Autor: Eliana Dutra
Uma questão está tomando conta do mercado, as pessoas estão dizendo que os executivos têm prazo de validade, mas como é que isto acontece? Gente tem prazo de validade igual a iogurte? Vamos ver como isto ocorre.
O executivo é contratado pela organização ou é promovido e rapidamente diagnostica as lacunas e oportunidades. Baseando-se em seus talentos, suas competências e experiências anteriores ele cria estratégias para o crescimento da organização aproveitando as oportunidades e planos que resolvam os problemas.
Depois vem a execução, nem todos conseguem sucesso nesta fase e ficam com o prazo vencido antes mesmo de tê-lo estabelecido. Mas considerando que sejam competentes na execução, conseguindo chegar ao topo em cinco ou dez anos, este se torna o momento crítico na carreira dos executivos.
Como declarou um presidente que recentemente se demitiu: “Uma vez no alto me pergunto: há mais alguma coisa que eu possa fazer aqui? Não? Então, tchau”. Este inteligente executivo quando vê que seu prazo de validade vai vencer , se despede. Mas porque ele não vê mais nada para fazer ali?
Três possíveis porquês:
Primeiro, ele chegou àquela posição por causa de uma determinada estratégia de sucesso, esta tem a tendência a se tornar um hábito e mudar a estratégia pode ser desconfortável, já que mudar um hábito sempre o é. Então ele acha mais fácil mudar de empresa e começar tudo de novo.
Segundo, ele não consegue mais ver oportunidades e lacunas porque foi ele que construiu aquela empresa do jeito que ela está. O ditado já diz, é fácil ser engenheiro de obra feita. Certo, muito mais difícil é criticar a própria obra. Para não ter que assumir que sua obra não é perfeita (não estou falando de pequenos ajustes, mas de uma mudança realmente estratégica) ele entra em estado de negação e não vê o que mais se poderia fazer ali. Outro executivo, como não está “preso a obra realizada” consegue ver o que ele não vê.
Terceiro, ele percebe a necessidade de mudança, mas percebe também que não tem a competência para realizá-la e não sabe como aprendê-la. Por exemplo, a organização esta num estágio em que o crescimento depende de fusões e aquisições, como ele nunca fez isto, não sabe nem por onde começar e algumas vezes tem medo de começar e falhar.
Resumindo, o prazo de validade se estabelece ou porque ele precisa mudar de estratégias e não quer, pois já fez o que sabe e tem dificuldade em aprender truques novos. Ou porque ele precisa mudar de ponto de vista, de perspectiva, para descobrir uma “virada” na própria obra e não quer, então não sabe o que mais tem que aprender. Ou ainda porque ele sabe que não sabe, mas tem medo ou não tem talento para aprender aquilo. Em todos estes casos o coaching pode apoiá-lo para que ele se reinvente sem ter a necessidade de arranjar um novo emprego. Preferencialmente é melhor que o coach escolhido nunca tenha sido presidente de uma empresa, pois um ex-presidente ficará tentado a ensinar a sua estratégia de sucesso – muitas vezes já ultrapassada – como a melhor em vez de apoiar o atual presidente para que este descubra como usar seus talentos de forma ainda melhor.
Porém, existem pelo menos duas outras razões para ter o prazo de validade vencido, onde o coach pouco pode ajudar, são elas: a organização tem como política a troca de posto periódica de todo executivo bem sucedido para evitar acomodação e isto exigiria dele uma mudança que não deseja. A segunda é o executivo que tem tido tanto sucesso que se convenceu que pode tudo e para de ter uma habilidade. Nestas situações ele está como o sapo na panela. A água vai ficando quente e ele não nota até que a fervura o queima. Neste caso o coach pouco pode fazer, pois em geral quando é chamado já é tarde demais.
Eliana Dutra é diretora executiva da Pro-Fit e vice presidente da International Coach Federation – Brazil Chapter.