Autor: Felipe Cabral
Há algum tempo tive a oportunidade de ler Além do e-Learning, um livro do Ph.D Marc Rosenberg. Sinceramente? Desde o início da minha carreira na área, já vi muitos profissionais que são “vendidos” como os “gurus” do e-learning (coisa de americano, não é mesmo?). Alguns deles, inclusive, acompanhei em congressos por mais de uma vez e não vi nada demais naquilo que diziam, muitos, inclusive, falavam a mesma coisa por diversas vezes, apenas mudando a metáfora de sua palestra.
Porém, conhecendo Rosenberg, percebi uma riqueza e clareza muito grande naquilo que ele pensava em meados de 2008, na época em que o livro foi lançado. Um dos temas explorado por ele me inspirou a trazer uma provocação: “Do que o e-learning é capaz?”. Essa é uma pergunta que pode trazer as mais variadas respostas e interpretações, daí a riqueza da discussão que quero propor. Pois bem, para nos ajudar a refletir sobre esse assunto, a seguir, trarei um pouco do que Rosenberg diz e também trouxe o meu posicionamento sobre o tema.
Rosenberg defende o e-learning como uma ferramenta que vai muito além de uma forma de capacitar os colaboradores de uma organização. Trata-se de uma solução com potencial de interferir diretamente na estratégia da companhia. Ele conta que, geralmente, uma organização passa por três fases ao implantar o e-learning em seu negócio. São elas:
Precisamos ter e-learning – No primeiro momento as organizações simplesmente se convencem da necessidade de ter cursos online para oferecer para os seus funcionários e ponto final. Nessa fase, o e-learning se resume a isso. Em minha opinião, essa é uma etapa onde podem ocorrer muitos erros, pois, na sede de construir um amplo repositório de cursos online, as empresas podem acabar comprando “gato por lebre” e colocando a disposição de seus funcionários cursos que, não necessariamente, contribuirão para a visão estratégica que a organização deseja alcançar.
Devemos ter sucesso no e-learning – Após passar pela primeira fase, as organizações passam a perceber a necessidade de avaliar se os cursos online oferecidos aos seus funcionários realmente estão atingindo o sucesso esperado. É nesse momento que o indicador quantidade sai de cena, sendo substituído pelo indicador qualidade. Nessa fase as empresas passam a fazer um verdadeiro trabalho de investigação e experimentação, com o intuito de avaliar as melhores estratégias de cursos e programas de capacitação oferecidos via digital. Acredito que essa é uma fase muito rica, é a hora que as empresas realmente começam a se dar conta do valor agregado que o e-learning pode trazer ao seu negócio, porém, nesse momento, na maioria das vezes, as organizações ainda não se deram conta que o sucesso do e-learning representa muito mais do que um curso perfeitamente pedagógico, motivacional, interativo e desafiador. O e-learning transcende essas fronteiras!
Devemos suportar o ensino no trabalho e a performance ao longo da organização – A terceira fase descrita por Marc Rosenberg representa o amadurecimento que todos nós, entusiastas do e-learning, esperamos que as organizações que trabalhamos – ou até mesmo atendemos no papel de fornecedor – alcance. É nessa etapa que as companhias se dão conta que o e-learning é muito mais do que uma ferramenta que disponibiliza objetos de aprendizagem online. Nesse momento, começa a “cair a ficha” de que as soluções de e-learning devem ser mais abrangentes, possibilitando e incentivando o compartilhamento de conhecimento, a colaboração e a melhoria contínua, tudo isso focado na visão estratégica da organização. Na minha modesta opinião, isso apenas comprova que o e-learning será muito mais eficaz se fizer parte de um projeto bem fundamentado de Gestão Estratégica do Conhecimento, onde, o principio básico é que todos na organização, principalmente o dono, acredite que o conhecimento é o seu principal insumo de transformação para alcançar a visão estratégica da sua organização.
Podemos perceber que na maioria esmagadora das vezes, nós do mercado de e-learning (digo “nós” por que me incluo totalmente nessa), despejamos todas as nossas energias tentando descobrir as melhores tecnologias de aprendizagem, uma nova ferramenta de autoria, uma maneira diferente de produzir um curso, ou um game interativo e acabamos deixando de lado a visão do todo, ou seja, a contribuição estratégica de que aquilo que estamos produzindo trará de retorno para as organizações.
É importante deixar claro que esta é uma visão minha, totalmente favorável ao que Marc Rosenberg coloca no seu livro sobre a capacidade do e-learning atuar de maneira estratégica na organização, o que não impede você que está lendo de continuar achando que o e-learning deve ser utilizado exclusivamente como ferramenta de disponibilização de cursos e conteúdos online. Pensando nesse panorama, a SOU procura trabalhar com o e-learning oferecendo de maneira estratégica às organizações. Muitas vezes, nos deparamos com clientes que desejam converter toda a sua grade de cursos para um ambiente e-learning, mas apesar da comercialização de cursos online ser uma das principais frentes de trabalho da empresa, jamais recomendamos essa prática, pois acreditamos no e-learning como parte de uma estratégia mais ampla de educação corporativa, assim como traz Marc Rosenberg, em suas citações. E para você, do que o e-learning é capaz?
Felipe Cabral é especialista em gestão estratégia do conhecimento e da inovação e coordenador de projetos da SOU Educação Corporativa.