Autor: Edilson Menezes
Vivemos uma cultura de singularidade do pensamento e, segundo ela, alterar o caminho planejado é sinal de fracasso ou desistência. Vou explicar com uma metáfora…
Você está na estrada a 120km/h, velocidade permitida pela rodovia. Já conhece o caminho. A estrada é boa, oferece quatro faixas largas e bem sinalizadas. Por experiência, antes de colocar o carro na estrada você até ofereceu um horário previsto para a pessoa que aguarda sua chegada.
De repente, cavaletes de segurança separam as quatro faixas, que se tornam três, depois duas, até que apenas uma está disponível na enorme fila que se forma. Você liga o pisca-alerta para prevenir o acidente com o carro que vem logo atrás e a curiosidade aflora:
O que será que aconteceu? Acidente? Alguém teria se ferido?
Felizmente, acaba descobrindo que é um desvio gerado para atender as obras da estrada. A última placa de desvio lhe direciona à estrada vicinal e logo adiante, há três opções: seguir à esquerda, direita ou em linha reta. Quis o caprichoso destino que outras placas de desvio não estivessem mais ali. Você repara, já com certo temor, que os demais motoristas também estão hesitantes e cada um faz sua opção. Este é o famoso instante em que até mesmo as pessoas dadas ao uso de linguajar mais nobre não resistem e soltam a expressão: Agora f…!
Criei esta metáfora para você entender algo muito relevante.
Para chegar ao destino já decorado pelo cérebro, costumamos traçar apenas uma estratégia. A nossa cultura ensina a correr atrás de tudo com unicidade de ação. Fico imaginando uma animação, onde o sonho corre a passos largos, esbaforido. Vez ou outra, dá uma olhadinha para trás a fim de se certificar que não o alcançamos.
Arrisco dizer que muitos deixaram de sonhar por cansaço. O alcance dos sonhos exige caminhos alternativos. Vou exemplificar:
Quando criança, eu sonhava tornar-me vendedor profissional. Ficava fascinado quando percebia algum grande vendedor em ação. Por mais de 20 anos, vendi produtos e serviços até alcançar o sonho principal que estava por trás deste primeiro: tornar-me vendedor de ideias e argumentos capazes de mudar a vida das pessoas através da reflexão.
Se eu tivesse seguido apenas um caminho para chegar ao destino, talvez até hoje estivesse longe do sonho principal.
Tem muita gente no Brasil que passa a vida inteira no mesmo emprego, reclamando do patrão, dos colegas, de si, do governo e da vida, mas não tem coragem de dar um passo em direção à mudança do caminho. Peço a liberdade de repetir a frase que deu início ao artigo, para que agora você possa refletir com mais embasamento.
Vivemos uma cultura de singularidade do pensamento e, segundo ela, alterar o caminho planejado é sinal de fracasso ou desistência.
Uma das lições que o professor Massaru Ogata me transmitiu e sempre ecoará fortemente no coração é a necessidade de oferecer congruência ao que se defende. Portanto, eu não cometeria a irresponsabilidade de sugerir um recomeço de planos sem a certeza de que é um exercício saudável.
Mudei o caminho diversas vezes e cada mudança foi transformando meu sonho em um propósito extraordinário com força suficiente para inspirar outras pessoas à mudança.
Desafie-se sem medo de fracassar.Duvide do planejamento reto que lhe faz refém das circunstâncias, da vida e até de você.
Se a vida fosse uma linha reta, o sonho não passaria de um número a se alcançar e ao contrário do que diziam os antigos, você é muito mais que um número para qualquer empresa. Resta apenas saber se está na empresa certa, no emprego que lhe felicita e no caminho do sonho principal.
Você e o caminho são apenas um, unidos por sua capacidade de escolher, ousar e mudar.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])