Corpo, mente e voz


De acordo com a fonoaudióloga Ana Elisa Moreira Ferreira, muitas empresas adotam programas de qualidade de vida para oferecer aos seus colaboradores condições para que estes desenvolvam ao máximo suas potencialidades com conforto e bem estar. Num call center, para que essa situação ocorra, é preciso dar atenção especial para três níveis de saúde: a corporal, a mental e a vocal. Deve-se trabalhar de forma integrada esses três aspectos já que o ser humano é um conjunto integrado de corpo e mente, sendo impossível a sua dissociação.


“Ao pensarmos em voz, sabemos que a mesma necessita de equilíbrio principalmente entre estruturas laríngeas, musculatura cervical, postura corporal, condições psíquicas e condições ambientais. Portanto, o trabalho entre ergonomia e voz deve ser integrado. Ambas vão gerar bem estar mental e corporal, levando a um equilíbrio global do indivíduo, auxiliando na preservação da qualidade vocal”.


Importante compreender a ergonomia. Segundo o Sr. Antonio Francisco Abrantes, engenheiro de segurança do trabalho, uma de suas definições é a importância da análise das condições de trabalho (desde espaço físico até fadiga mental) e o quanto agressivo uma situação ocupacional pode se tornar à saúde do trabalhador e ao seu equilíbrio psicológico e nervoso. “A Ergonomia é imprescindível para as empresas, pois ajuda a evitar acidentes, reduz custos, absenteísmo, aumenta a qualidade técnica dos funcionários e a produtividade.”


“As empresas oferecem alguns obstáculos para a implantação de programas ergonômicos. Mas, sabendo que a produtividade é a equação entre trabalho humano e meio de produção, as empresas deveriam adotar as novas tecnologias gerenciais e considerar o quanto representa financeiramente os seus gastos com os afastamentos.” Existem muitos fatores que interferem no rendimento humano, como: posturas incorretas, posições incomodas, poeiras, fumo, ruído, vibrações, mudanças de temperatura, fatores relacionados com o mobiliário, equipamento dos postos de trabalho, condições ambientais, e etc.


“Portanto, para ocorrer um aumento da produtividade, deveriam ser otimizadas as condições de ambiente de trabalho, preocupar-se com as condições de saúde e vitalidade dos colaboradores, melhorar os recursos, otimizar a tecnologia e melhorar os sistemas de trabalho. E esse processo propicia o bem estar não apenas corporal do trabalhador, mas o psíquico e também o vocal.”


Pensando nas noções de ergonomia aplicadas como ações de qualidade de vida para tele-operadores, duas intervenções são imprescindíveis: o foco no auxílio da prevenção das DORT e das disfonias. Para Inês Milani Sanches Garcia, fisioterapeuta empresarial, a LER/DORT (que são transtornos funcionais mecânicos que causam lesões e que resultam em dor, fadiga e quedas da performance no trabalho) tem causas biomecânicas, como posturas incorretas, repetitividade de um mesmo padrão de movimento e esforço intenso.


“A DORT não costumam ser grave e a maioria é curável, regredindo com o tratamento. Elas podem ser evitadas e para isso é fundamental a aplicação de ações preventivas nas empresas, nas quais os recursos utilizados serão os da ergonomia, conscientização para os hábitos posturais, pausas durante o turno de trabalho, ginástica laboral e fisioterapia na empresa.” Quanto a disfonia, Ana Elisa cita que, assim como a DORT é lesão ocasionada por movimentos repetitivos, as pregas vocais, por realizarem milhares de vibrações ao longo do turno de trabalho, podem estar expostas ao risco de desenvolver lesões ou alterações vocais, caso esse movimento venha acompanhado por esforços ou outros fatores de risco associados.


“Assim como a DORT, a disfonia também não é tão grave e a maioria pode ser tratada. Sua prevenção deve ser realizada através da utilização da ergonomia, avaliações admissionais e periódicas, conscientização e treinamento, mudança de hábitos e comportamento vocal e o aquecimento e desaquecimento vocal. Os exercícios vocais têm impacto fisiológico, físico, vocal e psicológico. O aquecimento vocal é o preparo para a atividade fonatória, cujo objetivo principal é evitar sensações de incômodo, alterações da qualidade vocal e, até mesmo, lesões. É uma ação imprescindível em call center. O desaquecimento, por sua vez, é redução gradual das atividades, auxiliando na normotonia muscular, tão importante quanto o aquecimento para a preservação vocal. Este processos devem ser aplicados por fonoaudiólogos, pois exigem controles específico de postura, de normotonia muscular, de qualidade e duração de emissão, além de obedecerem à objetivos específicos”, conclui.


Fonte: Este tema foi debatido durante o 7º workshop “Integração corpo e voz: a relação da ergonomia com a preservação vocal”, realizado no 30 de outubro. O evento faz parte da Jornada 2002 – Fonoaudiologia integrada ao Call Center, uma iniciativa da Univoz em parceria com a Associação Brasileira de Telemarketing. Os palestrantes foram a fonoaudióloga Ana Elisa Moreira Ferreira, diretora da Univoz; do Sr. Antonio Francisco Abrantes, engenheiro de segurança do trabalho, professor de ergonomia, diretor da Ergoset; e da fisioterapeuta Inês Milani Sanches Garcia.

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