Autora: Ana Motta
Assumir um cargo de liderança, tomar a palavra em reuniões, viajar a trabalho, enfim, alcançar o sucesso profissional é o desejo de muitos, certo? Infelizmente, nem todos pensam assim. E, de maneira surpreendente, a maioria são mulheres. Um cenário que é preciso mudar.
Exemplo disso é a pesquisa realizada por professores americanos com 261 alunos de MBA e publicada na Havard Business Review. Na ocasião, foi perguntado se, em sua experiência de trabalho anterior, eles tinham evitado certas ações que pensavam que ajudariam suas carreiras porque não quererem parecer ambiciosos, assertivos ou agressivos demais. Para ter ideia, 64% das mulheres solteiras disseram que tinham evitado pedir um aumento ou uma promoção por esse motivo, em comparação com 39% das mulheres que eram casadas ou estavam em um relacionamento sério.
Ainda segundo o levantamento, mais da metade das mulheres solteiras relataram que evitavam falar em reuniões. Esse tipo de comportamento delas ocorre provavelmente pelas preocupações com o mercado de casamento. Sim, elas também querem se relacionar com alguém e temem que a sede de sucesso profissional seja vista de maneira negativa pelos homens. E mais uma vez elas se veem em uma encruzilhada aonde só é possível escolher um caminho. Quem disse que tem que ser assim? A boa ambição profissional não pode limitar ou excluir os sonhos pessoais. É preciso equilíbrio, mas, para isso, é necessário desenvolver o autoconhecimento.
No meu caso, por exemplo, foi a maternidade que deu início a esse processo, pois me trouxe reflexões que culminaram num propósito de ser agente direto na transformação de uma sociedade melhor. Executiva de RH, workaholic, era focada em resultados, vendo na frente apenas metas. Uma pessoa/profissional que só vivia para trabalho e com suas avaliações recheadas de “recompensas”. Assim, com as mudanças de Estado e os convites para novos desafios profissionais, fui adiando um sonho antigo e totalmente esquecido por anos pela carreira em ascendência.
Eu era a típica pessoa que todos costumavam dizer: ELA FAZ ACONTECER. Pois é, FAZER e TER, mas e o SER onde estava? Ahhhh….não importava! Eu simplesmente FAZIA E TINHA….mas, o quê, com quem, para quem? Na verdade eu não sabia, pois não dava prioridade para me conhecer, identificar meus valores, meus talentos do que realmente me completavam como um ser INTEGRAL. Quando em 2010 realizei meu desejo de ser mãe, muita coisa começou a borbulhar dentro de mim. Algumas coisas me pareciam não mais ter lógica. Eu agora queria sentido para minha vida e para a do “serzinho” que tinha acabado de colocar no mundo.
Em 2011, fiz meu primeiro movimento de carreira ainda sem saber direito como fazer. Achei que ia ser muito fácil, mas talvez por não me encontrar totalmente preparada para esta virada e com dificuldade ainda de me desapegar de alguns “vícios” com os quais o mundo corporativo nos seduz e sem consciência de quem eu queria SER, acabei cedendo aos encantos corporativos. Algum tempo depois comecei a perceber um grande desequilíbrio entre minha vida pessoal e profissional. Obviamente, ali novamente me questionei e passei por momentos de reflexão e mudanças do status quo, mesmo que a passos lentos.
As seduções corporativas são, mal comparando, como uma droga que você diz que não depende dela e quando quiser para. Isto é um engano. É muito difícil mudar, pois o mundo é superficial, capitalista e elitista. Há de se ter muita coragem e autoconhecimento para nos tornarmos protagonistas de nossas vidas. E foi justamente depois de um período difícil, com visitas constantes a médicos, que tomei a decisão de que não faria mais parte deste campo de cegueiras e parti em busca do meu EU. Olhei para dentro de mim e busquei a minha essência que estava lá, totalmente submersa por tantos anos, como um iceberg.
É fabuloso perceber neste processo o que queremos ser e aí sim partir para a ação. E elas tomam uma força imensa, o universo conspira a favor, trazendo maior eficiência e sustentação para o alcance de nossas metas, alavancando nossos resultados.
A cada dia tenho a certeza de que meus talentos, conhecimentos técnicos, habilidades desenvolvidas no decorrer de minha carreira profissional como executiva de RH, além da própria experiência de vida, buscas pelo autoconhecimento e novos saberes estão sendo utilizados por mim como fontes inspiradoras e de estímulo para a busca constante do que eu descobri como sucesso: profissionais e organizações em seus processos de mudanças transformadoras, alinhadas com os propósitos de vida.
Ana Motta é coaching de carreira e vida, consultora em desenvolvimento humano e membro do Grupo Nikaia.