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Como entender os ingratos

Autor: Edilson Menezes
Não existe padrão para agradecimento. Cada pessoa tem seu jeitão de agradecer e há quem não saiba ou não queira demonstrar gratidão. Vale reconhecer também que outro grupo de pessoas não se sente com a obrigação de agradecer. Em meio a tantos perfis, está você, o que me leva, como colunista, a tecer a seguinte indagação:
Será que você sofre, de alguma maneira, ao perceber que tanto fez pela pessoa e não ouviu uma palavra ou identificou qualquer gesto de gratidão?
Se uma pesquisa fosse realizada com tal pergunta, ficaríamos alarmados com a quantidade de semelhantes indignados que sofrem por não receberem a gratidão pelos feitos. Espero que este texto ofereça uma nova maneira de contemplar os ingratos, que quase sempre nem sabem que a sua ingratidão fere a sensibilidade alheia.
O primeiro grupo de pessoas sobre as quais devemos refletir é o que não sabe agradecer. A educação e a cultura têm papel determinante na vida de quem não sabe ser grato. A mãe que sempre fez questão de retirar o prato do filho e que sempre arrumou o quarto do garoto, sem perceber, formou um ingrato. Afinal, é de se duvidar que este filho agradeça por cada prato levado até a pia e cada peça de roupa dobrada. Adiante, a vida, através dos pares que convivem com este garoto, lhe prestará muitas gentilezas, mas ele não saberá agradecer. Não foi criado ou educado à luz da gratidão. Foi educado para ser servido. Talvez seja esta a causa de encontrarmos tanto “adulto mimado” por aí.
O segundo grupo não quer agradecer. Para algumas pessoas, dizer muito obrigado é tão doloroso quanto extrair um dente. E acredite, se é improvável “aprová-las”, faz-se possível ao menos entendê-las. A gratidão finaliza um processo, um ciclo, uma demanda e não é fácil para este grupo concluir assuntos. Eis um exemplo corporativo: o líder intimamente reconhece que a atitude de seu colaborador naquele dia evitou que um grande erro fosse cometido. Porém, se agradecer, será como concluir e reconhecer que naquele instante foi incompetente. Assim, ele não vai querer demonstrar a gratidão e vai optar por “deixar aberto”.  O máximo que este perfil consegue dizer é algo simplório como “te devo uma”.
O terceiro grupo não sente obrigação de agradecer, de dizer a tão mágica e simples expressão “muito obrigado”. É um grupo mais capitalista e racional e você com certeza conhece alguém que diz com todas as letras: “não fez mais que a obrigação” ou “ele é pago para isso”. Novamente podemos recorrer à infância e imaginar como foi o modus operandi educacional. Em repetidas ocasiões, dizer à criança “faça isso que eu te dou aquilo”, embora pareça algo simples e inocente, terá efeito de longo prazo. Esta criança sempre associará gesto com pagamento e gratidão com obrigação.
Cabe uma boa reflexão sobre a escolha pelo método educacional. Estamos entregando à sociedade homens e mulheres que valorizam a gratidão? Será que podemos sentir o peito inflar-se de orgulho neste quesito?
Na mesa, quando o filho pede à mãe que passe a salada, ele agradece ao ser atendido ou é algo tão tolo que dispensa agradecimento? Na escolinha, quando a professora tece um elogio, a sua criança agradece ou “não fez mais que a obrigação”? No trabalho, quando o líder aponta as melhorias, o colaborador agradece o reconhecimento ou foi simplesmente pago para isso?
Os pequenos gestos de gratidão educam a criança e o adulto. Porém, por cultura, tendemos a agradecer pelas “coisas grandes”, seja lá o que cada um entenda por isso.
A gratidão gera reconhecimento e fortalece a corrente da prosperidade. Contudo, assim escrito fica lindo. Na prática, é um pouquinho mais difícil. Permita-me provar:
Você já agradeceu à pessoa amada por um dia ter escolhido você?
Você já agradeceu aos seus pais pela vida que geraram?
Você já agradeceu aos filhos por serem as “cobaias” de sua competência educacional?
Você já agradeceu a quem lhe estendeu as mãos quando todas as mãos pareciam fechadas?
A gratidão cura a ferida aberta pela sensação de não ser reconhecido, traz conforto ao coração enrijecido e gera alívio, pois se constata que o caminho certo foi percorrido.
Muito obrigado por ler meus argumentos até o fim e antes de concluir, tenho uma última indagação filosófica a propor: Você já se agradeceu por ter chegado até aqui?
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])

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