Floriza Costa
Centopéia cibernética. Um nome um tanto lúdico dado por alguém que foi arrumar os fios sob o piso elevado de uma grande central de atendimento.
O Sr José, da manutenção, abaixara-se sob uma das 800 PA´s para observar se havia naquele mobiliário algum tipo de lasca de madeira que poderia estar machucando uma das tantas meninas que ali trabalhavam, conforme fora solicitado através de um chamado operacional. Ele maduramente respeita e sabe que isto pode afetar emocionalmente as mulheres, tão sensíveis. Sabia que o estado das meias finas tem uma grande importância no dia-a-dia de uma profissional!
Futilidades à parte, o perigo existia, poderia ser provocado ali algum tipo de ferimento (e agora partindo para a dramaticidade), até um caso de tétano.
Já que a imaginação está em pauta, o Sr José, sempre tão presente no mesmo espaço físico, mas tão alheio ao universo paralelo vivido pelos profissionais de atendimento, que estão fisicamente no mesmo ambiente mas virtualmente na vida de tantas outras pessoas que os procuram como solucionadores e que chegam aparentar até um estado de transe ao atuar concentradamente, segue simpática e prestativamente seu trabalho. Abaixado com uma visão diferenciada (de baixo para cima) achava gracioso o que via através do espaço que havia entre o chão e o móvel.
O que lhe veio em mente foi: “Olhem e vejam, ali em cima existe uma grande e viva: Centopéia”!
Vários pés passam, curtos, longos, fortes, masculinos femininos, calçados fechados e outros exibindo os dedos do pé, enfim….Era realmente a centopéia!
O que eram aqueles pés saracoteando para lá e para cá sem parar? Como pano de fundo deste cenário agitado tínhamos fios, muitos fios, submersos ou aparentes, muitos deles, coloridos, pretos e brancos ou transparentes, mas sempre aglutinados uns aos outros com amarras aparentemente indestrutíveis. Chicotes!
Voltando a si depois de vaguear em pensamentos tolos o Sr José pensou em contar para sua netinha de 04 anos, só ela poderia entender o mundo que observara na última tarde de trabalho e para onde fora arremetido seus pensamentos e imaginação…
Utilizando-me de uma visão fictícia e infantil, com um formato singelo, trago um esboço das nossas centrais de atendimento.
Assumo que, talvez embebida e influenciada por ares de Monteiro Lobato, abordo o balé de nosso dia a dia.
Vi muitas centrais recheadas de profissionais envolvidos, porém que valorizam mais o momento do meio do que a intenção, mais o feitio do que o feito, mais o tumulto do que o resultado.
É como se acordassem em suas casas, se dirigissem para seu ambiente de trabalho movido apenas pelo vai e vem.
Alguns, entendo que agem assim para se fazer necessários (a empregabilidade hipócrita do aparentemente insubstituível) outros porque tiveram como referência alguém que também agia como se estivesse espantando uma nuvem de mosquitos! E o viu subir hierarquicamente.
É, agem assim, fazem um barulho, um tropé que chega levantar poeira, há também outros realmente apavorados, com cara de que estão com uma bomba relógio em suas mãos pronta para explodir em 10 segundos, e outros com expressões de que vão perder o trem. Se filmarmos e apresentarmos, nem precisamos por em outra velocidade para que aquele que assiste imaginar que o filme está acelerado!
Ciente do dinamismo que nosso ramo possui, e do vício que é ter a operação nas mãos seguida do prazer de solução e sensação de pequenas vitórias e de ter o dever cumprido, entendo que precisamos parar e refletir sobre nosso comportamento e velocidade, nossa dedicação, nossa imagem, e sobre o trânsito percorrido em um pequeno espaço geométrico.
Analisem comigo se estamos tendo qualidade de vida e qualidade do clima onde trabalhamos.
Se fôssemos nossos clientes em fase de fechamento de contratação com a empresa que me representará, e a preocupação fosse com a saúde emocional de quem atenderá os meus clientes, repassaria esta responsabilidade para estes “movimentados profissionais?”
Respirem, enxerguem-se, tentem verificar o seu afã.
Temos novamente a força mágica e invisível do exemplo atuando sobre outras pessoas e equipes. Este corre-corre pode em curto prazo parecer estimulante, mas a longo é cansativo e nocivo.
O que há de errado com expressões faciais de calma e segurança? Seremos menos qualificados se formos serenos? Será que há um contágio no quesito velocidade também? Lembro-os que são donos de vossas atitudes. É aquele que se comanda. O “Sr de si”. Participante do “Livre arbítrio”.
A aceleração gasta mais oxigênio! Você precisa dele para raciocinar lucidamente!
Quando era criança e queria andar rápido para chegar logo a um determinado local, parecia que não conseguia, aí corria e mesmo assim o tempo gasto era maior do que quando andava calmamente pelo mesmo trajeto, mal sabia que ao correr enrijecia minha musculatura e o desempenho provavelmente era menor! Travava-me.
Relaxe e atue, de forma madura, você sempre sabe o que fazer, é profissional da área de atendimento, e não se esqueça que sempre do outro lado haverá uma pessoa! E “gente” gosta de atenção, segurança e dedicação! Para oferecer tudo isto você precisa estar em bom estado emocional, equilibrado e não acelerado. Antenado e não desesperado!
Votos de realização para todos no exercício de suas atividades.
Floriza Costa é consultora sócia da Everest de RH para call center em Curitiba.