Como escolher os futuros líderes?

Autor: Sílvio Celestino
em os critérios apropriados, a escolha dos futuros líderes pode colocar em risco uma companhia. Infelizmente, algumas organizações somente pensam nisso, quando têm de se expandir, aproveitar uma nova oportunidade, substituir um antigo líder que se aposentou ou pediu demissão inesperadamente. Quando a necessidade de escolher um novo líder ocorre abruptamente, é difícil utilizar os critérios mais apropriados. Pois eles exigem uma reflexão mais profunda sobre o futuro da empresa e quais são as pessoas mais apropriadas para serem treinadas a conduzi-la.
Outro problema que observamos é a “juniorização” das lideranças. Isso significa que temos colocado pessoas imaturas em cargos relevantes nas empresas. Como consequência, observamos que são líderes sem compostura e que estão excessivamente preocupados com suas carreiras. Além disso, focam a obtenção de resultados de curto prazo a qualquer custo e não são capazes de observar as consequências de suas ações nas pessoas, sob sua responsabilidade direta (clientes) ou em fornecedores. Não percebem, também, que seu comportamento destrói o futuro de sua própria carreira e compromete a imagem da empresa.
O primeiro passo para escolher o futuro líder, portanto, é avaliar como serão os próximos cinco, dez e quinze anos da empresa. Para alguns mercados, esse pensamento é visto com mais naturalidade, como, por exemplo, mineração, energia e transportes. Entretanto, para outros, é um desafio enorme pensar nesse período, como é o caso das agências de propaganda, das empresas de bens de consumo e de tecnologia da informação. Uma empresa poderá enfrentar um período de expansão, contração, andar de lado, ter uma ruptura nas vendas e, com certeza, uma combinação de tudo isso ao longo das próximas décadas.
Portanto, as companhias devem ter esse cenário em mente ao escolher os novos líderes. Se um jovem começou a trabalhar aos 23 anos numa empresa que está há sete anos em uma fase de expansão, isso significa que ele ainda não sabe como é enfrentar uma contração nas vendas. Nunca teve de cortar custos ou enfrentar uma greve, por exemplo. E, se você prevê uma contração no futuro, provavelmente terá de pensar no treino desse profissional, para se assegurar de que ele saberá agir nessas situações. Portanto, aqueles que escolhem quais serão os futuros líderes devem estar cientes de que é pouco provável que uma empresa que esteja há dez anos em expansão tenha um novo ciclo para cima tão longo. Provavelmente, enfrentará problemas que o futuro líder terá de gerenciar.
O que você está procurando no indivíduo é a sua capacidade de enfrentar situações negativas com perseverança, resiliência e motivação, para ele e para o time. Nesse sentido, o novo líder deve demonstrar equilíbrio emocional em situações adversas e capacidade de decisão e ação em meio à tempestade.
Outro ponto importante é que o profissional a ser escolhido, para ser treinado para a liderança, deve demonstrar competência para lidar com pessoas, e não somente conhecimento técnico. Em outras palavras, o líder não é o técnico dos técnicos. Ele tem de ter a imagem, a fala e o comportamento de um gestor. Quando se escolhe uma pessoa muito técnica para liderar, em geral ela dá mais atenção em aumentar seu conhecimento sobre a área em que atua, não delegando, não fazendo follow-up das ações, desmotivando as pessoas sob sua responsabilidade e, em alguns casos, é desastrada na hora de dar feedbacks.
A principal função de um líder é a formação de outros líderes, pois, para a empresa existir no futuro, precisará de uma liderança bem formada. Quando isso não acontece, tem de trazer líderes do mercado, o que pode ocasionar fissuras na cultura da empresa.
O novo líder deve compreender e assumir os propósitos da empresa, ser ético, ter capacidade de autoaprendizagem e adaptação. Ser tolerante à frustração e muito perseverante. Ficaríamos com uma lista gigante, se tivéssemos de descrever todas as características necessárias. Mas, se a escolha for baseada no que o futuro demandará de seus gestores, não cairemos na tentação de escolher o novo líder por seu carisma, capacidade técnica, ou outras competências que nada têm a ver com a formação de times e liderança empresarial. É uma escolha que requer método, consciência de todos os envolvidos e enorme preocupação com o equilíbrio dos resultados de curto e longo prazo.
As empresas e os países precisam de líderes mais bem preparados para geri-los. Cabe a nós saiber escolhê-los.
Silvio Celestino é sócio-fundador da Alliance Coaching.

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