Jovens ainda sofrem assédio moral nas empresas

Ao ingressar no mercado de trabalho, a expectativa é sempre a melhor. A grande possibilidade de desenvolvimento e evolução na carreira motivam o colaborador e impulsionam sua produtividade. No entanto, por vezes, essa satisfação pode ser interrompida por um problema antigo, porém presente no mundo corporativo: o abuso de poder. Diante dessa realidade, o Nube – Núcleo Brasileiro de Estágios quis saber: “você já sofreu assédio moral em sua empresa?”. O resultado apontou a preocupação com o tema. O estudo foi realizado em todo o Brasil, entre 20 de fevereiro e 3 de março, e contou com a participação de 15.272 jovens, com faixa etária de 15 a 26 anos. Dentre as quatro opções de resposta, 65,83% ou 10.053 indivíduos afirmaram: “não, fui sempre respeitado (a)”. Outros 8,45% (1.291) foram pela mesma linha e asseguraram: “não, eu sempre me imponho perante meus gestores”.
Para Lucas Fernandes, analista de treinamento do Nube, a relação de respeito entre funcionários é tão importante quanto seus conhecimentos técnicos, formação acadêmica ou experiência de trabalho. “Sem a consideração mútua entre as partes, nenhum projeto se consolida, as metas não são alcançadas e os colaboradores vão aos poucos se desestimulando”, enfatiza. Além disso, cria-se uma cultura individualista e competitiva, fator responsável por aflorar abusos dos mais variados tipos. De acordo com o analista, é dever da organização cultivar um ambiente sadio. “Deve-se garantir, além de boas condições de saúde física e segurança, atenção às diversidades de gênero, idade, religiosidade, orientação sexual e condição financeira”, explica.
No caminho oposto à orientação de Fernandes, 25,72% mostram despreparo por parte de diversas corporações, pois já passaram por esse tipo de constrangimento. Desses, 13,84% (2.114 voltantes) revelaram: “fiquei calado para não perder o emprego/estágio” e outros 11,88% (1.814) lamentaram: “isso me deixou muito mal”.
Apesar de o mundo corporativo estar em constante transformação e, diariamente, ceder espaço a um olhar humano, o mal-estar ainda acontece com muita frequência. “Por se tratar de um conceito muito subjetivo do ponto de vista legal, uma grande parcela é vítima e não tem capacidade de perceber o ato ou se impor”, garante. Por isso, quanto mais o assunto for debatido e maior for a compreensão sobre ele, mais ferramentas aparecerão para identificar e combater essa prática.
O assédio moral pode ocorrer de diversas formas e em todas elas há em comum a sensação de terror e angústia por parte da vítima. “Algumas ocasiões mais comuns são: interromper a comunicação com o colaborador, solicitar tarefas impossíveis de serem concluídas, isolar o funcionário ou deixá-lo sem atividades, ameaçar demiti-lo, humilhar, inferiorizar ou fazer comentários maldosos”, esclarece o especialista.
Para quem está começando sua vida profissional, é preciso ter ciência de sua posição na empresa, a de um profissional apto a prestar os seus serviços, assim como qualquer outro. “Veja a si mesmo como um adulto maduro e responsável, se posicione em casos de violência e, caso presencie alguma cena, não se omita e dê apoio ao próximo”, incentiva. Somente com união é possível mudar a cultura de um empreendimento ou corrigir um acontecimento isolado pensado no bem de todos.
Já para os gestores, a dica é não confundir sua autoridade e reconhecer o time. “Parabenize sua equipe, motive o grupo frente a novos desafios, saiba lidar com a frustração de outras pessoas. Não confunda medo com respeito e nem desmereça qualquer integrante da organização. Todos estão ali por seu merecimento e capacidade de somar às tarefas”, finaliza Fernandes.

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