Contratar um profissional que, além de atender aos requisitos de competência inerentes ao cargo a ser preenchido, esteja plenamente motivado, é uma das tarefas mais complexas exercidas por quem ocupa cargo de liderança. Um exemplo é o número de contratações e promoções que acabam frustrando as expectativas de ambos os lados, comprometendo o desempenho de uma área ou até de toda a empresa. E a ‘desmotivação’ é sempre uma das principais causas do problema.
Para poder entender melhor essa situação é necessário inicialmente conceituar as duas formas de motivação. A externa ou extrínseca, que vem de fora para dentro e representa o ‘mundo do desejo’, tem como algumas de suas características: “forte suscetibilidade a fatores externos, não controláveis; o comportamento humano pode ser planejado, modelado ou mudado por meio da utilização de recompensas ou punições; não sustentável no longo prazo”. O melhor exemplo prático é quando trabalhamos única e exclusivamente pelo dinheiro, não nos importando se o trabalho é agradável ou não. Infelizmente, devido às fortes pressões do mundo corporativo de hoje, é uma situação bastante comum.
Já a motivação interna ou intrínseca vem de dentro para fora e representa o ‘mundo da vontade’. Pode ser melhor caracterizada como sendo a força interior de cada pessoa que a impulsiona a ação. Dentro deste conceito, uma pessoa não consegue jamais motivar alguém: o que ela pode fazer é estimular a outra pessoa a buscar atender suas necessidades. Portanto, a probabilidade de que uma pessoa siga uma orientação de ação desejável está diretamente ligada à eliminação de suas ansiedades internas. Como afirmou Frederick Herzberg, autor da Teoria dos Dois Fatores, que aborda a situação de motivação e satisfação das pessoas: “Motivação implica fazer aquilo que é muito significativo para mim.” É o querer fazer. É a personalidade de cada um vibrando quando está alinhada com as tarefas que vai executar. Podemos entender mais facilmente essa colocação quando pensamos em traços vocacionais. Se o nosso perfil está direcionado ao raciocínio lógico, não será adequado buscar atividades onde a imaginação e o improviso sejam requeridos?
Considerando, então, a necessidade de estimularmos as pessoas no trabalho para que alinhem os seus desejos internos com as tarefas que executam, eliminando assim suas tensões internas, o líder passa a ter um papel decisivo para que isso aconteça. Ele deve usar a emoção para inspirar as pessoas, liberar a energia e assim soltar a sua motivação de dentro para fora. Cabe aos líderes serem os grandes estimuladores da motivação intrínseca no ambiente de trabalho.
Nos tempos atuais há um constante conflito entre as duas formas de motivação. Seduzidos pelos salários e benefícios e de olho na rápida ascensão profissional (motivação externa), ou mesmo por falta de alternativas no mercado de trabalho, os executivos acabam aceitando atividades pouco desafiadoras e muitas vezes que nada tem a ver com os seus traços motivacionais, relacionados à motivação interna, a sua personalidade. Some-se a isso o próprio despreparo dos líderes em avaliar esse tipo de situação, que foge a simples avaliação das competências técnicas dos membros de sua equipe.
Quando analisamos a somatória destes fatores, fica fácil concluir a necessidade de uma combinação equilibrada de liderança e gestão. Estes líderes-gestores também devem alinhar suas motivações intrínsecas com os desafios profissionais, pois cada vez mais serão obrigados a trabalhar com uma lógica cristalina aliada a uma intuição poderosa.
Nas organizações do século 21 o homem quer saber para quê, para quem, com quem e porque ele trabalha. Por isso, é necessário não só mudar pessoas, mas também caminhar para uma cultura organizacional de um todo. Cada vez mais, ao agirmos localmente, precisamos pensar globalmente. A interculturalidade e interdisciplinaridade irão moldar os novos líderes. Estes, com as novas habilidades desenvolvidas, terão melhores condições de estimular seus liderados a liberarem e canalizarem sua energia interna para as atividades que realmente gostam. Talvez esta seja a nova atitude, neste ano de 2007, que fará a diferença nas empresas.
Dieter Kelber é pesquisador, consultor e diretor-executivo do Insadi (Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual) e da Business Processes School. ([email protected])