Edson Gil
Sempre se deve ter muito cuidado ao recomendar a uma pessoa as palavras sempre e nunca. As pessoas tendem a fechar questões inteiras com base naquilo que assumem como verdadeiro e costumam descartar todo o resto. Foi assim com a reengenharia e com outras tantas formas “novas” de gerenciar um negócio.
Mas nenhuma delas causa mais reserva quanto a palavra mudança, tão em moda atualmente. Palestrantes renomados usam indiscriminadamente a palavra como regra absoluta e obrigatória ao mundo moderno, provocando caras de assombro de uma platéia atenta as apresentações.
De acordo com a maioria dos dicionários (e aqui me refiro aos bons dicionários de língua portuguesa) a palavra mudança significa alterar, trocar, tornar-se diferente. E com isso um sem número de empresas começou uma corrida desenfreada para mudar. Algumas preocuparam-se em mudar os processos seja por meio da mecanização ou automação, outras inverteram as formas de fazer negócios, comprar ou vender, e mais ainda outras desencadearam toda uma revolução nos quadros de pessoal buscando uma renovação e/ou retenção de talentos. O problema é que em muitos casos as empresas não pensaram como efetivamente estas mudanças afetariam seus mundos, seus mercados ou sua vida no futuro.
Em nome da mudança o mundo moderno viu pessoas, empresas e nações vislumbrarem um eldorado inalcançável, pelo simples fato de terem mudado. E quebrarem a cara com isso. Deixaram de executar aquilo que efetivamente eram as suas competências essenciais para entrar em mercados tidos como mais promissores. Deixaram sair pelas suas portas pessoas que ajudaram a construir todo o presente em nome de um futuro incerto de glórias e fama. Deixaram que os concorrentes, ansiosos pelos seus mercados se posicionassem efetivamente usando a sua mão de obra altamente especializada e conhecedora de suas falhas e virtuoses, em nome de um pseudo-sucesso.
Esqueceram que cada mudança deve ser efetivamente planejada em busca de outra coisa: a evolução. Esta sim, vale a pena fazer. Por definição, temos que evolução é uma transformação lenta e gradual de uma idéia ou um processo que todo organismo passa para alcançar um estagio superior ao que era antes. Ou seja, evoluir é crescer. È melhor que mudar, muito melhor. E para isso, é essencial termos algum tipo de planejamento focado no resultado esperado. Enquanto a mudança ocorre de forma brusca ou desordenada, a evolução é gradual e acompanhada de forma estratégica através de referências específicas.
A principal base para estas referências é a informação que por si, força o gestor a olhar para dentro da organização e para as pessoas buscando ver o que pode ser feito para atingir os resultados, seja vislumbrando oportunidades ou corrigindo prováveis falhas.
E assim, ao invés de ficar se questionando, deslumbrado, se este ou aquele conceito deve ser aplicado na empresa, primeiro procure saber se realmente a empresa precisa dele e quanto será vantajosa essa mudança. E mais, como transformar essa mudança em desenvolvimento. Isso é evolução.
É a capacidade de questionar, de rever, de planejar, de desenvolver todo um sistema de forma progressiva, buscando na solução dos problemas os fatores de competitividade imprescindíveis nos dias atuais e não apenas varrendo toda a situação que a empresa vive para debaixo do tapete da mudança.
E a mudança, se for necessária, deve buscar obter o completo alinhamento dos objetivos estratégicos, da missão da empresa e as necessidades de seus grupos de stakeholders, para que possa estabelecer uma competência, nova ou reformulada, mas que pode se transformar em essencial para o desempenho estratégico.
Edson Gil é diretor técnico do Núcleo de Pesquisa em Estratégia do IBPF.