Autor: Sílvio Celestino
Um grande problema que enfrentamos nas empresas é decidir em quem confiar. Normalmente, só nos damos conta dele quando é tarde demais. A decepção de ver alguém fazer algo que não devia, que prejudique a empresa, as pessoas e a nossa carreira, é uma experiência dolorosa. Mas, infelizmente, acontece.
A causa desse problema é que não paramos para pensar nos critérios que utilizamos para escolher pessoas. Essa ausência de reflexão gera grandes problemas, principalmente quando nossa carreira avança e nos tornamos líderes. Pois é quando teremos de escolher nosso time e, se escolhermos mal, o resultado será um impacto negativo de grandes proporções em nossa vida.
Uma boa solução é ter critérios baseados em valores, crenças e, principalmente, números.
O primeiro passo é conhecer a crença das pessoas. Afinal, você jamais terá problemas ao conversar sobre seus valores. Essa é, aliás, uma grande zona de conforto nos diálogos das empresas: todos adoram falar sobre valores. Mas ninguém quer conversar sobre crenças.
Qual é a diferença?
Valores são conceitos como ética, justiça e confiança, por exemplo. Alguém em sã consciência irá discordar desses valores? Improvável. Então, por que os líderes perdem tanto tempo falando sobre eles? Simplesmente porque é seguro e não sabem debater sobre crenças.
Por exemplo, duas pessoas podem ter “justiça” como valor. E a crença de uma delas ser: “justiça significa oportunidades iguais para todos”. E, para a outra: “justiça significa oportunidades maiores para quem faz mais”. Portanto, valores iguais e crenças diferentes. Por essa razão, não basta escolher pessoas com os mesmos valores que os seus, mas crenças semelhantes ou que possam coexistir. É arriscado confiar em pessoas cujas crenças você não conhece.
O segundo fator para o qual você deve olhar com rigor são os números que cercam um indivíduo. Desde sua capacidade de cumprir horários até as informações que escreve em um relatório. Afinal, alguém que não é capaz de cumprir sua palavra deve ser visto com muita desconfiança.
Mas cuidado para não desejar a perfeição das pessoas, afinal, não vivemos em um país cujo sistema de transporte possua qualidade suíça. Portanto, é comum pessoas serem surpreendidas com todo tipo de problema nas ruas: de trens e ônibus quebrados a manifestações que interrompem importantes vias. E isso gera muito atraso.
O que não é normal é um profissional estar sempre atrasado e nunca se desculpar, ou pedir ajuda para gerir melhor a agenda.
Por último, receber relatórios confusos, com números omitidos, trocados ou acrescentados, é um forte indicativo de que você está com alguém de má índole por perto. Afinal, como o presidente de uma empresa irá geri-la, se receber relatórios apresentados desse modo e sem auditoria? Fuja dessas pessoas.
Sob muitos aspectos, na empresa, alguém dizer que “eu confio em você” significa “eu confio nos números que você reporta para mim”.
É verdade que mentiras e fofocas a nosso respeito causam grandes prejuízos, e nem sempre é possível perceber a tempo quem está alimentando essas conversas.
Mas os indivíduos que as promovem são mais difíceis de detectar e, evidentemente, esperam sua ausência para agir. Portanto, ter formas de saber o que acontece quando você não está presente é um fator decisivo para sua carreira.
Essa é uma aptidão que exige muita habilidade política, percepção, intuição, tempo e empatia com pessoas que estão dois níveis hierárquicos acima de você e aquelas dois ou três níveis abaixo. Ou seja, você tem de se relacionar muito bem, tanto com o presidente da empresa quanto com o faxineiro. Ouvi-los com atenção e saber interpretar o que não é dito em palavras. Até porque eles também podem estar envolvidos com essas questões.
A vida sem confiança seria impossível, é bom ter pessoas por perto em quem possamos confiar. Mas é preciso ter critérios, além de olhos e ouvidos bem abertos.
Vamos em frente!
Sílvio Celestino é sócio-fundador da Alliance Coaching.