Na contramão: RH não deve ser estratégico

Autora: Luciana Machado
Posso deixar muitos colegas de profissão atônitos. Calma, eu reforço e explico o conceito. Primeiro, vamos ao significado da palavra “estratégia”. Ela vem do grego stratègós e designava o comandante militar. Com tempo, assumiu o sentido de habilidades de gestão, com nuances de administração, liderança e oratória. Já segundo Henry Mintzberg, é a forma de pensar no futuro, integrada ao processo decisório, com base em um procedimento formalizado e articulador de resultados.
Nas empresas, percebemos, hoje, que estratégia refere-se ao desafio de alinhar os planos da alta administração com o operacional para alcançar resultados consistentes com a missão e objetivos gerais da companhia. O RH deve pensar e entender o negócio e auxiliar a alcançar as metas e a visão da empresa. Para isso, tem de estar pautado por análises, indicadores, assertividade e visão sistêmica. Assim, o RH não deve ser detentor da estratégia ou ser estratégico, ele deve fazer parte da estrada que leva à concretização de objetivos.
Toda empresa ou instituição precisa de resultados. São os colaboradores que fazem a engrenagem funcionar e a gestão é primordial para isso. O que complica é que, muitas vezes, há gestores que não foram ou não estão preparados para atuar na condução de pessoas, mas são excelentes na técnica. Essa é uma questão deve ser trabalhada pelo próprio RH, como viabilizador e capacitador da gestão. E se uma empresa planeja expandir, é necessário que o RH também esteja alinhado com o business plan. Uma projeção de crescimento acelerado deve ser suportado por pessoas, tecnologias e processos.
Minha opinião sobre RH ser ou não estratégico não era tão taxativa, mas a experiência trouxe outra percepção. Há quatro anos, aceitei o desafio de transformar uma área de DP em um dos pilares de concretização da estratégia de uma empresa que tinha claramente o objetivo de ser referência em tamanho, faturamento e serviço.
Saímos de 250 a 2.050 colaboradores em quatro anos, tivemos crescimento anual de cerca de 130%, inauguramos operação em dois novos países e, no Brasil, passamos de duas para cinco plantas em dois anos. O RH não determinou essa estratégia, mas foi fundamental para saber os desafios e propor soluções.
Não há mistério. O RH não é estratégico, e sim um dos pilares que permite a concretização da estratégia. Detalhe sutil que faz toda a diferença. É a empresa quem dá voz ao RH e o envolve no planejamento, na construção das metas e objetivos.
Sempre me questiono como uma empresa pode se planejar ou construir seu caminho sem envolver quem cuida de pessoas. E longe de mim dar uma ênfase romântica a essa questão. A ideia aqui é assertividade e engajamento para o alcance de resultados sustentáveis. E como tudo tem seu “preço”, a contrapartida é respirar o negócio, ter o espirito desbravador, inovar e estar inserido. Tudo isso demanda esforços e uma dedicação diferenciada. Mas que garanto: valem a pena.
Luciana Machado é head de recursos humanos da Netshoes.

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