Como guiar times em um futuro disruptivo?

Autor: Alexandre Velilla Garcia
Que os avanços tecnológicos são o futuro do mundo empresarial, já sabemos. Mas, o que pode muitas vezes se tornar um obstáculo é o caminho a percorrer até que tais inovações se consolidem, afinal, por mais que um líder capacitado tome suas decisões com cautela e reflexão, se interessando pela transformação digital de sua empresa e buscando o crescimento do negócio, seu trabalho também envolve a comunicação com suas equipes e a busca pela difusão de uma mentalidade inovadora e disruptiva enquanto elemento cultural da empresa.
Mas, antes de entrarmos neste mérito, pensemos um pouco: o que significa, afinal de contas, a disrupção?
Ela pode ser um conceito muito mais simples do que imaginamos. E talvez justamente por isso, difícil de ser corretamente compreendida. O criador do conceito, Clayton Christensen – célebre professor da Harvard Business School -, a resumiu com os termos “destruição criativa”, que consiste na reformulação de preceitos básicos de trabalho que, a longo prazo, trazem grandes – e positivas – consequências.
Um exemplo disso são os aplicativos de serviços, tais como os streamings de entretenimento, que gradualmente colocaram fim ao antigo modelo de locadoras de filmes. Ou aplicativos de transporte privado, que hoje são a preferência geral quando se trata de mobilidade urbana.
São insights que partem de uma simples pergunta: como facilitar um processo para uma empresa ou uma comunidade? Como ele pode ser mais prático, rápido e eficiente? E, quando respondemos a esta questão, entendemos que ela vai muito além da inserção de aparatos tecnológicos na dinâmica das empresas ou de nossas vidas. Ela depende de aspectos culturais, da visão do mercado e do público consumidor e, do ponto vista empresarial, da capacidade das organizações, em massa, perceberem aquele avanço como intrínseco as suas realidades.
Cultura organizacional: como moldá-la para o crescimento com uma mentalidade disruptiva
A cultura organizacional de uma instituição, como sabemos, consiste no conjunto de hábitos e valores que conduzem a dinâmica de um ambiente de trabalho. Muitas vezes, não é nem ao menos percebida, mas, ao compreendermos seu funcionamento e a influência que ela tem sobre toda a realidade da empresa, temos em mãos a possibilidade de lidar com ela de acordo com as necessidades da companhia como um todo.
Trazendo a disrupção para a o contexto interno de uma companhia, como passar tais valores a uma equipe? É preciso, primeiramente, que o ato do questionamento se torne um hábito cultural. Como posso melhorar meu espaço de trabalho? Como posso ser mais criativo, eficiente e inovador? São questões que devem fazer parte da mentalidade de qualquer colaborador de uma empresa. Não só da liderança. Mas, para alcançar essa postura em conjunto, deve-se  fixar o conceito de disrupção e torna-lo inerente a imagem da empresa como um todo.
O papel da motivação
No modelo tradicional de trabalho, as empresas estão mais do que acostumadas com os sistemas padronizados de motivação de seus colaboradores. Metas de vendas, aumento de Market Share , realização acordos bem sucedidos e por aí vai: com tais conquistas vem os bônus, os benefícios, as clássicas bonificações monetárias com as quais já estamos familiarizados. A questão é que por mais que a recompensa financeira por um bom trabalho seja uma ação justa, é preciso ir além disso no quesito motivação.
Se, como dito acima, a disrupção gera mudanças capazes de promover, a desconexão e o desapego a produtos que acabam por se tornar obsoletos, no contexto organizacional, também devemos promover novas ideias, “fora da caixa”. Quando falamos de motivação, podemos e devemos pensar para além das bonificações monetárias. Por exemplo, na criação de espaços que permitam o debate rico de ideias, a evolução nas relações entre líderes e liderados, a quebra de paradigmas de gestão e a promoção de autonomia dos colaboradores. Em um ambiente desafiador e mais aberto, acredito que, certamente, o colaborador pode ter seus níveis de motivação elevados. 
As características necessárias
Um estudo recente realizado pela Accenture indica que, embora entendamos a cultura organizacional muitas vezes como algo involuntário, os padrões de uma empresa que abrace a disrupção inventiva podem sim ser identificados e colocados em prática de maneira incisiva.
Ao analisar mais de 3.600 empresas cuja receita anual ultrapassa os US$100 milhões em um total de 82 países, a pesquisa separou seus resultados em duas categorias principais: as que já se posicionam atualmente de maneira disruptiva no mercado, que representam 63% do total, e as suscetíveis a disrupções futuras, que respondiam pelos 44% restantes. Dentre os 63% que já caminham para a disrupção, o estudo selecionou quatro características principais, consideradas essenciais para a conquista deste novo modelo de trabalho:
– Durabilidade: um receio muito comum aos empreendedores é o de que, ao se reinventar em respectivo mercado, sua empresa perderá posicionamento e com o tempo, deixará de existir dentro dele. Mas de acordo com a pesquisa, essa é uma visão equivocada: é exatamente esta constante reformulação de estratégias que permite que as empresas se mantenham atuais, com serviços e produtos pertinentes às necessidades e demanda de seu público. Ou seja, se renovar é uma etapa fundamental para que seu negócio não se torne obsoleto.
– Vulnerabilidade: muitas empresas estão suscetíveis a tais mudanças em seu modelo de trabalho devido a pura necessidade. Custos como mão de obra qualificada e fluxo de produção acabam, inevitavelmente, por requisitar medidas de automação tecnológica e busca por novas ideias.
– Volatilidade: já possuir uma natureza que procura mudanças constante, sem resistência perante ao que há de novo e atrativo no mercado.
– Viabilidade: terem em mãos os meios necessários para o alcance de tais medidas de inovação empresarial, que envolvem desde o capital necessário até a ideologia que prevalece sobre uma equipe. Colaboradores que além de aceitar, concordem com este conceito de constante procura por novas maneiras de se alcançar determinados resultados sempre irão agregar consideravelmente ao quão longe se pode ir neste caminho.
Conhecendo estes aspectos a fundo, é possível então que estratégias sejam traçadas para identificar os pontos fracos que impeçam uma empresa de seguir pelo caminho da disrupção.
Assim, o ponto principal passa a ser a disseminação da ideia da disrupção por meio de uma liderança cooperativa e não somente autoritária. A diretriz estratégica que busque a inovação, é mais do que um modo de produção sistematizado, é uma metodologia capaz de inspirar pessoas.
Ao inspirarmos pessoas, a busca pela inovação deixa de se tornar uma obrigação e passa a ser um desafio estimulante para todos os envolvidos neste processo.
Deste modo, a real mudança pode ser alcançada e assim, um novo nicho de mercado pode ser reinventado através de medidas que se mostrem visionárias e verdadeiramente em prol da oferta de benefícios para uma sociedade ávida pelo novo.
Alexandre Velilla Garcia é CEO do Cel.lep Idiomas.

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