Autor: Marcos Vono
A imagem que temos da maioria dos líderes – segundo seus liderados – é a pior possível. “Cobradores contumazes de resultados e trocadores de peças humanas, na busca enlouquecida por atingirem os objetivos que lhes foram atribuídos” foi uma das piores que já ouvi. A maioria dos líderes que conheço, seja em grandes ou pequenas organizações, não aprenderam a trabalhar com suas equipes e acham que seu único papel é definir metas para cada membro e cobrar resultados, geralmente muito acima da média, muito além do que se parece possível de ser alcançado.
A velocidade com que as coisas acontecem em uma empresa, em função dos influenciadores do mercado em que atua, faz com que as decisões sejam tomadas sem que se possam analisar as melhores formas de fazê-las. E me parece que houve uma troca da estratégia – pensada, discutida e planejada – pelo foco no macro, pela força e pela velocidade.
Acredito que alguns fatores interferem diretamente nesta questão. Como por exemplo:
Má formação da mão de obra no Brasil, mesmo nas melhores instituições de ensino
Muitas instituições de ensino superior focam a formação de seu corpo discente em um academicismo sem razão. Isso gera “profissionais” que não sabem ser liderados e nem liderar. Sabem o que precisa ser feito, mas nem sempre sabem de que maneira e nem como comprometer seus pares e liderados com as ações necessárias. Não aprenderam a pensar e a tomar decisões. Muitas vezes agem com base em “benchmarkings” que funcionam em algumas culturas e organizações, mas não em outras.
Excessivo foco na “qualidade da formação” (leia-se na “grife” da instituição de ensino) e menor valorização de características individuais e de valores quando se procuram profissionais
Tenho discutido isso há anos. As organizações colocam à frente das áreas de Seleção os profissionais em começo de carreira ou contratam empresas de consultoria para fazerem o seu papel. Há uma frase que gosto muito neste tema: “a tarefa pode ser delegada, mas a responsabilidade é indelegável”. Não me lembro de ter visto uma empresa que encontrou seus líderes nas funções de seleção e desenvolvimento (entrevistas, competências, carreira etc.). Isso tem gerado inúmeros erros de seleção, bem como prejuízos grandes pelo não atingimento de resultados. E continuará a acontecer enquanto muitos tiverem a mentalidade de que “contratar pessoas formadas nas melhores universidades do Brasil e do mundo parece ser uma boa alternativa à incompetência de avaliar com profundidade”.
Alta permissividade das organizações com lideranças ácidas
Frequentemente tenho ouvido histórias, em processo de coaching ou de consultoria, onde as pessoas relatam situações de agressividade, de falta de respeito, de falta de competência para gerenciar pessoas. Líderes que muitas vezes são conhecidos pelo seu mau humor, pelo medo que provocam nas pessoas da organização.
Gosto de lembrar que só há comportamentos em uma organização que sua liderança maior valorize ou permita. Não consigo acreditar que se ache razoável ter líderes que destroem as pessoas e que, ora ou outra, não se comprometerão mais com os objetivos corporativos. Tudo o que farão será o mínimo necessário para permanecer na organização.
O pior é que, em situações como estas, perdemos para o mercado os melhores, com maior empregabilidade. Mantemos apenas os que não têm grande competitividade profissional, que produzem pouco e custam muito.
Não consigo conceber que CEOs, diretores ou gerentes tratem as pessoas como sua propriedade, que as agridam como técnica de gestão, que as façam adoecer, fazendo-as acreditar que isso é resultado de suas próprias fraquezas e não da agressividade de uma liderança inadequada.
Estamos cronologicamente no século XXI, mas, me pergunto: “Até quando as organizações vão permitir este tipo de liderança?”.
Fica a minha pergunta e a sua reflexão.
Marcos Vono atua como professor de MBA e pós-graduação, palestrante e consultor nas áreas de carreiras e gestão estratégica de RH.