No Estado de São Paulo, cerca de 80% das organizações já estão adiantadas na transição emergencial para atuar por meio do teletrabalho. E, esse cenário, deve levar ao principal fator para institucionalizar de vez essa estratégia: a mudança cultural. A estimativa e a análise foram formuladas, hoje (06), por Cléo Carneiro, diretor internacional da Sobratt – Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades e diretor do GCONTT – Grupo de Consultoria em Teletrabalho, dentro da série de entrevistas dos portais ClienteSA e Callcenter.inf.br. O especialista destacou que, especialmente na área do atendimento a clientes, o trabalho à distância não é mais uma tendência e sim uma evidente realidade. “Havia muitos obstáculos, não muito justificáveis, antigos paradigmas que, por força da pandemia, estão caindo por terra. Mais uma vez se constata aquele provérbio: quem não aprende pelo amor, o faz pela dor.”
Um dos entraves mais significativo, na avaliação de Carneiro, sempre tem sido o aspecto cultural, de gestão. Trata-se da postura de se tentar controlar a forma do trabalho e não perceber que o fator verdadeiramente importante são os resultados. “É preciso mudar a cabeça do gestor”, alertou. “E a melhor maneira de corrigir isso é sensibilizando as lideranças para que entendam seu papel nessa nova realidade. Prevalência da confiança e de acompanhamento dos resultados. Com isso, a mudança de paradigma vai-se consolidar. As organizações que correram dentro desse processo e assimilam essa realidade já começam a colher os benefícios.”
Outro dos obstáculos que vinham do passado, lembrou o diretor da Sobratt, eram as dúvidas sobre questões jurídico-trabalhistas. “Mas isso já está pacificado, assegurou. Há instrumentos que permitem operacionalizar essas mudanças e há possibilidade de aditivos contratuais, especialmente depois da reforma trabalhista. Junto a esse fator havia igualmente óbices no âmbito da tecnologia, hoje também plenamente superados”, garante.
Portanto, na constatação do especialista, esse processo forçado e acelerado de transformação é irreversível. “Como diz uma canção”, ilustrou, “´nada será como antes´. Os benefícios já alcançados pelos que adotaram o home office como estratégia permanente serão agora percebidos pelas organizações em geral.” Ele fundamenta informando que, por exemplo, na questão do turnover, o teletrabalho possibilita a queda para uma média de 12%. Enquanto, nos índices de abstinência, esse índice médio é de 1,2%. “Um dos fatores é o fato de a pessoa não ter o estresse do deslocamento. Quanto mais falando-se da circunstância atual, ao permitir que se evite os riscos à saúde. Além disso, os colaboradores aprendem a aproveitar melhor seu tempo e a convivência com os familiares”, reforça.
Carneiro recomenda, então, que as organizações atuando agora de forma emergencial dentro do home office massivo, façam sondagens e avaliações junto aos colaboradores. E ao trabalhador, cabe construir, junto aos familiares, um ambiente e estrutura de trabalho, para que haja uma separação bem consciente. Embora ainda não existam levantamentos consistentes dos números sobre essa transição em meio à crise, o executivo estima que a maioria das empresas já conseguiram equacionar. E vão solucionando tudo o que envolve para colocar as pessoas trabalhando em casa de forma segura. E seguem no estágio de aperfeiçoamento do trabalho em home office durante a crise. “Do ponto de vista técnico, com as empresas fazendo os ajustes, não há o que se preocupar com o futuro”, assevera. “Em termos de legislação, relações sindicais e regulamentação, já nos acostumamos com a realidade de que a lei sempre vem a reboque dos fatos. A consolidação dessa prática já é inexorável. O que vier de regulamentação vai ser só para colocar no papel. O segmento de gestão de clientes tem grande responsabilidade para essa consolidação. Porque dificilmente haverá restrições futuras contrárias a essa mudança. Pode é acontecer para melhorar aquilo que já está dando certo”.
O diretor da entidade reforçou, quanto a isso, que a Sobratt está participando ativamente da comissão para o projeto de lei, de iniciativa do vereador José Police Neto (PSD), de incentivos fiscais para as organizações que adotarem o teletrabalho. Uma forma de reconhecer o nível de contribuição que a modalidade dá à mobilidade urbana e ao meio ambiente. “Já houve uma primeira aprovação em plenário. Faltam a segunda sessão, a sanção do prefeito e a regulamentação. Este momento de crise poderá levar à aceleração desse projeto que existe há mais de um ano. Senão fosse essa demora, já estaria ajudando as empresas agora.” Finalizando, Cléo Carneiro detalhou que a Sobratt tem o papel de fomentar essa atividade, de institucionalmente levar conhecimento sobre esse assunto, inclusive realizando intercâmbio internacional, atuando junto à OIT, etc. “O que nos permite verificar que o Brasil é um dos países mais adiantados nessa estratégia funcional”. A entrevista, na íntegra, estará disponível em nosso canal no Youtube.
Amanhã (07), a série de entrevistas segue com Augusto Puliti, partner de CX na KPMG. Essa semana já estão confirmadas também Rosylane Rocha, presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho; Leyla Nascimento, vice-presidente de relações internacionais da ABRH Brasil; e Cida Garcia, assessora da gestão da cultura da Algar Telecom.