assunto é a saúde de sua empresa, o verbo a se usar é dever. Estabeleça um programa de integração e faça a sua empresa se comunicar, porque hoje você tem três grupos na estrutura: a) os mudos – constatam tudo que está errado, mas preferem o silêncio e dizem “só faço o meu e fico quietinho, não quero nem saber das coisas erradas que acontecem nos outros setores”; b) os surdos – fingem que não escutam o eco dos problemas e c) os cegos – não conseguem enxergar nada além de seu próprio departamento.
Ora, incluir um portador de necessidades especiais ao universo corporativo é perfeitamente factível e podemos comemorar, pois nunca antes tivemos tanta inclusão profissional.
O que me preocupa é ver pessoas sem nenhuma limitação física trabalharem como se fossem cegas, surdas e mudas para a comunicação interna.
O que me preocupa é constatar funcionários interessados na rotina de outros departamentos sendo barrados pelo patrão ou líder, que alimentam esta distância e dizem: “faça só o seu, não se meta no assunto de outra área”.
O que me preocupa é ver uma pessoa que dedicou 20 ou 30 anos ao mesmo emprego, mas nunca se comunicou de verdade com as pessoas que passaram pela empresa. É fácil identificar este perfil através de frases que sempre usam:
– Não tenho tempo nem para fazer o meu trabalho, imagine conhecer o trabalho dos outros!

– Cada um que faça o seu. Não sou paga pelo serviço de outra área!
O que me preocupa, finalmente, é identificar uma empresa com potencial para se transformar em gigante do setor, vivendo o nanismo comportamental, proibindo a interação como se esta área fosse transmitir alguma doença para aquela outra.
Promova a comunicação interna ou a reconduza ao merecido status prioritário e você verá diminuir o absenteísmo, a rotatividade e a hostilidade. Em paralelo, a qualidade de vida e a satisfação dos funcionários aumentarão, porque uma empresa que entende e incentiva a comunicação transforma pessoas e estas transformam a empresa, porque utilizam uma das melhores qualidades do ser humano valorizado: reciprocidade.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])
Nota autoral: gratidão, leitora Giovanna Palacio, pela gentileza de sugerir o tema deste artigo. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima