Já sofreu a Síndrome da Cinderela?

Autora: Melissa Campos

Em anos como profissional de desenvolvimento humano e docência para gestão de equipes, olho ao meu redor e me deparo com um cenário lastimável. Empresas que precisam alcançar resultados cheias de profissionais ávidos por manterem seus empregos em um cenário incerto de economia e política.

Vejo um processo que há anos ocorre e para o qual cultivava a esperança de que um dia mudaria, mas não tenho percebido mudança, só agravamento. Empresas incongruentes entre o discurso e a prática. Se dizem socialmente responsáveis, apoiam diversas causas sociais, no entanto não se atentam à uma causa essencialmente social e que está sob seu total domínio. O preparo dos líderes para lidarem consigo mesmos e com as pessoas que estão abaixo deles. Olhar o profissional de forma integral, como um indivíduo, que está inserido em uma sociedade e que toda e qualquer ação do mesmo, frente a si e ao outro se reflete na sociedade.
Um dia conversando com um jovem, líder do setor de call center, fiquei alarmada. Ele me relatou em um rápido café, que tinha vontade de se matar, isto mesmo, assim com essa frieza. Calmamente o indaguei sobre esse comentário e ele me disse que trabalhava na empresa a um tempo como operador de telemarketing, sempre superava as metas e era feliz. Então um dia chegou ao trabalho e foi chamado para uma conversa com o coordenador do projeto do qual tanto tinha orgulho em fazer parte.  Foi aí que sua vida mudou! Recebeu o “convite” (comunicado, a seu ver) de que seria um supervisor de 30 pessoas, afinal ele era o melhor de todos, com resultados excepcionais. Todo um discurso que falsamente justificaria sua nova fase profissional.
Aos olhos de quem está fora do contexto, pode parecer uma super oportunidade, porém não foi bem assim. Ninguém o acompanhou para saber se ele queria esse desafio, ninguém o preparou para que um dia pudesse realizar essa tarefa, ninguém se atentou ao fato de que ele não tinha perfil de liderança. Ele só era mais um jovem que trabalhava para pagar os estudos e ajudar com as despesas da casa dos pais.
Acontece que ele, lógico, “aceitou”, pois sentia receio de ser demitido. Passou a acompanhar outros supervisores para aprender as tarefas e o seu coordenador nunca mais sentou com ele para orientá-lo, dar feedback, enfim desenvolvê-lo. Obvio que o resultado, ao longo do tempo, não poderia ser nada bom. Mesmo com muita boa vontade, ninguém nasce supervisor, e os sintomas começaram a aparecer. Seus indicadores começaram a não serem alcançados, alto turn over de operadores, desmotivação, enfim… Então, segundo ele, o coordenador começou a observá-lo, chamá-lo para conversar e pressioná-lo. O subestimava na frente dos demais, o expunha, pois não conseguia atingir as metas, não conversava com ele, cobrava excessivamente os relatórios e apontava os erros, mas não dizia o que precisava ser feito para melhorar. Um caos!
Mais um gole de café e ele prosseguiu em nossa conversa: “Saio do trabalho todos os dias desnorteado, pois preciso do emprego. No entanto, um dia, foi tamanho o desespero que, conversando com cara lá da vila onde moro, ele me deu um bagulho que me ajudou a esquecer um pouco dos problemas. Foi um alívio”.
Conversei mais um pouco, sugeri que pedisse ajuda e vim para meu escritório.  Fico aqui com minhas reflexões. Será que as organizações se dão conta do impacto social que o “não preparo” dos líderes têm sobre as pessoas? Como queremos melhor performance e boas empresas para se trabalhar, se não olhamos com atenção para essa questão social tão relevante?
Você deve estar pensando, que este é um caso isolado, dentro de um setor específico. Afirmo com todas as letras que não. Vejo executivos tomando antidepressivos e se ausentando de suas famílias, maridos brigando com suas esposas, além de filhos que não têm mais seus pais, que, estressados e desequilibradas, emocionalmente não vêm a hora das crianças irem dormir e não aproveitam suas presenças.
Mas transferir a responsabilidade para as empresas é fácil. O difícil é cada um tomar para si este exemplo e pensar quais atitudes toma no dia a dia com seu liderado que te torna um líder mais responsável? Eu estou próximo? Eu conheço a dinâmica da minha equipe? Sei seus potenciais e os aproveito da melhor forma possível? Sou um líder educador?
Pense no fim de semana o que você pode fazer para impactar positivamente a vida das pessoas que passam a maior parte do tempo de suas vidas com você ou focado em você.
Boas práticas!
Melissa Campos é consultora da MCampos Consultoria, palestrante e docente para temas de liderança responsável e gestão de equipes, além de fundadora da Escola de Tomada de Decisões.

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