Individualidade evolutiva

Autor: Luiz Roberto Fava
Cada indivíduo, através do seu livre arbítrio, tem o poder de escolher entre ser apenas um coadjuvante ou ser o protagonista, o artista principal de sua própria vida. Mas de que adianta todo este esforço, todo este investimento em seu autoconhecimento, se as empresas continuarem a ser responsáveis pela infelicidade que acomete seus colaboradores?
Pesquisas indicam que a insatisfação profissional é muito alta, variando de 55% a 76%, sendo que esta última porcentagem foi verificada através de um estudo realizado pela ISMA, no Brasil, com pessoas entre 25 e 60 anos de idade.
E qual seria o papel das empresas, através de seus gestores, em minimizar este quadro?
Elaine Pelegrini Ranieri, em seu texto Incluir para inovar, diz que a palavra “incluir”, na linguagem corporativa, significa “oferecer condições apropriadas para que a pessoa consiga executar suas tarefas individuais da melhor maneira possível, independentemente das suas limitações e características”. Isso significa que o gestor deve entender que cada um dos seus liderados é um Ser Humano único, indivisível, daí um indivíduo e seus derivados, individual e individualidade. E se isso é um fato indiscutível, por que muitos gestores insistem em um tipo de gestão onde todos são tratados de uma mesma forma?
Comportamentos “massificados” de gestores, onde a individualidade de cada um não é reconhecida é, sem dúvida, uma das causas onde os indivíduos se “demitem do gestor” e não da empresa. Uma gestão mais moderna, mais atual, tem que ser inovadora também neste aspecto. Não adianta criar “programas de felicidade” se não houver inovação, principalmente em como perceber e tratar cada colaborador de forma individualizada.
Uma análise da evolução de como os colaboradores eram e são percebidos mostra que, ao longo do tempo, tem havido mudanças. Do departamento do pessoal para recursos humanos, gestão de talentos, gestão de pessoas, é visível a maneira como isto vem sendo aprimorado. Mas não adianta as empresas usarem o jargão “as pessoas são o nosso principal patrimônio” se elas continuarem a ver seus colaboradores apenas como “pessoas”.
Aliás, convém lembrar que, durante nosso viver, assumimos uma série de papéis como pai, amigo, vizinho, namorado, etc. E que para cada um deles, existe uma “máscara”. Mas, acima de tudo, nós exercemos estes diferentes papéis sem perder nossa individualidade. Este fato infelizmente mostra que algumas pessoas se identificam tanto com a sua “máscara” (papel) profissional, que acabam adotando o cargo e o nome da empresa como o seu nome e sobrenome. Certamente você conhece alguém que se apresenta como “O diretor de marketing da empresa X”. E você fica sem saber quais são os seus nome e sobrenome. Por isso, volto a reafirmar. Mesmo atrás de uma “máscara” profissional, existe um indivíduo, com todas as suas características que lhe são peculiares, como procuro demonstrar abaixo.
Quem sabe não está chegando a hora de mais uma inovação: trocar o nome gestão de pessoas ou gestão de talentos para “gestão de indivíduos”? Talvez a mudança do nome acabe gerando também uma mudança da visão da gestão, visto que “gestão de indivíduos” transmite e ideia real de que, pelo fato de sermos todos diferentes, os gestores terão que saber lidar com as diferenças individuais (crenças, cultura, opção sexual, raça, credo, etc.), respeitando-as e aprendendo a conviver com elas.
Essa mudança de postura, onde o colaborador terá as condições ideais para exercer suas atividades, também poderá facilitar um dos maiores “pesadelos” dos gestores: a retenção dos colaboradores. Um colaborador que se sinta “incluído” neste tipo de cultura, certamente se sentirá mais engajado, valorizado e reconhecido, o que só fará a empresa crescer, ter maiores lucros e, quem sabe, se tornar uma das melhores empresas para se trabalhar.
Empresas inovadoras na gestão de indivíduos certamente serão aquelas onde o trabalho se ajustará à maneira de ser do colaborador e não fazer com que o colaborador ajuste a sua vida ao trabalho requerido. Ninguém será mais escravo de ninguém e todos sairão ganhando. E, sem dúvida, isto proporcionará ao colaborador um maior senso de liberdade e autonomia, dois combustíveis essenciais que o farão aumentar sua performance, torná-lo mais feliz e permanecer na empresa. Com isto é fácil deduzir que os índices de absenteísmo e presenteísmo serão diminuídos, assim como os da rotatividade.
O poeta persa Sa’di disse: “se o mergulhador se preocupa apenas com o tubarão, jamais colocará as mãos na pérola”. Se este “tubarão” estiver constantemente em nossas mentes, jamais conseguiremos “mergulhar” em direção a um novo futuro. Espero, sinceramente, que gestores e empresas, já neste início de 2015, matem estes “tubarões” e propiciem a os seus colaboradores condições para que eles “botem as mãos na pérola”.
Luiz Roberto Fava é cirurgião dentista.

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